O ritmo de produção de Elisa Lucinda é frenético. Poetisa, escritora, atriz, cantora, está sempre produzindo e criando novas possibilidades. Apesar do notável talento nas letras, especialmente na poesia, seu primeiro romance saiu apenas em 2014. Mas foi a partir dele que já veio a segunda obra, Livro do Avesso: o pensamento de Edite, que será lançado no próximo sábado (31), às 18h, em seu estado natal. O local é o Trapiche Gamão, no Centro de Vitória, contando com leituras e um bate-papo com a autora, mediado pelo secretário de Estado da Cultura, Fabricio Noronha.
O Livro do Avesso surgiu justamente enquanto escrevia seu primeiro romance, Fernando Pessoa: Cavaleiro de Nada, em que mergulha na vida e obra do poeta português, ao mesmo tempo em que revisava outro livro. A imersão na primeira obra e a pressão pela entrega da outra criou um desassossego no peito da artista. Era preciso extravasar. Assim nasceu Edite. “Comecei a fazer umas anotações de um modo quase escondido de mim. Ninguém podia saber que eu estava escrevendo outra coisa além das encomendas já em curso; nem eu. Qualquer pensamento que passasse na minha cabeça e que fosse simples, livre, solto, eu comecei a anotar”, relatou Elisa. Essas anotações do avesso foram ganhando força e a escritora desenhou na obra uma mandala existencial com mais de 100 observações sobre sua personagem nascida de forma quase clandestina dentro de sua vida artística.
Além da mesma inicial e mesmo número de letras no nome, Edite e Elisa guardam outras semelhanças: mulheres, negras, que defendem a liberdade feminina. “A maioria das passagens teve seu nascedouro na realidade. Viraram ficção quando se tornaram literatura. Agora eu acredito até no que inventei. Acredito na Edite”, relata.
É na intimidade da personagem que o leitor está convidado a entrar, por meio de uma prosa poética de uma mulher que leva uma vida normal, entre cuidados com a casa e a beleza, mas diante de tantos dilemas da nossa sociedade, com seus preconceitos, tradições e imposições sociais e religiosas, que têm um peso especial sobre as mulheres negras. “Edite não é uma ativista, oficialmente falando. Seu discurso não é panfletário, ela não está num comício, todas as suas observações políticas são ditas de um ponto de vista muito íntimo e pessoal. Não têm grandes extensões teóricas. Edite não fica em silêncio. Edite é singela na sua compreensão do mundo e esse pra mim é o seu charme”, conta.
Com 156 páginas, o livro sai pela Editora Malê, criada em 2016 buscando valorizar escritores negros e ampliar a diversidade no mercado editorial do país, publicando tanto escritores consagrados como novos talentos da literatura brasileira.
AGENDA CULTURAL
Lançamento do Livro do Avesso: o pensamento de Edite, de Elisa Lucinda
Quando: Sábado, 31 de agosto, 18h
Onde: Trapiche Gamão – Rua Gama Rosa, 236 – Centro de Vitória/ES