Localizada em Aracruz, norte do Estado, a aldeia KaA'gwy Porã está localizada no território recuperado em 2005 pelos povos Tupinikim e Guarani após muita luta contra a então Aracruz Celulose (depois Fibria e hoje Suzano), pela apropriação e exploração de terras tradicionais indígenas. Devastada por décadas de monocultivo do eucalipto, o local passou a ser habitado anos depois por famílias Guarani, buscando construir uma aldeia mais afastada do centro urbano, com proximidade da natureza e alguns fragmentos de mata nativa remanescentes.
Hoje moram na aldeia 32 famílias, totalizando cerca de 100 pessoas. Os tocos de eucalipto permanecem visíveis em vários lugares e não houve políticas de reflorestamento por parte do governo ou da empresa naquele território. Assim, o reflorestamento, em que se pretende ligar os dois fragmentos de floresta que restam, vai sendo feito aos poucos, quase sem recursos, pelos moradores.
Nesse sábado (30), foi realizado um mutirão de plantio com árvores nativas e plantas alimentícias para aumentar o entorno verde na KaA'gwy Porã, que significa Nova Esperança em guarani, nome que representa bem o espírito daqueles que lá se instalaram.
O banco de sementes é estratégico para o desenvolvimento não só da agricultura mas também da espiritualidade guarani no território. O milho tem um valor especial. “Quando um filho é batizado e recebe o nome sagrado, a família recebe também um punho de sementes do milho sagrado guarani, para que dê continuidade com a semente, plantando, colhendo e guardando sementes sempre”, explica o cacique Werá Djekupé, também conhecido como Marcelo Guarani.
Foto: Gabriel Lordello
A ideia é que a pequena casa construída sirva para guardar equipamentos e especialmente para armazenar as sementes crioulas, aquelas variedade desenvolvidas, adaptadas ou produzidas por pequenos agricultores, como indígenas, quilombolas, assentados e agricultores familiares que vivem em comunidades. São sementes passadas de geração e geração, que vai selecionando as melhores variedades para novos plantios.
“Um banco de sementes também serve como garantia para os produtores rurais, pois mesmo os melhores exemplares podem sofrer com problemas climáticos, como a falta ou o excesso de chuva. Caso uma safra seja prejudicada, os agricultores podem contar com as sementes estocadas para recuperar a produção”, explica um documento do antigo Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Na inauguração da Casa de Sementes da KaA'gwy Porã, participaram Tupinikins e Guaranis de outras aldeias e também Guaranis vindos de aldeias de São Paulo, que trarão também variedades de sementes que possuem para trocar. Na parte cultural, os parentes das proximidades também contribuem. Da aldeia Tekoá Porã (Boa Esperança), um coral guarani e o grupo de Dança Txondaro apresentaram a dança dos guerreiros guarani.
Eles participam nesse domingo (1°), na ocasião da inauguração oficial da Casa de Sementes, quando também haverá cineclube com exibição de filmes e documentários sobre a cultura guarani e uma feira de artesanato e sementes. A programação contou também com uma roda de conversa que apresentou os projetos da aldeia e seu histórico, além do cineclube e de uma fogueira para compartilhar um pouco da culinária guarani.
A aldeia KaA'gwy Porã fica em Aracruz, a 7 km da estrada para Barra do Sahy, para quem vem de Vitória. Mais informações com Marcelo Guarani: (27) 99951-4287.