Bolsonaristas evangélicos, em sua maioria, rejeitam o isolamento, agridem oponentes e se comportam tal qual rebanho
Por aqui, o apoio ao ex-capitão vai por esse caminho, sendo esses fiéis um dos poucos setores que ainda o seguram no cargo, antes do impeachment e da renúncia, pouco prováveis, ou do autogolpe que ele parece preparar e que avança, diante da omissão do Supremo Tribunal Federal (STF) e de lideranças políticas no Congresso.
Os bolsonaristas evangélicos, em sua maioria rejeitam o isolamento social, agridem oponentes e se comportam tal qual rebanho, promovendo aglomerações impróprias nesse tempo de coronavírus. Exalam ódio e reforçam uma relação antiga com o lado autoritário, com papel relevante na formação da sociedade brasileira, de uma forma especial a partir da década de 20 do século passado.
A organização chamada Cruzada ABC, formada por denominações evangélicas, como a “Igreja Nacional” na Alemanha, atuou conjuntamente com as forças repressoras na ditadura de 1964. Era o braço de poderosos grupos econômicos dos Estados Unidos, em colaboração com a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), nome de fachada do mecanismo norte-americano direcionado para manter o controle político-ideológico na América do Sul.
No golpe militar que deflagrou a ditadura no Brasil já havia uma estrutura de poder na área educacional, entre outras, garantindo a esses centros religiosos lugar de destaque ao lado do autoritarismo, como agora. O crescimento do poder político em congregações religiosas e entidades representativas de cristãos evangélicas, no Brasil e na América Latina, transforma as chamadas igrejas em centro de controle individualistas, autoritários e antidemocráticos.
Seus líderes constroem um discurso teológico-político extremamente conservador, apoiando-se em uma leitura equivocada da Bíblia, com mensagens de uma falsa esperança, cuja base se assenta na violência e na exclusão. O grupo de fiéis apoiadores de Bolsonaro que promove as manifestações, chamado de “Os 300 do Brasil”, inspirado na personagem bíblica Gideão, que aparece nos capítulos VI a VIII livro da Bíblia Juízes e também é mencionado na Carta aos Hebreus, nada tem a ver com a narrativa bíblica.
O movimento, com a capa de uma falsa espontaneidade, segue na esteira do golpe de 2016, com o processo antidemocrático contra a presidenta eleita Dilma Rousseff. Lideranças evangélicas de peso se uniram ao que existe de mais vergonhoso na política. Aécio Neves, Michel Temer, Eduardo Cunha, entre tantos outros, foram ungidos em nome da moralidade e dos bons costumes, com falsas citações do texto bíblico, possibilitando a eleição de Bolsonaro, turbinada com a fraude, agora revelada.
A Polícia Federal, segundo matérias divulgadas na imprensa nesse fim de semana, deixou para depois das eleições a divulgação de investigações de supostos crimes cometidos por familiares do presidente. Com esse comportamento, esse tipo de protestantismo, que se multiplica país afora, consolida valores democráticos ou a cidadania defensora de direitos humanos? Ou respeita outras identidades e convicções éticas, mesmo em discordância? É evidente que não.
A intolerância permanece, da mesma forma que no relato do filho do político, escritor e guerrilheiro Carlos Marighella, assassinado em 1969, Carlos Augusto. Em 1965, aos 15 anos de idade, ele foi chamado pelo diretor do Colégio Batista Sheppard, no Rio, onde estudava, para ouvir que, naquela instituição, filho de comunista não estudava. O clima, hoje, é o mesmo e tem tudo para ficar mais sombrio, como é natural nas ditaduras, muitas instaladas com força maligna, em nome de Deus.