O “tiro” disparado em plenário pelo deputado estadual Enivaldo dos Anjos (PSD) na direção do governo nessa segunda-feira (2), em discurso-resposta à sua destituição da função de líder de Renato Casagrande, expôs articulações políticas que já circulavam nos bastidores, mas que não tiveram o desfecho esperado, como ele confirmou. A principal delas uma proposta de aliança para a disputa de 2020 feita na semana passada ao governador pelo Republicanos, partido do presidente da Assembleia Erick Musso, que teria sido barrada principalmente pelo Cidadania, do prefeito de Vitória Luciano Rezende. “Uma união para caminhar juntos, tendo Erick, o deputado federal Amaro Neto, o deputado estadual Hudson Leal, com a força que tem o partido…mas o governador não pôde aceitar porque outras legendas da base, que se consideram donas do governo dele, não quiseram”, detalhou Enivaldo, criticando que movimentos desse tipo impõem isolamento ao socialista. Não é de hoje que rolam conversas de uma tentativa de negociação entre o Republicanos e Casagrande, com efeitos não só na eleição municipal, mas também no processo sucessório de 2022, com Erick até então podendo ser acomodado em diversas posições, a mais cotada o Senado. O partido tem como trunfo em Vitória o campeão de votos em 2018 à Câmara dos Deputados, Amaro Neto, “o terror” de Luciano, que passou aperto para vencê-lo em 2016 e, desde o ano passado, coloca gás no deputado Fabrício Gandini para o palanque da sucessão. A briga por espaço interno reflete nos repetidos recados de Luciano em discursos e nas redes sociais para atingir adversários “sem nomes” e, agora, nos capítulos da reeleição de Erick, que esbarram num Gandini empenhado em reverter o poder ampliado do presidente da Assembleia até 2023, como mostram suas últimas declarações e a ação na Justiça para anular o processo. A atual posição de Erick no jogo, somado à alta cotação de Amaro, é uma assombração para o projeto político do grupo de Luciano. Se não houver reviravolta nem “cachimbo da paz” na relação entre legislativo e governo, pode virar também para Casagrande.
Antes e depois
Pergunta que não quer calar: quando Enivaldo diz que a conversa ocorreu na última semana, foi antes ou depois da fatídica quarta-feira (27) que consolidou a reeleição de Erick? Como se sabe, o presidente da Assembleia e Casagrande tinham um acordo em relação à disputa, o que manteria a parceria entre eles, mas este foi quebrado pelo deputado.
Na mesa
No início de novembro, como divulgado aqui na coluna, a articulação pela PEC de Erick já sinalizava essa aliança, incentivada por um levantamento interno do Republicanos que mostrou, novamente, o potencial da candidatura de Amaro em Vitória, mudando o projeto do grupo, que havia acenado para a filiação e palanque do deputado estadual Lorenzo Pazolini (sem partido) a prefeito, reservando a Amaro o governo em 2022.
Na mesa II
Nessa configuração recente, o partido sairia da reta da reeleição de Casagrande, passando a se aproximar dele na estratégia de garantir que Amaro fosse de novo o mais votado nas urnas, e Erick entraria na chapa como candidato ao Senado, consolidando vida fácil ao governo no legislativo até o final do mandato e ainda na campanha. O que seria outro problema para os planos de Luciano Rezende, que também tem pretensões para 2022.
Oportunidade
Por enquanto, para emplacar sua estratégia eleitoral no próximo ano, o prefeito de Vitória aproveita o momento para fazer o discurso oposto ao que vinha sinalizando a adversários. Publicou nas redes sociais a fala de Gandini do dia da eleição da Mesa, quando ele pede tempo para montar uma chapa de oposição, mas só consegue cinco minutos. Olha o texto…
Oportunidade II
“A boa política e os bons políticos existem para momentos como esse… é aí que temos que agir rápido, com coragem, sem vacilar e na defesa do interesse público maior, da democracia e dos valores republicanos! Parabéns mil vezes ao Gandini (Cidadania). Temos muito orgulho da sua atitude firme e corajosa! As hashtags do prefeito: “Gandini nos representa”; “já vimos esse filme”; e “vamos defender o ES das ameaças”.
Oportunidade III
Na verdade, com um mandato apagado na Assembleia até agora, com poucas aparições em plenário, participação zero ou discreta em debates polêmicos, e inclusive criticado pelo acúmulo de projetos parados na Comissão de Justiça, Gandini nunca teve uma chance tão boa de tentar capitalizar politicamente. Pelo tom das suas redes sociais nos últimos dias, vai mesmo apostar todas as fichas. Rende?
Apagado
A propósito, nessa “briga de foice” dos partidos que orbitam ao redor de Casagrande, onde entra o PSB, que até outro dia tinha projeto próprio na Capital? O partido já falou do vice-prefeito Sérgio Sá e tem também o deputado estadual Sergio Majeski, que garante participar da disputa, quer o PSB queira ou não. Mas, neste caso, o governador costuma se colocar em cima do muro. O Cidadania, pelo visto, assumiu a dianteira.
Calote
A conhecida Banda Casaca, de Vila Velha, acusa a Fundação Renova, criada após o crime da Samarco/Vale-BHP, e a Associação dos Moradores de Regência (Amor) de calote por não pagamento do show realizado na Festa do Caboclo Bernardo, no último dia dois de julho, em Regência, Linhares. A banda foi contratada pela associação que, por sua vez, afirmou que os recursos para a festa tradicional da vila de pescadores seriam disponibilizados pela Renova, o que não aconteceu.
Calote II
A Amor informou na época à banda que a Renova havia pedido prazo de 90 dias para pagamento dos custos do evento, incluindo o cachê, o que venceu em dois de setembro. O dinheiro não apareceu e a Associação de Moradores manteve a alegação de que a Renova não pagou, enquanto a Renova o contrário, de que fez o repasse à entidade. Dezembro chegou e nada ainda…
Calote III
Depois de tanta espera, o vocalista da Casaca, Renato Casanova, se manifestou contra o que considera um desrespeito aos artistas que saíram de Vila Velha para prestar serviços em Regência. “Não temos nada com os problemas entre a Fundação Renova e a Associação de Moradores. Eles devem resolver entre eles sem envolver os artistas. A gente não recebeu o cachê e não deram qualquer previsão. É um calote mesmo”.
PENSAMENTO:
“A política é uma delicada teia de aranha em que lutam inúmeras moscas mutiladas”. Alfred de Musset