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Licenciatura em Educação do Campo é reconhecido pelo MEC

O curso de Licenciatura em Educação do Campo (Ledoc) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) campus São Mateus, no norte do Estado, foi reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC), que concedeu a nota máxima, nota cinco, em sua avaliação. 

Criado em 2014, o curso já formou suas primeiras turmas e, seguindo procedimento de praxe no MEC, após essas primeiras formaturas, o curso passa pelo processo de reconhecimento federal. 

A comissão ministerial chegou ao campus no início de setembro. O processo inclui conversas com os alunos, com a coordenação e corpo docente e visitas nas instalações, incluindo bibliotecas e laboratórios. “Apesar dos cortes na Educação pelo governo federal, conseguimos essa vitória!”, comemora o professor Damian Sanchez. “Nós estávamos com receio, porque existe todo um desmonte dos cursos no País. E o curso de Educação do Campo é mais custoso, pois cuida da alimentação, hospedagem e transporte dos alunos que vêm do interior”, observa.

“Vai dar uma força e visibilidade maiores”, diz. “Aqui no norte o curso é muito importante, porque a economia é basicamente agrícola. Vai continuar possibilitando que assentados, pequenos agricultores, camponeses, quilombolas, ribeirinhos e pescadores possam se enxergar, se encontrar em um curso de graduação”, declara. 

Em São Mateus, o Ledoc funciona junto com o curso de Pedagogia, reconhecido em 2018, formando o Departamento de Educação e Ciências Humanas. E oferece duas habilitações: em Ciências Humanas e Sociais e em Ciências Naturais. 

A primeira turma formada, em julho de 2018, se autointitulou Margarida Alves, em homenagem à liderança camponesa Margarida Maria Alves, assassinada a mando de usineiros, em 1983, em Alagoa Grande (PB), e que também inspirou a realização da Marcha das Margaridas, que acontece desde 2000, a cada quatro anos, para que as mulheres do campo levem suas propostas e demandas ao governo federal, por meio de uma grande mobilização em Brasília.

Na última sexta-feira (20), uma nova turma colou grau, a Flavio Moreira, em homenagem a um professor de Linhares muito dedicado ao curso, e que faleceu em um acidente de trânsito. 

No campus de Goiabeiras, em Vitória, o curso oferece as habilitações em Ciências Humanas e Sociais e Linguagem. Criado na mesma época de São Mateus, ainda aguarda a comissão do MEC para o reconhecimento. 

Vestibular 

O próximo vestibular para o Ledoc, em São Mateus e Vitória, tem inscrições abertas até o dia seis de outubro, com provas no dia 30. São 169 vagas.

Atendendo à premissa de que o curso “destina-se à formação de professores com postura profissional ética pautada na responsabilidade social para com a construção de uma sociedade includente, justa e solidária”, metade das vagas é destinada a alunos egressos de escolas públicas durante todo o ensino médio – em cursos regulares ou de Educação de Jovens e Adultos (EJA) – ou que tenham obtido certificado de conclusão com base no resultado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (ENCCEJA) ou similares.

Dessa metade de vagas, 50% serão reservadas aos candidatos com renda familiar bruta igual ou inferior a 1,5 salário-mínimo per capita, havendo ainda reserva de percentuais específicos para candidatos autodeclarados pretos, pardos ou indígenas (PPI) e candidatos com deficiência, a partir de dados do último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A reserva de vagas PPI se aplica também às demais vagas, para candidatos com renda superior a 1,5 salário mínimo per capita.

A prova será aplicada no dia 20 de outubro e consiste em uma dissertação sobre algum tema ligado ao contexto da realidade do campo. As expectativas sobre o processo seletivo são grandes entre as comunidades rurais de várias regiões do Estado, onde somente um formato como este, disponibilizado pelo Ledoc, permitem que moradores, muitos deles agricultores ou filhos de agricultores, possam ingressar na universidade e se graduarem.

Diálogo 

A Educação do Campo é premissa essencial para o desenvolvimento sustentável das comunidades rurais, tendo sido destacada na Tribuna Popular da Assembleia Legislativa do dia dois de setembro pela agricultora Selene Tesch, presidente da Associação de Produtores Familiares Orgânicos de Santa Maria de Jetibá (Amparo Familiar), da Cooperativa de Agricultura Familiar (CAF) Serrana e da Associação Mães da Terra, e ex-embaixadora da Organização das Nações Unidas (ONU) na Região Sudeste na campanha Mulheres Rurais.

As escolas do campo “são fundamentais para o desenvolvimento do homem do campo e permanência da agricultura familiar no campo”, acentuou Selene.

Depois de quatro anos de verdadeira perseguição às escolas do campo, durante a gestão de Paulo Hartung, o setor volta a ter voz dentro do governo do Estado, via Secretaria de Estado da Educação (Sedu). Com Renato Casagrande (PSB), foi reaberto o diálogo com o Comitê de Educação do Campo do Espírito Santo (Comeces). 

“Ficamos quatro anos sem nem conseguir conversar na Sedu e agora conseguimos trazer a gerente pra nossa reunião, que assumiu esse compromisso de tocar as diretrizes, estruturar a Sedu pra atender às demandas do campo e analisar esses processos de reabertura de escolas”, declarou o conselheiro Alex Nepel Marins, professor de Escola Família Agrícola e representante da Regional das Associações dos Centros Familiares de Formação em Alternância do Espirito Santo (Raceffaes) no Comeces, após reunião do Comitê realizada no último dia cinco, que teve a participação da recém-empossada gerente de Educação do Campo, Indígena e Quilombola da Secretaria de Estado da Educação (Sedu), Valquíria Santos Silva. 

A reabertura de escolas fechadas ilegalmente durante o governo de Paulo Hartung é uma das prioridades do plano de ação do Comeces até o primeiro trimestre de 2020. 

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