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Riscos da ‘normalidade’

A partir dessa “normalização gradual”, Renato Casagrande destoa de outros gestores públicos

Em pouco mais de um mês, o Espírito Santo saltou de zero para 212 mortes na trágica estatística das vítimas da Covid 19, que mostra mais de cinco mil casos de contaminação confirmados na curva ascendente registrada, principalmente na região da Grande Vitória no início desta semana. Justamente nessa fase de alto risco, o governo do Estado decide implementar um chamado Plano de Convivência com a pandemia.

Com a abertura, mesmo que gradual e alternada dos estabelecimentos comerciais, e maior rigor na aplicação das normas de fiscalização, na realidade a medida representa uma contradição com as recomendações das autoridades médico-sanitárias. Com isso, o risco de contaminação é ampliado, e, em consequência, reduz ainda mais a capacidade de enfrentamento da pandemia.

Não há normalidade, pois a ameaça é real e, para comprovação dessa afirmativa, basta assistir o noticiário nas TVs, ver os jornais e as redes sociais. O cenário é aterrorizante e mais trágico quando revela que o vírus atinge em maior escala a população mais vulnerável, exibindo a cruel face do capitalismo, agravada, no Brasil, com as atitudes desconectadas do presidente Jair Bolsonaro, que demonstra não estar nem aí para o problema.

O destaque fica para os meios de produção e circulação dos lucros, justamente de onde saem pressões que atingem os gestores públicos e os levam a adotar medidas desfavoráveis e altamente nocivas à maioria da sociedade. Atuam por meio de mecanismos avançados, com os quais causam impactos sociais, da forma como é demonstrada na “Dialética do Esclarecimento”, na qual o filósofo Theodor Adorno, em parceria com Max Horkheimer, afirma que o saber está intrinsecamente ligado a processos de dominação, ou seja, o poder está mascarado pelo saber.

Nesse contexto, poderosos lobbies envolvem setores governamentais e mudam o direcionamento das ações. Estão nessa relação, extensa e muito prestigiada, confederações, federações e associações patronais, cujo papel principal é exercer influência nos corredores e gabinetes do poder público. O objetivo é, de um lado, exercer influência em benefício próprio ou de grupos e, de outro, mostrar e expandir conhecimento, que, direta ou indiretamente, irá favorecer seus próprios interesses.

A partir dessa “normalização gradual”, o governador Renato Casagrande destoa de outros gestores públicos, entre eles os do Nordeste, de São Paulo e Rio Grande do Sul, que seguem com as medidas indicadas pela ciência e com maior rigor no controle das atividades consideradas normais do dia a dia, a fim de conter a contaminação.

A situação envolve vidas humanas e como tal deve ser tratada, inclusive com a possibilidade do uso dos recursos do Fundo Soberano, que deveria ser um fundo para emergências. Criado em 2019, seria uma válvula de escape para enfrentar dificuldades de setores mais atingidos. A volta à “normalidade” representa uma ameaça à sociedade e dessa forma deve ser encarada..

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