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Livraria que quase virou disk-pizza reabre reunindo editoras capixabas

Trazendo uma grande oferta de produções literárias de editoras alternativas, a Livraria Dom Quixote fechou as portas recentemente na Praia do Canto. O destino do espaço, na Avenida Rio Branco, tendia a ser a ocupado por um serviço de disk pizza. Mas, numa missão quixotesca, uma parceria entre o escritor Saulo Ribeiro, a barista Natielly Nobre e o fotógrafo Vitor Nogueira manteve o lugar como um espaço para café e cultura.

Natielly atua como barista, Saulo coordena a pequena livraria com obras da editora Cousa e parceiras, e Vitor contribui com a curadoria de uma micro galeria nas paredes internas do local. Assim se configura a Jalan Jalan, que abriu as portas nesta terça-feira de modo experimental e já conta com uma programação cultural especial para as próximas semanas.

O funcionamento é de terça-feira a sábado, de 15h às 21h. “Esse modelo de café e arte foi a forma viável que encontramos para manter espaços culturais. Sem poder público, sem políticas para o livro, a literatura, as artes, somos obrigados a nos mover para garantir esses espaços”. Saulo até inventou o irônico nome de Insensatez Participações para definir as parcerias que fazem possível a manutenção desses locais que considera que possuem lucratividade insatisfatória, porém conseguem manter vivos lugares de encontro cultural na cidade.

 

Foto: Vitor Taveira

Quase como um tributo à proposta da antiga livraria de curta existência que ocupou o espaço, os novos sócios realizam na próxima terça-feira (27), às 18h,  a Feira de Papel, reunindo quatro editoras capixabas disponibilizando cerca de 150 livros a preços especiais num mesmo espaço. “Abrimos para dar continuidade ao trabalho que a Dom Quixote tinha de apoio a editoras independentes e trouxemos isso para a cena local, para mostrar a cara das editoras daqui”, diz Saulo Ribeiro, da editora Cousa. À ela se somam a Pedregulho, Cândida Editora e a nova Editora Maré, com a proposta de colocar as editoras cara a cara com o leitor. A ideia é realizar A Feira de Papel mensalmente de forma itinerante, ocupando diversos espaços ligados à cultura. 

Antes da feira, porém, no próximo sábado (24), às 16h, o local realiza o evento “Um brinde à Peter Fonda”, homenagem ao ator que faleceu na última sexta-feira (16). Os convidados são o cineasta Alexandre Serafini, especializado em road-movies, e o escritor Caê Guimarães, que em suas obras traz personagens inspirados nas atuações do lendário ator estadunidense. Com a atividade, seguem a sugestão da própria família Fonda, publicada em uma nota informando o falecimento de Peter por insuficiência respiratória devido a um câncer de pulmão: “(…) enquanto lamentamos a perda deste homem doce e gracioso, também desejamos que todos celebrem seu espírito indomável e amor à vida. Em homenagem a Peter, por favor, faça um brinde pela liberdade”.

A quem estiver se perguntando o que significa e de onde vem o nome da livraria-cafeteria-galeria, a explicação está na obra do escritor português Afonso Cruz, cujo seguinte trecho está escrito na lateral de um freezer no local:  “Jalan significa rua em indonésio. Também significa andar. Jalan Jalan, a repetição da palavra, que muitas vezes forma o plural, significa, neste caso, passear. Passear é andar duas vezes. Passear é o que fazemos para não chegar a um destino, não se mede pela distância nem pela técnica de colocar um pé à frente do outro, mas sim pelo modo como a paisagem nos comoveu ou como o voo de um pássaro nos tocou. É um pouco como a arte, tem o valor imenso de tudo aquilo que não tem valor nenhum. Pode não ter razão, destino, objectivo, utilidade, e é exatamente aí que reside a riqueza do passeio”.

Pois parece que nem tudo no Brasil termina em (disk)pizza. A arte persiste, tão inútil como fundamental. Nada contra as pizzarias ou entregas em domicílio. Não faltam Ifoods e Uber Eats por aí. Mas com a pança cheia, quem vai alimentar nossa alma?

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