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Em busca da Capitania Perdida

Fotos: Heitor Righetti

No idos de 1800, quando o príncipe e explorador prussiano Maximiliam Weid passou 80 milhas ao norte do Rio Cricaré, relatou sentir uma “solidão melancólica” ao se deparar com longas e ermas planícies, lembra Bernadette Lyra. “Era o que eu sentia desde minha infância. O que mais sentia é que estávamos isolados”, conta a escritora de 80 anos, nascida em Conceição da Barra, norte do Estado.

Num antigamente nem tão antigo assim, para cruzar Cricaré, só de balsa. Descendo mais, a imensidão do Rio Doce era uma barreira quase intransponível para os capixabas “esquecidos” do norte. A região acima do Doce, por muito tempo pertenceu à Capitania de Porto Seguro, que depois foi dividida entre Bahia e Espírito Santo.

Bernadette lembra ter lido um intelectual baiano mencionar que a Bahia ignorava a história da antiga capitania. “Me deu um tremelique”, diz a escritora, constatando que o mesmo acontecia com o Espírito Santo. Acaso estes habitantes e sua história não eram importantes? Por que foram esquecidos?

Bernadette Lyra e Lívia Corbellari no Rio Cricaré primeira etapa da expedição

Esse foi um dos motivos do início das pesquisas que resultaram na caravana em busca da “Capitania Perdida”, que realiza sua segunda expedição nos próximos dias 26 e 27 de outubro, com a participação de dez integrantes, entre escritores, ilustradores, cineastas e fotógrafos. Entre os participantes estão Bernadette Lyra, Anne Mahin, Fernando Achiamé, Heitor Righetti, Italo Wyatt, João Chagas, Lívia Corbellari, Ruy Perini, Salomão Silva Pinto e Vitor Nogueira.

A primeira caravana aconteceu em abril, com uma visita a Conceição da Barra e à foz do Cricaré. Agora o desafio é passar por Itaúnas, recolhendo vestígios sobre o esquecimento. Parte da visita será às ruínas das antigas fazendas do Barão de Timbuí e de Marcelino Cunha, antigo Ouvidor da Capitania de Porto Seguro.

Apresentações culturais e diálogos com comunidades fazem parte da expedição

Um dos objetivos das viagens é recolher elementos e inspiração para criar um livro coletivo que reúna elementos históricos com toques literários e artísticos. “Não é um projeto pretensioso, é amoroso, afetivo. De afeto pelo que nós fomos e somos”, explica Bernadette Lyra, retirando e injetando pretensão ao mesmo tempo. Diz que quer um texto com fontes acadêmicas e científicas, mas “cravejado com a sensibilidade dos poetas”.

A ideia do projeto é buscar a “Capitania Perdida” e de certa forma inseri-la na História do Espírito Santo. Os vestígios dela continuam por aí. Não só em ruínas, mas também na cultura popular e na memória e sentimento da pessoas com que os viajantes buscam conversar e reunir histórias.

Bernadette Lyra observa que desde criança percebeu que Conceição da Barra era um depósito, repositório de lendas, histórias, usos e costumes que não havia em nenhum outro lugar. Herança do isolamento. “Constatei isso depois que pude sair e me espalhar pelo mundo. Constatei que o que existia ali não existia em nenhum lugar do mundo”, relata, lembrando como um exemplo maior a manifestação do Ticumbi, que só se encontra por lá.

Ruy Perini em lançamento de livros na primeira caravana

Durante as viagens, o grupo de expedicionários também dialoga com os artistas locais e as comunidades. Neste fim de semana haverá lançamento coletivo de livros e um sarau na biblioteca do Parque Estadual de Itaúnas.

A viagem da próxima semana não foi a primeira e também não deve ser a última. A ideia é seguir com outras, incluindo também os interiores da Capitania Perdida, para que, quem sabe num futuro, poder ser a Capitania (Re)Encontrada…

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