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Finja que é modesto

O prefeito de Cachoeiro, Victor Coelho, não aprendeu ainda que escolher o adversário às vezes é muito mais importante que escolher o aliado

A imprensa brasileira recolheu, nos anos de ditadura militar, uma experiência sólida para lidar com as invariáveis situações inusitadas proporcionada pelo presidente da República. O capitão tem encontrado um osso duro de roer. 

Reconhece, por exemplo, Miriam Leitão, que absolutamente o presidente não sabe como funciona a relação entre os poderes. Exatamente porque “isso ficou claro, mas a marcha sobre o STF mostrou também que não havia um único ministro capaz de convencer o presidente que não tivesse atitude tão insensata. Os empresários exibiram a pior face de uma parte da elite: a total insensibilidade social. E reforçaram o presidente porque atuaram como testemunhas das ideias do governo, que continua pressionando contra as medidas de isolamento social”. Nesse jogo, afinal, o presidente é apenas um oficial intermediário.

Claro que, indubitavelmente, a situação só não está pior hoje porque a maioria dos prefeitos e governadores tem adotado medidas adequadas para enfrentar a pandemia. O governador Renato comanda a situação no Estado. Os prefeitos, salvo poucas exceções, obedecem seu comando. As eleições estão próximas.

Em Cachoeiro, por exemplo, o prefeito Victor Coelho (PSB) vem tentando sobreviver eleitoralmente depois de alguns desarranjos estratégicos, com demissão de professores contratados. Tudo ia às mil maravilhas. Era o candidato praticamente reeleito. Faltou experiência e um excesso de autoconfiança que resvala na arrogância, acabaram por fazê-lo refém de uma Câmara Municipal que nunca o incomodou. Voltou atrás e professoras foram readmitidas. Mas o desgaste ficou. Não possui um interlocutor competente para passar uma borracha em tudo, como se nada tivesse acontecido.

Ostentando a pretensão em ser candidata ao Executivo, a vereadora Renata Fiório (PSD) não perdeu tempo e entrou no imenso espaço aberto pela soberba do prefeito Victor. Cravou a esperança em sucedê-lo, agora com mais capital político do que antes.

Claro que tudo é uma incógnita com a pandemia. Mas isso não dá o direito de o prefeito, que tinha uma eleição garantida, cometer os erros de estratégia elementares. Agora mesmo, quando se esperava que ele fosse reforçar seu time para enfrentar as pesadas acusações que vêm sofrendo e recuperar o prestígio eleitoral de antes, ele trocou sua secretária de Gabinete, Márcia Bezerra, por sua ex-procuradora Ângela Paula Barbosa. Ou seja: nada mudou. Ou seja: mudou pra pior. A não ser que seja uma estratégia acima da compreensão natural e humana.

A vereadora Renata, que sempre nutriu esperança em ser candidata, mas estava abafada pela soberania do prefeito, renasceu e trabalha agora com habilidade visitando antigas lideranças no Estado. O prefeito Victor ofereceu o caminho a ela, e não pode reclamar. Criou uma cobra eleitoral para pular em seu pescoço, já que a oposição pretende centrar força num candidato só para não dividir o eleitorado.

A política ensina, e o prefeito não aprendeu ainda que escolher o adversário às vezes é muito mais importante que escolher o aliado. Perdeu essa chance. Porque não ouviu, pela pouca idade, os conselhos de Tancredo Neves: “Se Deus não lhe deu a graça da humildade, peça a Ele a da dissimulação e finja que é modesto”.

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