A morte é uma tônica que aparece nos livros de Marília Carreiro e segue em sua mais nova obra, Lama, que será lançada na próxima quarta-feira (11), às 18h, na Kaffa Cafeteria, em Jardim da Penha, Vitória. A publicação reúne 20 contos curtos escritos pela autora entre 2014 e 2018.
A lama, curiosamente, pode ser vista como elemento de vida ou de morte, se pensarmos sua presença no mangue, grande berçário da vida aquática, ou se consideramos os crimes socioambientais recentes com o rompimento das barragens de rejeitos tóxicos, que em forma de lama encobriram povoados e destruíram vidas vegetais e animais.
É exatamente esse cenário pós-tragédia da lama de barragens em que se situa um dos contos, Ciência.
Fora Família, o mais longo (11 páginas) da escritora, que fecha o livro, a maioria dos contos de Lama são curtos, certeiros, trazendo algo de absurdo, de nonsense, de sadismo, e inspirando sentimentos que vão do humor ao medo e tensão, sentimentos associados com a morte, o tema articulador da obra, este grande mistério da vida com que geralmente não sabemos muito bem lidar.
“Quando estruturei o livro, pensei o Lama com todos os contos permeando a morte – tema que me interessa bastante. Todas as personagens, de alguma forma, buscam (e encontram) a morte, mesmo que somente simbolizada”, explica a escritora.
A situação do país no ano passado às vésperas da iminência da troca de governo, foram fermento para uma parte do contos. “Meu medo de entrar nesse lugar acaba me dando ideias para trabalhar dentro da ficção e do non-sense a política, pois o livro tem uma verve um pouco política”, declara.
A ferramenta do fantástico acaba sempre sendo uma boa arma para provocar uma crítica a um mundo real que por vezes nos parece bastante absurdo. A carta a um monstro, representando a figura da ditadura, remonta a um fantasma que volta a ameaçar o país. Contos contemporâneos, porém atemporais, que podem adquirir outros sentidos ou sensibilidades em outros momentos ou lugares.
Uma cachoeira misteriosa, uma restaurante a céu aberto, um povoado inóspito, um açougue, um parque urbano, são lugares permeados pela morte, seja ela física ou simbólica, presente ou pretérita. Uma pessoa querida de relacionamentos passados, uma religiosa fervorosa, uma família sustentada pela corrupção, uma atiradora de facas, ninguém está imune à ela, a morte.
“Esses contos para mim são muito sensíveis. Vendo todos os dias o que acontece, venho pensando a literatura como resistência, como uma forma de fazer que as pessoas pensem sobre isso. Foi um ponto decisivo para trabalhar temas que provoquem questionamento nos leitores sobre o funcionamento das coisas”, dia Marília, que coordena a Editora Pedregulho, uma das responsáveis pela publicação de diversos livros nos últimos anos no Espírito Santo.
AGENDA CULTURAL
Lançamento do livro Lama, de Maríria Carreiro
Quando: Quarta-feira, 11 de setembro, 18h
Onde: Kaffa Cafeteria – Rua Darcy Grijó, 50, Jardim da Penha – Vitória/ES
O livro será vendido por R$ 20,00.