A menos de um mês de ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por ter sua imparcialidade questionada pela defesa do ex-presidente Lula quando juiz da operação Lava Jato, o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro, desembarca em Vitória nesta terça-feira (29).
Oficialmente, ele vem ao Espírito Santo para conhecer o Programa Estado Presente em Defesa da Vida, do governo Renato Casagrande, e acompanhar o trabalho da Força Nacional em Cariacica. Para o mercado político, no entanto, a visita do ministro, ex-juiz que usou a operação Lava Jato para penetrar na esfera política, se enquadra nos movimentos que visam ampliar sua visibilidade, abalada com denúncias sobre imparcialidade na condução da operação.
A visita é apontada como mais uma agenda positiva para fortalecer uma potencial candidatura à Presidência da República em 2022. O ministro está envolvido, também, na aprovação do chamado “pacote anticrime”, projeto que enviou ao Congresso Nacional visando o combate à corrupção. A proposta gerou polêmica e recebe críticas de especialistas pelo fato de possibilitar o aumento da população carcerária no Brasil, sem apresentar medidas concretas de redução da criminalidade.
Sergio Moro será recebido pelo governador Renato Casagrande (PSB) e o prefeito de Cariacica, Geraldo Luzia de Oliveira Júnior, o Juninho (Cidadania), município onde desde o último mês de setembro a Força Nacional reforça o aparato de segurança pública. Às 11 horas, ele dá coletiva de imprensa, no Palácio Anchieta. Para Casagrande, a visita é valiosa, pois tem o potencial de colocar o governo na mídia nacional.
A ação dos agentes conseguiu reduzir a ocorrência de alguns crimes no município, onde mais se mata no Estado, mas, de outro lado, o número de homicídios cresceu, com o registro de 10 assassinatos em setembro. Cariacica é uma das cinco cidades do país em que é desenvolvido o “Em frente, Brasil”, projeto-piloto de atuação conjunta das polícias na repressão à criminalidade.
O recurso do ex-presidente Lula que questiona a imparcialidade do então juiz Sergio Moro, será julgado pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) até novembro, segundo o ministro Gilmar Mendes. Ele afirmou que os processos de Lula que foram conduzidos e julgados por Moro deverão voltar à fase de denúncia, caso o ex-juiz seja considerado suspeito.
As denúncias sobre imparcialidade de Moro vieram à tona inicialmente por meio do site The Intercept e depois pela imprensa nacional, com a divulgação de gravações sigilosas entre procuradores da operação Lava Jato e o então juiz.
Guinado ao cargo de ministro por Bolsonaro, o todo poderoso juiz da Lava Jato, que impediu a candidatura do ex-presidente em 2018, passou a ser alfinetado pelo presidente, que o vê como futuro adversário nas eleições de 2022. O ex-juiz nega que seja candidato.
Segundo as denúncias, Moro comandou a força-tarefa desde o começo da operação e capitaneou operações da Polícia Federal. Chats de grupos da Lava Jato no Telegram indicam que o atual ministro da Justiça de Jair Bolsonaro inclusive ordenou busca e apreensão na casa de suspeitos sem provocação do Ministério Público (o que é irregular).
Uma das gravações revela o seguinte diálogo “Russo {codinome de Moro} deferiu uma busca que não foi pedida por ninguém…hahahah. Kkkkk”, escreveu Luciano Flores, delegado da PF alocado na Lava Jato, em fevereiro de 2016, no grupo Amigo Secreto — se referindo a Moro pelo apelido usado pelos procuradores e delegados. “Como assim?!”, respondeu Renata Rodrigues, outra delegada da PF trabalhando na Lava Jato. O delegado Flores, em resposta, avisou ao grupo: “Normal… deixa quieto…Vou ajeitar…kkkk”.
Desde o início da “Vaza Jato”, foram documentados inúmeros casos do então juiz conspirando em segredo e de forma ilegal com os procuradores na construção dos casos que ele depois dizia julgar de maneira imparcial. Durante os anos em que Moro esteve à frente da Lava Jato, ele chegou inclusive a influir na agenda de operações, conforme mostram as reportagens do Intercept e seus parceiros, realizadas a partir das mensagens secretas trocadas por meio do aplicativo Telegram e entregues ao Intercept por uma fonte anônima.
As reportagens revelam diálogos que ocorreram dias antes da condução coercitiva para depoimento do ex-presidente Lula e da tentativa fracassada da ex-presidente Dilma Rousseff de transformá-lo em ministro-chefe da Casa Civil. As conversas demonstram que Moro não conspirou somente com os procuradores, mas também com a Polícia Federal.