O que nós temos em comum com o homem comum?
Minha casa tem muitas janelas, abertas a todas as ideias, disse o homem sábio. Minha casa tem muitas portas, abertas a todos os necessitados, rebate o homem santo. Vamos ter que comprar mais panelas, suspira a mulher do homem santo. Faça como eu, amiga, bota mais água no feijão, sugere a mulher do homem sábio. Moral da história: na sombra de todo grande homem tem sempre uma mulher cozinhando e limpando. Ouvindo a conversa por acaso, o homem comum disse, Vão ser assaltados. Na minha casa eu tranco portas e janelas, e ainda dizem que eu sou burro.
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O que nós temos em comum com o homem comum? Neste mês de março sobrevivemos ao ridículo impeachment do Trump, que como sempre não deu em nada, e a chuvas e deslizamentos no Brasil. Aqui está parecendo a Venezuela, com as prateleiras dos supermercados esvaziando rapidamente. O papel higiênico é sempre o primeiro a sumir nas crises, desconfio que a tensão provoca uma diarreia coletiva. Mas nem só as más notícias marcam o terceiro mês do ano, embora tenha entrado para a história por causa dos Idos de Março, quando César foi assassinado.
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Em contagem regressiva, vamos lembrar grandes feitos da história da humanidade ocorridos nesse auspicioso mês que traz a primavera, pelo menos em um dos hemisférios. Dia 31, em 1933: o jogo Monopólio foi inventado, salvando a humanidade do tédio; no dia 29, em 1886, a Coca-Cola encheu a primeira garrafinha, ensinando a humanidade a matar a sede com mais estilo. Bem mais jovem e mais relevante, no auspicioso ano de 1950, o silly putty veio ao mundo. Nasceu por engano, como aliás muita gente famosa e outras coisas essenciais, como o brownie: a mulher do homem santo esqueceu de por o fermento no bolo de chocolate.
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Silly putty é aquela substância plástica melequenta, carinhosamente conhecida como melequinha, ou massinha maluca. As crianças adoram, garantem os fabricantes. A mulher do homem santo usa para ajudar na faxina: São ótimas para remover fios de cabelo e pelo de gatos e cachorros, ela garante. Já foi até usada pela tripulação da Apollo 8, informa, quando a pegam brincando com a coisinha. Não tem aspirador de pó? pergunta a mulher do homem comum. Eu só uso o Roomba, diz a mulher do homem sábio, que em sendo sábio ficou rico.
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Dia 17 uma boa parte do mundo fica verde: dia de São Patrício, quando todos fingem que são irlandeses. A Irlanda está para o Estados Unidos como Portugal para o Brasil, e tal como acontece cá entre nós, os dois lados trocam piadas zombando um do outro. As piadas são as mesmas, mudam a nacionalidade. Mas o maior evento do mês foi a invenção do rubber band, dia 17, em 1845. Difícil imaginar a vida sem o elástico de borracha, ou borrachinha de dinheiro, como é carinhosamente conhecido, embora raramente o homem comum tenha dinheiro em quantidade suficiente para precisar da borrachinha. Perco o sono imaginando que triste era a vida sem esses produtos essenciais para o bem estar da humanidade.
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Façam seus estoques: esses produtos estão sumindo das prateleiras porque tudo hoje em dia tem algum componente Made in China. Tal como santos e sábios, essas descobertas mudaram o mundo e vão ficar entre nós para sempre. Quanto às esposas, sempre de vassoura na mão para limpar a sujeira, são chamadas de bruxas. Minha homenagem aos irlandeses, que são muito católicos e adoram cervejas e vinhos: “O policial vê um padre ziguezagueando na estrada e o manda parar no acostamento. O senhor bebeu alguma coisa? pergunta, vendo uma garrafa vazia no chão do carro. Apenas água, diz o padre. E que garrafa é essa? pergunta o policial. O padre olha para a garrafa e exclama, Louvado seja Deus, Ele fez isso de novo!”