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Dia de cão à fauna protegida no aniversário de Ruschi

No dia 12 de dezembro fui ao túmulo de meu pai fazer uma oração especial pelo seu nascimento.

Visitar seu jazigo é bem diferente de ir ao cemitério, e tem um significado extremamente especial para mim. O local remete à presença dele, física e espiritual – esta última também transmitida em seu túmulo espiritual no Mosteiro Zen, em Ibiraçu.

Para chegar ao local onde descansa, é preciso percorrer uma longa trilha pela mata, com trechos pedregosos, trechos margeando o rio, trechos com água parada onde pode-se ouvir os menores ruídos da floresta e seus pássaros, trechos onde apenas se ouve o som das cachoeiras e córregos que cortam a trilha. Por vezes se caminha sobre uma minúscula ponte sobre o chão alagado e úmido, praticamente no escuro, sob a copa de árvores repletas de orquídeas e bromélias e, repentinamente, se chega a um ambiente de solo raso e rochas expostas com sol e céu aberto.

São inúmeras sensações se alternando ao longo da mais bela trilha daquela reserva até chegar justamente ao seu local mais deslumbrante – o ponto onde o Patrono da Ecologia do Brasil desejou ser enterrado – ao lado de uma grande cachoeira inteiramente cercada de Mata Atlântica. 

Visito seu jazigo desde criança, e, seja sob o sol do verão de dezembro no aniversário de nascimento de meu pai, seja sob o frio do inverno de junho no dia que ele faleceu, ou sob a chuva do dia de finados que sempre cai em Santa Teresa, a bela caminhada pela mata sempre ilustrou o amor que ele sentia pela natureza, complementando os ensinamentos das anotações que me deixara. 

Mas neste ano de 2019 presenciei uma coisa inusitada, que nunca havia visto naquela localidade ao longo dos mais de 20 anos que visito: um cão no interior da mata! 

Primeiramente fiquei surpreso em ver o cão, que veio em minha direção. Por um breve momento fiquei apreensivo sobre o encontro, pois não sabia a procedência e a agressividade do animal. Mas sua aproximação foi dócil, e toda a tensão deu lugar ao familiar sentimento de se estar com um pet. Ele se mostrou brincalhão e submisso, balançando o rabo de cabeça baixa. 

Passada a apresentação, o animal alterou seu comportamento brincalhão para um comportamento de guia, me esperando para caminhar na trilha, sempre pausando para investigar curiosamente a vegetação. O temor que sentira com minha segurança voltou-se para o animal, que poderia ser picado por uma cobra, por exemplo (as matas de Santa Teresa possuem muitas cobras, principalmente jararacas). Mas o cachorro parecia estar bem acostumado com o local, e entrava em todas as ramificações de trilhas escondidas. 

Eis que de repente o dócil cão guia alterou novamente seu comportamento, passando a farejar e a se movimentar de forma agitada, saindo e retornando para a trilha a todo momento. Foi assim que ele desentocou um lagarto teiú (Tupinambis sp.), e partiu ao seu ataque. Foi uma perseguição intensa pelo aglomerado clonal de bromélias no meio da mata até que o grande lagarto finalmente conseguiu escapar pela margem de vegetação do rio, onde atirou-se em desespero. Mesmo sendo zoólogo, fiquei chocado, pois nunca havia visto um teiú se lançar em um rio para fugir da morte. Pela terceira vez fiquei apreensivo, mas desta vez não por mim ou pelo cão, e sim pelos animais silvestres moradores daquela floresta sagrada. 

A ameaça que animais domésticos como cães e gatos trazem ao meio ambiente é uma constante preocupação para a preservação ambiental, pois ela exerce expressiva pressão sobre a fauna, sobretudo sobre as espécies animais vulneráveis e ameaçadas de extinção. 

Ter um animal de estimação exige muita responsabilidade. Eles não são objetos, as pessoas não são seus “donos”. Eles não se tornam independentes, por isso seus “donos” são, na verdade, tutores, e como tais são responsáveis pelas ações de seus peludinhos.

Do óleo às barragens, as pessoas precisam ter mais responsabilidade com o meio ambiente, começando com o próprio quintal. E quem mora em regiões com matas preservadas precisa dessa consciência 24h por dia. Do contrario, a fauna da Mata Atlântica continuará sendo ameaçada pela irresponsabilidade, tal qual no episódio narrado acima – na reserva onde descansa o Patrono da Ecologia do Brasil, em seu próprio aniversário.

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