Neste 29 de agosto acontece o Dia da Visibilidade Lésbica, tendo pelo segundo ano uma marcha realizada em Vitória, organizada pelo coletivo Santa Sapataria. A programação começa às 14h em frente ao Palácio Anchieta, tendo como primeira atividade a elaboração de cartazes e tambores de lata.
Fazer barulho é uma estratégia importante para ser enxergado. E a Batucada Sapatão é uma das estratégias do coletivo para as marchas, animando e chamando atenção para a causa. “A gente entende que esse movimento é fundamental porque somos mulheres lésbicas. E por sermos mulheres a nossa luta acaba sendo invisibilizada, entendendo que estamos dentro de um sistema que é machista, patriarcal e misógino. Então colocar nosso bloco na rua, provocar uma marcha pública, participar de eventos, conversar com outras pessoas é fundamental para que a gente se faça visível e que as pessoas entendam que a gente existe, que nossa luta é importante, que somos muitas e que estamos em vários lugares.Isso tem importância fundamental e política para a gente enquanto mulheres lésbicas”.
Foto: Thalia de Oliveira
É com latas e outros recipientes que seriam descartados que o grupo constrói coletivamente os instrumentos. O próprio fazer dos instrumentos, ensaios e preparativos para tocar, ajudam a integrar o coletivo e aglutinar outras mulheres, além de poder amplificar a mensagem. “É uma forma de dialogar com outros pessoas que não estão participando do movimento. Através das músicas e letras acreditamos que podemos alcançar muita gente”, diz Rovana Patrocinio, uma das integrantes.
Dentro dessa estratégia, a batucada faz bastante uso de paródias, trazendo melodias já conhecida pelo público, mas transformando as letras em temas que envolvam a luta das mulheres lésbicas por direitos, reconhecimento e fim do preconceito. Palavras de ordem usadas em outros lugares do Brasil também são trazidas. O ritmo do axé prevalece, mas também melodias do congo capixaba e de outros estilos musicais. “A ideia é fazer militância com alegria também”.
A Batucada Sapatão não é exatamente um projeto fixo do coletivo Santa Sapataria. Ela vai sendo organizada de acordo com os eventos que aparecem, seguindo as experiências de utilização das batucadas e da música por outros movimentos sociais. “A gente faz oficinas que antecedem a marcha, em que várias pessoas podem estar junto com a gente, levar materiais para a confecção dos instrumentos e depois utilizá-los na marcha, tocando todo mundo junto”, explica Rovana.
Ela entende que a luta por direitos não deve ser só das mulheres lésbicas. “Precisa passar por muita gente, por todo mundo. Nós já legitimamos nosso amor, outras pessoas é que não legitimam. O direito precisa ser garantido e a luta precisa ser feita por muita gente para que consigamos viver nossa vida de forma plena, sem violência”, diz, lembrando da violência cotidiana simbólica e física, como é o caso dos chamados “estupros corretivos”. “São vários tipos de violência que provocam mortes físicas mas também morte em vida, por isso precisamos de muita gente para lutar nesse momento”.
Foto: Thalia de Oliveira
O coletivo Santa Sapataria foi fundado em 2009 e possui cerca de 15 integrantes. Além de organizar marchas, reuniões, debates, o grupo também participa de conselhos municipais e estaduais relacionado com as mulheres e a população LGBTI+, contribuindo para o debate e formulação de políticas públicas. “Tentamos ocupar esses espaços de participação social porque a gente entende que são espaços importantíssimos para assegurar nossos direitos”, comenta a ativista.
Nesta quinta-feira, após as oficinas às 14h, a concentração para a Marcha da Visibilidade Lésbica tem início às 16h com performances, apresentação da Batucada Sapatão e microfone aberto. A batucada segue pelas ruas do Centro de Vitória junto com a marcha. Às 20h, o ato culmina no Museu Capixaba do Negro (Mucane) onde segue a programação do Festival Lacração, protagonizado por artistas LGBTI+.