Coletivos e grupos artísticos do Espírito Santo organizam para o próximo sábado (19), às 9h, um abraço simbólico ao Theatro Carlos Gomes, um dos principais patrimônios culturais do Estado, que está fechado desde o início de 2018, embora tenha sido aberto para alguns poucos eventos durante esse tempo.
A nova gestão que assumiu a Secretaria de Estado da Cultura (Secult) optou por fechar definitivamente o espaço, localizado na Praça Costa Pereira, Centro de Vitória, por questão de segurança. O edifício necessitaria de obras estruturais e não apenas paliativas como vinha sendo feito. Trata-se de uma construção quase centenária, dos anos de 1920, e ainda tombada como Patrimônio Histórico em 1983.
Os artistas se sentem sem respostas do poder público sobre o mais importante aparelho cultural do Estado. “Muita gente passa por ali e nem sabe que o Carlos Gomes está fechado. Queremos chamar a atenção do governo e da sociedade de que o teatro está fechado há quase dois anos. Temos um ícone do patrimônio histórico e cultural que virou um viveiro de pombos”, reclama Cristiane Martins, da Associação Cultura Capixaba (Cuca), uma das entidades que organiza o evento.
A ideia do abraço já foi realizada nos últimos anos em edifícios que também estão fechados esperando por obras como o Cais das Artes, na Enseada do Suá, e o Mercado da Capixaba, no Centro de Vitória.
Neste sábado será montado um palco aberto na calçada em frente à entrada do Theatro Carlos Gomes, onde acontece o ato político-cultural, com apresentações de poesia, música, teatro, circo e outras, além de banca de troca de livros e de venda de obras de autores capixabas.
O ato acontece na manhã de sábado por conta do grande fluxo de pessoas em torno da feira que acontece na Rua Sete de Setembro, próximo ao teatro, onde se pretende panfletar o manifesto publicado pelo grupo sobre a situação do Carlos Gomes.
Confira abaixo o manifesto:
Um Marco da história cultural e arquitetônica do Estado do Espírito Santo o Theatro Carlos Gomes abriga uma parte significativa da memória coletiva do povo Capixaba. Entre suas paredes estão guardadas lembranças dos dias de resplendor das artes cênicas do nosso Estado.
Construído pelo arquiteto André Carloni, no coração da cidade de Vitória – a Praça Costa Pereira – entre os anos de 1925 e 1927, o edifício possui quatrocentos e oitenta e cinco lugares, em sua plateia, e mais três andares que abrigam também os camarotes. Um exemplo de arquitetura eclética o edifício foi erguido utilizando concreto armado, técnica moderna e inovadora para a década de 20.
Quando André Carloni idealizou a construção do teatro o estado do Espírito Santo vivia um momento de desenvolvimento econômico e social que exigiam um espaço público de entretenimento para os momentos de lazer e interação social da sociedade emergente.
Como todo prédio histórico, marco da memória local, Theatro Carlos Gomes presenciou, em seus quase 100 anos de existência, o apogeu e declínio da economia cafeeira e o surgimento de uma cidade baseada nas grandes indústrias, instaladas em seu entorno.
Em seu palco, inaugurado com apresentações do cinema mudo, o Teatro Carlos Gomes recebeu as grandes companhias de teatro surgidas por todo o Brasil e os grandes nomes da dramaturgia, música e dança nacional. Formou grandes talentos e cativou um público que reconhece o valor da sua história.
Tombado pelo Conselho Estadual de Cultura e inscrito no Livro do Tombo Histórico, sob o número 27, no ano de 1983, o Theatro é reconhecido como patrimônio histórico e cultural dos Capixabas.
O que isso significa?
Que como representante da nossa cultura e memória deve ser preservado para as futuras gerações.
Infelizmente não é o que observamos nos últimos anos em que o edifício se mantém fechado, com limitado acesso à população Capixaba que se vê alijada de um espaço de entretenimento e educação social e cultural.
No mundo de violência e isolamento social aparelhos culturais, como o Teatro Carlos Gomes, representam espaços de socialização, educação complementar ao ensino regular, desenvolvimento de novos talentos e consolidação de artistas locais e nacionais.
Cada dia que o Theatro se mantém fechado representa a degradação do próprio Edifício histórico e o empobrecimento artístico e cultural da sociedade que o cerca.
A necessidade de ocupação e a exigência de atitudes assertivas do poder público, proprietário do imóvel, estão intimamente ligadas à busca por uma comunidade empoderada e ciente dos espaços de entretenimento, resistência e formação social.
Vamos tomar posse do que nos pertence! Venham conosco pra esse abraço!