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Um ano aloprado 

Um ano depois, o Brasil patina e tenta se equilibrar em meio ao descompasso da economia e de questões sociais e ambientais, frutos diretos do despreparo presidencial, como mostram declarações esdrúxulas  – “É duro ser presidente do Brasil” e “Se não tiver a cabeça no lugar, eu alopro” -, colocadas por Jair Bolsonaro no dia seguinte ao vergonhoso comportamento na costumeira coletiva de imprensa, na saída do Palácio do Planalto. 

Jair desrespeitou os jornalistas com declarações pelas quais expõe ódio, preconceito e despreparo para ocupar a mais alta função pública do País. Uma postura inadequada, só comparada aos generais da sangrenta ditadura de 1964, fetiche maior do presidente. Apesar desse cenário catastrófico, há quem afirme: “Agora o Brasil está sendo administrado de verdade”. 

Estão entre os 29% dos apoiadores de Jair, segundo pesquisa do Ibope, que formam a camada para a qual ele fala e de quem recebe aplausos, sustentada no fundamentalismo equivocado e distorcido da doutrina do acolhimento aos marginalizados.

Esse apoio possui características já sinalizadas em 1905 por Max Weber em A ética protestante e o espírito do capitalismo: “(…) a aprovação aos olhos de Deus, é medida, primeiramente, em termos morais e depois em importância de bens gerados para a comunidade. A seguir, porém, e em termos prático acima de tudo, pelo critério mais importante da lucratividade”.  

Bem acima do jargão farisaico “Brasil acima de tudo” adotado pelo presidente, se encontra o sentido de lucro, mais importante do que a ética e a moral alardeadas pela plateia bolsonarista, que a leva a ignorar pontos altamente negativos, como os grupos de milicianos que orbitam em torno da família presidencial, conforme revelam investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro. Trazem à tona informações estarrecedoras sobre lavagem de dinheiro e o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista  Anderson Gomes. 

Esse público, como se hipnotizado, se deixa enganar e desconhece dados sobre a economia, como a queda dos níveis de otimismo de gestores, segundo a mais recente edição da pesquisa Panorama Global dos Negócios, feita desde 2012, em parceria com a americana Duke University. Há desemprego, fome, alta no preço dos combustíveis, esvaziamento dos sindicatos, perda de direitos trabalhistas, boicote às artes e ao meio ambiente, entrega de ativos como o pré-sal, aumento da violência, insegurança em todas as áreas e muito mais. 

O cenário brasileiro, de todo assustador, causa impacto nos estados. O exemplo mais recente, no Espírito Santo, a reforma da Previdência, adiantada pelo governador Renato Casagrande, nos mesmos moldes da proposta de Bolsonaro  aprovada no Congresso Nacional. Cria obstáculos à aposentadoria e contribui para deixar mais tensas as relações com os servidores públicos. 

O ano de 2020 está às portas, as eleições municipais também. Pode ser o início de uma nova fase, pelo voto direto, caso acontecimentos já previstos, como o impedimento do aloprado, de fato aconteçam, com resultados imprevisíveis. Já há clima para isso, depende das forças que o colocaram no poder e que começam a debandar dos 29% que ainda o sustentam. 

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