Uma simples casa tradicional de madeira e pau-a-pique foi vítima de um incêndio criminoso na comunidade quilombola de Linharinho, em Conceição da Barra, norte do Estado. A casa está numa área de cerca de três hectares que faz parte da primeira retomada quilombola, em 2007, num processo de recuperação de terras de uso tradicional que haviam sido usurpadas para o monocultivo de eucalipto.
No local, Antonio Rodrigues e Joice Cassiano, integrantes da Comissão Quilombola do Sapê do Norte, desenvolvem atividades ligadas à produção de alimentos agroecológicos, que atendem a consumidores de São Mateus e da Grande Vitória por meio do projeto CSA Sapê do Norte. Eles não haviam dormido no local na noite em que a casa foi incendiada, mas segundo um vizinho, foram ouvidos barulhos de disparos de arma de fogo na mesma noite.
Os moradores não sabem o motivo do atentado, que tomou conta da cozinha e parte da sala da casa, derrubando o telhado e causando prejuízos na estrutura e também em móveis e eletrodomésticos. Eles já haviam sofrido ameaças de pessoas de fora da comunidade tentando se apropriar das terras em litígio, que também são alvo de ações na Justiça da Suzano (ex-Fibria e ex-Aracruz Celulose), que há décadas explora as terras tradicionais da região.
Segundo Antonio, nos últimos anos, quatro casas foram incendiadas na região. Os habitantes do imóvel incendiado encontram-se abrigados na casa de parentes e apreensivos em retornar a dormir no local depois do atentado.
Um vídeo publicado há um ano no YouTube pelo canal chileno Nuke Mapu registra um pouco do trabalho no local e do pensamento de Antonio.