“Eu repudio lobistas de empresa e peço que ninguém me procure, para não ter o constrangimento de recusar a recebê-los”, disse o deputado Enivaldo dos Anjos (PSD), ex-líder do governo na Assembleia, nesta segunda-feira (9), ao justificar o voto pela manutenção do veto do governador Renato Casagrande (PSB) ao projeto do deputado Emílio Mameri (PSDB) proibindo a utilização de copos de plásticos em bares e restaurantes.
O parlamentar criticou a presença de representantes da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) nas dependências da Assembleia, de forma idêntica ao seu pronunciamento do início deste mês, quando apontou os motivos de sua saída da liderança do governo. Em seu discurso, Enivaldo questionou sobre a perda do cargo: “será que é porque o pessoal da Findes [Federação das Indústrias] tenta passar tudo aqui nessa Casa, porque é um ninho de gente que vive às custas do Estado e construiu um monstro na sede e já deu um jeito de acertar aquilo, que também é dinheiro público?”.
Nesta segunda-feira, ele afirmou: “Eu não gostei muito de ver o pessoal da Findes, igual a sindicalistas, pedindo voto nesse projeto. Eu acho que a Findes tem que tratar é do desenvolvimento do Estado, reunir os empresários, e não ficar aqui fazendo lobby na Assembleia, porque é muito ruim isso”.
Prosseguiu: “Fica um negócio enjoativo, como se o deputado não soubesse analisar as matérias que estão nessa Casa. Eu votei, mas quero protestar contra a presença da Findes, como protesto contra o pessoal da Vale, o pessoal da Renova”.
O deputado ressaltou que “esse pessoal devia entender que o Parlamento tem que debater independente dessas intromissões. Já tem empresa criando o cargo de relações institucionais. Descobrir o que é: um diretor que ganha dinheiro para ficar atrás de deputado pedindo voto. Ora, isso fica ruim, esses lobistas, Quem tem que ser lobistas são os sindicalistas, pois é função deles trabalhar por suas categorias”.
O veto do governador contra o projeto aprovado na Assembleia foi mantido por 25 votos favoráveis, dois contrários e uma abstenção.
Debate
O diretor de Desenvolvimento e Associativismo da Findes, Agostinho Miranda Rocha, informou na quinta-feira passada (5), em debate na Frente Parlamentar de Fiscalização de Obras de Coleta e Tratamento de Esgoto, presidida pelo deputado Fabrício Gandini (Cidadania), que foi criado o Fórum de Política Reversiva do Material Plástico da Findes. Ele participou na Assembleia de uma reunião sobre poluição causada por esse material nos oceanos e lembrou que a Findes tem feito intervenções nas escolas.
Dez rios do mundo são responsáveis por carregarem 85% do material plástico encontrado no mar. No total, são oito milhões de toneladas ao ano jogadas no oceano. Além do mais, 50% do plástico produzido no mundo é de uso único, ou seja, sua utilização não dura mais de três minutos antes de ser descartado.
Estas e outras questões sobre a poluição do mar com material plástico foram colocadas pela professora de Relações Institucionais da Faculdade de Direito de Vitória (FDV) Luísa Cortat. Segundo a pesquisadora e coordenadora do curso, embora os rios da Ásia sejam os que mais poluem os oceanos, a responsabilidade não é dos países por onde passam os cursos d’água. “A responsabilidade é de quem produz, os países desenvolvidos, que enviam a produção para os países periféricos”, explicou.
O plástico é produzido há mais de 100 anos, crescendo depois da Segunda Guerra Mundial. A população não cresceu tanto quanto a produção plástica – a relação desse produto por habitante aumenta a cada ano. A professora comentou que alguns plásticos levam 500 anos para desaparecer – a maioria leva 100 anos. Portanto, “os primeiros plásticos ainda não desaparecem na natureza”, avaliou.