Durante o ano, o projeto Cena Diversa trabalhou a inclusão por meio do teatro, tendo protagonismo de diferentes grupos sociais como surdos e cegos na peça Quando Acordar a Cidade, no Slam Corpo Grita, na dramatização de fábulas para crianças surdas e ouvintes. Para fechar o ano, acontece o espetáculo Pele, que será apresentado na quinta-feira (21), às 20h, no Teatro do Sesi, em Vitória, com entrada gratuita.
Em cena sete atores e atrizes, entre eles três cadeirantes. A inclusão no projeto Cena Diversa, não é apenas para o público ou atores, ela vem desde o início da construção de cada espetáculo. No caso de Pele, conta a diretora Rejane Arruda, a construção baseou-se nos próprios relatos dos cadeirantes, que não queriam ser retratados com “coitadismo”, sentimento de pena ou com recorrente discurso midiático da “superação”.
“Falei que toparia participar se fosse para algo que envolvesse a gente e que não nos apresentasse como frágeis. A mídia coloca muito como superação. Mas não estamos superando, estamos vivendo, sobrevivendo. A gente consegue fazer as coisas”, conta Fernando Tulher, um dos atores, que junto com seu colega de cena Maurício Vieira, faz parte de um time de rugby em cadeira de rodas.
No rugby, lembra Fernando, não tem nada de fragilidade, muito pelo contrário. Além da força, vigora também o bom humor, marca do jogador que virou ator, e que contagiou todo grupo e a própria narrativa da peça. Também fazem parte do elenco Scarlet Lemes, frequentadora do Projeto Praia Legal, que ajuda na acessibilidade dos cadeirantes, Ana Paula Castro, Daniel Monjardim, Nayma Amaral e Yasmin Toretta, estes últimos estudantes finalistas do curso de Artes Cênicas.
A trama foi construída coletivamente, considerando relatos a partir de técnicas de teatro coordenadas por Rejane Arruda, que encontrou um elenco que se engajou e uniu para além do trabalho artístico, construindo uma rede de afeto e amizade. “O espetáculo fala de paixão, amor, sexualidade. Começou com um debate com o elenco inteiro, sobre paixão, suas vidas. Tem um lado biográfico e um performático, onde não é o personagem que fala, mas o ator em cena. São personagens que criamos em processo colaborativo e de improvisação”, conta a diretora de Pele e coordenadora do Cena Diversa.
A história gira em torno da paixão de Janaína (Yasmin Toretta) e Felipe (Fernando Tulher), que se apaixonam e vão viver no apartamento em que ela vive com seus dois irmãos, numa relação de amores e ódios. Mas um sequestro vai mudar a rotina do grupo, que vai ter que buscar formas de resolver a situação. A peça traz um cuidadoso trabalho visual e sonoro, com projeção e justaposição de imagens em telas, uso de materiais como areia em cena e uma trilha sonora que usa Metallica, Marilyn Manson e Zbigniew Preisner, além de incluir áudios gravados pelos próprios atores.
“É um espetáculo muito sensorial, de beleza, de encantamento, de choque”, considera Rejane. Falar de sexualidade é um tabu social, ainda mais em se tratando de cadeirantes, quando se constrói um imaginário social baseado em pré-conceitos. “A gente não vai a fundo, porque é um tema complexo, mas aponta sensorialmente a perspectiva de que cadeirantes se apaixonam e vivem a vida da mesma forma que um andante. Desmistifica que aquela pessoa que está na cadeira de rodas está morta. Não. Ela está extremamente viva”, completa a diretora.
A peça segue a mesma linha que os outros eventos do Cena Diversa trouxeram a partir da construção conjunta dos espetáculos com cegos e surdos. Não é aí que está o foco, e sim nas suas potências. “Conseguimos comprovar a hipótese do Cena Diversa, que quando esses indivíduos entram em cena com as especificidades deles, se o diretor conseguir enquadrar, organizar e potencializar o que eles têm de mais para oferecer e não o que tem de menos, aparecem poéticas muito potentes”, analisa Rejane.
No caso de Pele, haverá uma apresentação única nesta quinta-feira, finalizando o Cena Diversa, que contou com recursos do Funcultura por meio do edital de Diversidade Cultural Capixaba e apoio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult) e da Universidade de Vila Velha (UVV).
AGENDA CULTURAL
Apresentação do espetáculo “Pele”
Quando: Quinta-feira (21), às 20h
Onde: Teatro do Sesi – Rua Tupinambás, 240, Jardim da Penha, Vitória/ES
Entrada gratuita
Indicação etária: 14 anos
Mais informações: www.cenadiversa.com