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Mata Fria forma sua primeira turma de ensino médio

A alegria é imensa. E não só dos formandos e seus familiares. É de toda a escola, da comunidade inteira. Afinal, foram três anos de luta, período em que muitos acharam que não seria possível para a Mata Fria ter seu merecido ensino médio regular noturno. Mas ele veio pra ficar e já prospera. 

A formatura da primeira turma a concluir o terceiro ano na Escola Estadual de Ensino Médio (EEEM) Mata Fria será na próxima sexta-feira (6). Um marco para a comunidade de descendente de pomeranos, localizada no tríplice limite dos municípios de Afonso Claudio, Santa Maria de Jetibá e Itarana. 

Localidade rural, sustentada pela agricultura familiar, Mata Fria tem muitos jovens interessados em estudar, crescer como pessoas e profissionais, sendo fundamental a oferta de um ensino médio noturno regular para que pudessem realizar seus sonhos de vida. 

“Eu penso que cada um tem que ter o direito de escolher o que quer pro seu futuro”, pondera Hilde Helene Christiansen Jordão, mãe de uma das formandas e uma das principais articuladoras da comunidade em favor da escola. 

Sem o ensino médio, explana Hilde, os jovens não podiam escolher se queriam sair da roça e se formar, ficar na cidade ou voltar pra comunidade e atuar como agrônomo, veterinário ou outra profissão necessária na sua terra natal. “Não estou fazendo isso pela minha filha apenas, mas pela comunidade”, assevera. “Eu estou muito feliz, realizada em ver os meninos estudando e a primeira turma se formar”, comemora. 

A Escola Estadual Mata Fria foi a primeira a ter de volta o seu ensino médio regular noturno na gestão de Renato Casagrande (PSB), que fez dessa retomada uma de suas promessas de campanha. “Ele gravou vídeo de campanha aqui na comunidade”, recorda Hilde. 

Pouco depois de reinaugurada, a escola recebeu a visita do secretário de Estado de Educação (Sedu), Vitor de Angelo. “Ele disse que vai investir na escola pra ela crescer cada vez mais e o governador quer que ela seja uma escola modelo”, conta. Há também, complementa, promessa de criação de um curso técnico na área de agricultura em breve. “Estamos muito felizes”, reafirma. 

Fechamento ilegal

Hilde conta que todo o processo de fechamento da escola, no governo passado de Paulo Hartung, foi ilegal, envolvendo até denúncia de fraude de documentos pela antiga superintendente, Lucirlene Omela da Silva Velten, que chegou a dizer, em juízo, que o prédio da EMEF Francisco Correa, que funciona no mesmo prédio, não tinha condições de receber o ensino médio. “O juiz foi pessoalmente na escola ver o prédio. Ele fotografou, anexou ao processo e disse que a estrutura estava em boas condições”, relata. 

O fechamento aconteceu em 2015 e foi denunciado por Hilde no Ministério Público Estadual, cujo promotor, Valtair Lemos Loureiro, transformou em ação civil pública (Processo nº 0000334-76.2016.8.08.0001. O juiz Luciano Antonio Fiorot, por sua vez, determinou a reabertura da escola por duas vezes, sendo desrespeitado em ambas por Paulo Hartung. 

Em paralelo, a comunidade procurou sensibilizar as autoridades de várias formas, como na audiência pública promovida pelo deputado Sergio Majeski (PSB) em 21 de fevereiro de 2018, quando Hilde relatou a luta empreendida em favor da escola em um discurso comovente, que segue transcrito na íntegra aqui:

“Foram anos de luta para tentarmos sensibilizar o governo de que nossa comunidade precisava de uma escola. Só em 2014, com a ajuda do Ministério Público, nossa escola finalmente foi organizada e trouxe uma grande alegria aos nossos jovens e adolescentes. Alegria que para os nossos pobres adolescentes e jovens trabalhadores rurais durou apenas dois anos.

 

A atual administração executiva de nosso Estado, através da Sedu, decidiu que a partir de 2016 não haveria mais pobres na zona rural e por isso fechou nossa escola afirmando que nossos adolescentes deveriam se deslocar para outras escolas distantes do município e preferencialmente para a Escola Viva, na sede do município. Chegaram a ameaçar nossos filhos de que nós, pais,  seríamos presos se não fizéssemos as matrículas. O dilema que se formou foi: o que é mais importante: comer ou estudar? Quase a totalidade da comunidade teve de escolher a primeira opção. Sonhos foram destruídos. E o pior: nossa comunidade continua pobre e agora sem perspectiva de podermos evoluir intelectualmente.

 

O Ministério Público, entendendo a decisão absurda da Sedu, apoiou nossa comunidade e entrou com um processo contra o Estado para que nossa escola volte a funcionar. O juiz sensibilizado também com a situação, determinou por meio de uma liminar do dia primeiro de abril de 2016 que a escola fosse reaberta imediatamente e deu um prazo de 20 dias para isso. O juiz entendeu que as alegações do Estado para o fechamento eram completamente infundadas.

O Estado não cumpriu a liminar judicial, alegando que abriu as matrículas e não houve interesse da comunidade. Só 25 alunos conseguiram ser avisados e efetivaram suas matrículas. O Estado continua afirmando que não temos alunos suficientes, mas não explica onde ficaram os 53 alunos que concluíram seus estudos no ano de 2015 e que fizeram suas rematrículas para 2016. O Estado não abriu as vagas para o primeiro ano. A previsão é que teríamos cerca de quase 80 alunos em 2016. O Estado também não explica onde estão os 85 alunos que concluíram o ensino fundamental de 2014 a 2017, quase todos com menos de 18 anos e que deveriam por lei estar na escola. Também não explica onde estudarão em 2019 os 43 alunos que estão atualmente estudando no 9º  ano do ensino fundamental.

 

O Estado afirmou, também, que não houve interesse por parte dos professores em dar aulas na Mata Fria. Isto é totalmente falso. Temos um grande número de professores interessados.

 

Nossos jovens e adolescentes querem apenas, após um longo dia de trabalho na roça, ter o direito constitucional de estudarem e poderem fazer isto à noite, como previsto e garantido no artigo 208 da Constituição e nos artigos 53 e 208 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

 

Agora nossos jovens e adolescentes já estão dois anos sem estudar, esperando que as leis que regem a todos os brasileiros sejam cumpridas pelo Estado. Este deliberadamente abandonou intelectualmente nossa comunidade, assim como muitas outras em nosso Estado. Pergunto aos presentes: até quando vai durar esta injustiça?

 

O Estado nos abandonou!”.

Futuro promissor

A felicidade dos formandos neste 2019 afastou qualquer névoa de dúvida sobre o crescimento da EEEM e da comunidade de Mata Fria, pelas mãos e mentes de seus jovens. Além do apoio do governo do Estado, a demanda por mais vagas também assenta esse sonho. Quando a escola foi fechada por Paulo Hartung e seu secretário Haroldo Rocha, em 2015, contava com quase 60 alunos no total. Agora, somente o primeiro ano já conta com mais de 40 pré-matrículas. “Acho que teremos duas turmas de primeiro ano”, diz Hilde. 

A Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Francisco Correa, que funciona no mesmo prédio, durante o dia, também cresce e já tem duas turmas pra cada uma das três últimas séries do fundamental 2 (7º, 8º e 9º anos). “Muitos meninos irão entrar no ensino médio”, exulta. 

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