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Abelhas morrem na Foz do Rio Doce por ausência da Renova

Criadores de abelhas nativas sem ferrão na Foz do Rio doce reclamam do abandono da Fundação Renova, que, sem prestar a assistência devida, tem levado várias colônias à morte. 

O acompanhamento técnico consta em um contrato firmado entre a Renova e a Associação dos Meliponicultores do Espírito Santo (AME-ES), como uma das ações de compensação pelos danos advindos do crime da Samarco/Vale-BHP no Rio Doce, ocorrido em novembro de 2015. O contrato teria vigência até maio de 2020. As visitas aos criadores, no entanto, se encerraram em março, sem qualquer justificativa. 

“Tivemos uma reunião com a Renova em 22 de junho e ela disse que iria contratar uma pessoa pra dar assistência de emergência, até contratar via edital uma empresa ou a AME-ES. Mas nada aconteceu até agora”, relata Ritiele Alcântara Pereira Oliveira, de Regência. 

No total, conta Ritiele, cada família que aderiu ao projeto recebeu seis colônias. São nove famílias em cada comunidade – Regência, Povoação, Areal, Entre Rios – totalizando 36 famílias e 216 colônias. 

“Aqui em Regência não morreu nenhuma porque um ajuda o outro, e a gente tem comprado, juntos, o pólen, a cera e o xarope que as abelhas precisam”, diz, ressaltando que os maiores prejuízos têm acontecido em Entre Rios. 

Foto: Ritiele Alcântara Pereira Oliveira

“Abelhas de várias pessoas morreram aqui em Entre Rios. Por falta de assistência, porque a Renova suspendeu o contrato com a AMES-ES que ajudava a gente”, conta Gleide Ferreira. “Ela [Renova] tem que cumprir o contrato. Não fez nem a metade. Falta entregar algumas colmeias pra algumas famílias e dar instruções”, diz. “É um trabalho tão importante. E eu adoro, sou apaixonada pelas abelhas”, declara. 

Presidente da AME-ES, João Luiz Santos explica que a ideia de implantar a meliponicultura na Foz do Rio Doce começou no início de 2016, em diálogo com o Projeto Tamar e o Instituto Ecomares, quando a AME-ES ainda não havia sido formalizada e os Meliponicultores se organizam em um coletivo informal. 

Em dezembro daquele ano, aconteceu a primeira oficina e a instalação de um meliponário educativo no Centro Ecológico do Tamar em Regência. No ano seguinte, com recursos de um show da Banda Pearl Jam, houve ampliação das ações para Entre Rios e Povoação, iniciando o hoje denominado Programa de Incentivo a Meliponicultura (PIM), onde os criadores doam enxames para pessoas que queiram começar o trabalho. 

“Como os participantes se encantaram com a meliponicultura, solicitaram para a Fundação Renova que contribuísse para alavancar a atividade através da disponibilização de recursos para aplicação na atividade através da AME–ES”, conta. 

A Renova solicitou então a elaboração de um projeto por parte da Associação, que o fez, pensando em um número de 36 famílias. O projeto, descreve João, previa a duração de dois anos, com distribuição de 216 colônias de abelhas sem ferrão, cursos teóricos com distribuição de apostilas, kit de ferramentas para o manejo, caixas vazias a serem utilizadas em ao menos uma temporada de multiplicação dos enxames entregues, visando à formação prática e a ampliação dos enxames a partir dos que iam sendo entregues.

Atrasos no processo de contratação da AME-ES pela Renova, no entanto, atrapalharam todo o cronograma de atividades, montado a partir dos períodos adequados para os manejos com as abelhas.  O primeiro repasse de recursos aconteceu em março de 2018, correspondendo a 41% total previsto.

Assim, durante o primeiro ano projeto, foi possível entregar 95 dos 216 dos enxames previstos, (45% do total) além da completa formação teórica com cursos (100%) e apostilas (100%), entrega dos kits de ferramentas (100%), e de 81 caixas vazias (38%) das previstas, além de formação prática por meio de visitas mensais. 

“Durante essas formações práticas nas localidades foram multiplicados 35 enxames, o que permitiu a ampliação do plantel já entregue, passando então, a haver 130 enxames disponibilizados, polinizando a região e sendo tratados para em breve estarem gerando renda nas comunidades”, narra João Luiz Santos.

As prestações de contas à Renova foram apresentadas mensalmente, ressalta João, desde o primeiro desembolso, ocorrido em 18/04/2018.  “Os questionamentos por parte da Renova sempre foram respondidos e em nenhum momento fomos informados de que havia maiores problemas nessas prestações de contas”, afirma o meliponicultor.

O desembolso dos recursos restantes, porém, não aconteceu e foi questionado por meio de ofício enviado à Fundação em julho último. Em resposta, a Renova disse que haviam decidido “pelo distrato imediato do convênio” e que em prazo legal a equipe de administração de contratos entraria em contato para informar os procedimentos de efetivação da rescisão. “Depois disso não mais entraram em contato com a AME-ES”, diz.

Para não interromper totalmente o trabalho, a Associação reiniciou as atividades de maneira independente. “O projeto continuará conforme as possibilidades da entidade, que agora busca patrocínios e apoios para a continuidade das atividades, o que permitirá a continuidade formação e o que o programa entre em uma nova fase com início de produção de mel e de produtos artesanais e cosméticos com mel e própolis”, conta o presidente da AME-ES.

 

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