As barreiras sanitárias das Centrais de Abastecimento do Espírito Santo (Ceasa) completam um mês de funcionamento nesta sexta-feira (15). Entretanto, apesar desse tipo de medida de prevenção ao coronavírus, para o prefeito de Santa Teresa, Gilson Amaro (DEM), e a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santa Teresa, Adriana Rúbia Raffele, esse local é o principal foco de transmissão da Covid-19 entre os agricultores da cidade. A afirmação gerou reação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares de Santa Maria de Jetibá, que a considera imprudente.
O Painel Covid-19, do Governo do Estado, registra até esta sexta-feira (15) 58 casos confirmados de infecção por coronavírus em Santa Teresa, além de um óbito. Do total de infectados, 19 são do distrito de Várzea Alegre, que é o local de maior contágio no município. Gilson Amaro e Adriana acreditam que a disseminação do vírus nessa localidade, de grande movimentação agrícola, se deu por causa das atividades na Ceasa.
Em Santa Teresa, segundo Adriana e Gilson Amaro, no que diz respeito ao coronavírus, uma das preocupações é com a prevenção na lavoura do tomate, cuja produção é realizada principalmente em Várzea Grande, e a venda desse produto na Ceasa. Adriana afirma que alguns produtores já foram infectados na Central e, ao retornarem para Santa Teresa, infectaram as famílias.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares de Santa Maria de Jetibá, Egnaldo Andreatta, reconhece que a Ceasa pode ser um local de risco de contaminação, mas acredita que não é possível culpabilizar um único local, um único segmento, pelo contágio do coronavírus.
Egnaldo destaca que Santa Teresa recebeu cerca de quatro mil turistas no feriado prolongado do primeiro de maio. Ele acrescenta que muitos moradores da Grande Vitória têm propriedade na cidade e costumam se deslocar com frequência para lá. “Será que esses agricultores não foram no comércio de Santa Teresa, não foram em nenhum outro lugar onde poderiam também terem sido contagiados?”, questiona. Egnaldo acredita que, diante das afirmações do prefeito e da presidente do sindicato de Santa Teresa, as pessoas podem evitar de comprar na Ceasa.
“Em meio a um momento de tanta dificuldade, não podemos gerar esse alarmismo. O momento é de sensibilidade, união, solidariedade. O risco na Ceasa deve ser resolvido cobrando que o governo melhore as ações lá. Os municípios têm que fazer sua parte, distribuir máscaras, por exemplo, e os sindicatos rurais devem dar orientações aos trabalhadores. A Ceasa é um fator de risco, mas não só ela, em Santa Teresa também há fatores de risco, assim como em todos outros lugares”, afirma o presidente do sindicato de Santa Maria de Jetibá.
“Devemos todos nos unir, encontrar os pontos onde podemos melhorar, corrigi-los para que esta cadeia produtiva não pare, pois se ela parar, daqui a alguns dias pode começar a faltar alimentos nos lares dos capixabas. Podemos ficar vários dias sem muitas coisas, mas sem nos alimentarmos não conseguimos. Vejo que é nosso papel como lideranças da agricultura capixaba identificar, avaliar e propor ações para diminuir o risco de contaminação de nossos agricultores para que eles continuem produzindo, transportando, comercializando os alimentos para que esses cheguem aos lares dos capixabas”, diz Egnaldo.
O professor do departamento de Medicina Social da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e especialista em doenças infecciosas e parasitárias, o médico Crispim Cerutti Júnior, afirma que a Ceasa é um local de concentração de pessoas provenientes de diferentes locais, o que favorece a transmissão do vírus. Entretanto, de acordo com Crispim, não é possível falar que as contaminações vieram exclusivamente de lá.
Crispim salienta que, pelo fato de Santa Teresa ser um município pequeno, é possível minimizar os impactos do coronavírus. Ele destaca que a transmissão se dá pelo contato interpessoal e com as superfícies. “É preciso fazer um alerta para a população sobre a necessidade de distanciamento, higienização sistemática, não utilização em casa da roupa que usou em ambiente externo, tomar banho quando chegar da rua, etc”, explica.
Quanto à Ceasa, Crispim pontua que ela não é o problema, e sim, “como se lida nesse espaço, como está sendo feita a comercialização”. O médico salienta que é preciso estar atento, por exemplo, a questões como chegada do produto e disposição à venda, além de fazer a gestão da retenção, ou seja, o controle da quantidade de pessoas que irão entrar de forma que não se formem filas na porta, evitando aglomerações.
Ações de prevenção na Ceasa
Por meio das barreiras sanitárias na Ceasa, segundo informações do Governo do Estado, neste primeiro mês foram abordados 10.090 veículos de carga, 27.540 veículos de passeio e 121.144 pessoas. Deste total, duas pessoas com suspeita de contaminação foram encaminhadas para atendimento médico. Ainda segundo o Governo, a orientação é que pessoas acima de 60 anos e que se enquadram no grupo de risco não comercializem nem comprem produtos no local.
Também foram disponibilizados, conforme informações no site da Central, sabão líquido, água e papel em todos os banheiros e nas nove pias instaladas, além de cancelamento de visitas monitoradas, distribuição de equipamentos de proteção individual, medição da temperatura dos produtores no mercado, trabalho alternado dos servidores nas modalidades presencial e remoto, recessos dos estagiários, entre outros.