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Humanos e pombos, pragas das cidades? 

Fotos: Brunela Negreiros

O humano se animaliza até se tornar pombo. E de pombo, volta a ser humano. Assim, já não existem duas espécies, mas três: o humano, o pombo e o humano-pombo, um híbrido que é um pouco de cada mas nenhum dos dois. Não é só metáfora ou fantasia, mas também parte do processo de preparação dos atores e dançarinos de Revoada, espetáculo de rua que estreia nesta sexta-feira (11), na Rua Sete, Centro de Vitória. Ao todo, serão 12 apresentações em praça pública até o início de novembro (confira o cronograma no final da matéria).

Revoada surgiu a partir da necessidade de falarmos sobre nossa condição de vida nas cidades. Sobre a maneira como nós nos aglomeramos e nos relacionamos. Sobre nossa condição sub-humana. Sobre o quanto o sistema nos coloca em um transe e nos mecaniza, nos condiciona, e como isso faz esvair nossa condição de olharmos para o outro. Sobre como a existência do outro homem é indesejável para muitos. O homem se torna a própria praga”, explica Carla van den Bergen, coreógrafa e dramaturga do trabalho de dança desenvolvido em parceria entre o Grupo Z e a Repertório Artes Cênicas&Cia.

Os pombos são vistos tratados de forma dúbia pela sociedade. Há humanos que os alimentam para que sobrevivam, há os que têm nojo, pavor, que só o veem como monstros transmissores de doença. Não é difícil também fazer paralelo disso com o olhar que temos sobre a população em situação de rua ou de mendicância, cada vez mais crescente diante da situação política, econômica e social do país.

É nessas entranhas da sociedade que o espetáculo busca entrar com sua mistura de teatro e dança, pensando corpos individuais e coletivos. O rock é o estilo predominante na trilha sonora, original e criada a partir das necessidades das cenas do espetáculo, que soma também ruídos, vozes e outros elementos que criam tensões e ambientes propostos pelo trabalho.

Direitos humanos, higienização de espaços públicos, intolerância às diferenças e minorias, escolhas de soluções bélicas para resolver conflitos ideológicos, adoecimento psíquicos e corporais, censura. Tudo isso foi aparecendo ao longo da construção da obra, que reflete muito sobre a atualidade.

“Falar disso através de imagem de uma revoada de pombos nos pareceu pertinente. A praga urbana, capaz de adoecer e matar o ser humano, revestido de uma bela imagem. Eles muitas vezes são invisíveis como muita gente, dividem as calçadas, como muita gente, sobrevivem de restos e migalhas, como muita gente… ao mesmo tempo podem matar porque podem adoecer o homem, como muito homem faz com outro homem”, aponta Carla.

Surgida de pesquisas e ensaio dentro de ambiente fechado, o grupo percebeu que o espaço público era o cenário por essência para Revoada. “Todos os espaços que íamos construindo ficcionalmente na sala de ensaio eram espaços públicos. A rua e urbanidade se faziam muito presentes. Ao colocarmos isso na rua, já há a dramaturgia do próprio espaço, então tudo faz sentido. Enquanto procurávamos criar essa ambiência, agora o espetáculo assume essa característica um pouco mais performativa que é a de ocupação desses espaços, de um aproveitamento do público”, explica Nieve Matos, que assina a dramaturgia da montagem com Carla van den Bergen e Fernando Marques.

No figurino, a busca de uma imagem ao mesmo tempo estranha e familiar, “de uma tribo urbana em jogo, que se destaque e se misture aos transeuntes, causado fricção no olhar de quem ver”, aponta o diretor de arte Antônio Apolinário. Camadas de peles e couraças, corpos franksteins costurados juntando partes diversas, emplastros para curar.

Se a ficção científica imagina para o futuro os androides como fusão altamente tecnológica entre humanos e máquinas, na realidade crua das ruas aqui e agora, onde transitam os esquecidos, os humanos podem ser mais próximos de pombos do que de máquinas. É a partir daí que o público intencional ou transeunte poderá refletir em Revoada, por meio do teatro e dança, ao vivo, a cores e nas ruas.

AGENDA CULTURAL

Estreia do espetáculo Revoada

Dia 11 de outubro de 2019 (sexta-feira), às 19 horas

Rua Sete de Setembro (área calçada) – Centro – Vitória

Temporada completa:

13 de outubro (domingo), às 19 horas

Praça Nilze Mendes – Jardim Camburi (próximo à Universidade Estácio de Sá) – Vitória

16 de outubro (quarta-feira), às 15 horas

Praça Getúlio Vargas – Centro – Vitória

18 de outubro (sexta-feira), às 15 horas

Praça Costa Pereira – Centro – Vitória

19 de outubro (sábado), às 13 horas

Praça Costa Pereira – Centro – Vitória

20 de outubro (domingo), às 15 horas

Praça da Piedade – Centro – Vitória

23 de outubro (quarta-feira), às 15 horas

Praça Getúlio Vargas – Centro – Vitória

25 de outubro (sexta-feira), às 19 horas

Rua Sete de Setembro (área calçada) – Centro – Vitória

26 de outubro (sábado), às 10 horas

Praça dos Desejos – Vitória

31 de outubro (quinta-feira), às 13h30 

Ufes Campus Goiabeiras (em frente à Cantina do Onofre) – Vitória

01 de novembro (sexta-feira), às 15 horas

Praça Costa Pereira – Centro – Vitória

03 de novembro (domingo), às 15 horas

Rua Sete de Setembro (área calçada) – Centro – Vitória.

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