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Jovens camponeses se manifestam pelo adiamento do Enem

Estudantes se somaram à campanha pelas redes sociais, que ganhou reforço com aprovação da suspensão pelo Senado

Somando-se às reivindicações de diversos lugares do Brasil, jovens camponeses do Espírito Santo também iniciaram uma campanha pelo adiamento da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que serve de acesso para as universidades. A insistência do Ministério da Educação (MEC) em manter o cronograma das provas, apesar da pandemia e paralisação das aulas em todo país, tem provocado polêmica.

Diante da inflexibilidade do governo, o tema foi levado ao Congresso Nacional e aprovado no Senado na noite desta terça-feira (1), por 75 a 1. A matéria segue, agora, para.a Câmara dos Deputados. Enquanto isso, as entidades da sociedade civil se mobilizam para pressionar os poderes pelo adiamento da prova.

“É em busca de diminuir ainda mais a desigualdade no processo seletivo que a Juventude Sem Terra se soma a campanha pelo adiamento do Enem, entendendo que sua realização nestas condições irão trazer perdas irreparáveis para a juventude da classe trabalhadora do campo e da cidade”, afirma Mariana Motta, educadora do campo e integrante do Coletivo de Juventude do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que lançou uma carta nacional pedindo adiamento da prova.

Divulgação/ MST-ES

Ela reconhece que o Enem ajudou a ampliar a entrada nas universidades, embora ainda seja necessário avançar mais para que todos possam ter acesso ao ensino superior.

“A intenção de realizar o Enem em meio a pandemia do Covid-19 materializa e escancara a política excludente do governo do Brasil, uma vez que as escolas estão paradas há cerca de dois meses e a juventude do campo, em sua grande maioria, não dispõe de acesso à internet, muitos não tendo computadores e outras formas de se preparar para este importante momento”, explica Mariana, apontando a evidente desigualdade nas condições, sendo que mesmo com propostas de ensino à distância, suas estruturas são precárias e estão longe de atender a amplitude dos processos de Educação do Campo.

“É uma grande tarefa das escolas de assentamento construir em seu cotidiano uma educação libertadora e omnilateral, e este grande objetivo para nós dificilmente será encontrado online, a considerar que nem as escolas do campo e tampouco os educandos têm acesso a internet, computadores e outros meios”, aponta a educadora.

Alécia Silva Lima é uma das estudantes que se prepara para o Enem e defende que a prova seja adiada. Quando as aulas pararam restaram as dúvidas: “como vou estudar? Como vai ser? Quando tudo vai ficar normal?”, perguntou-se.

Moradora do Assentamento Valdício Barbosa dos Santos, em Conceição da Barra, norte do Estado, ela quer cursar Psicologia na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e entende que a manutenção da data da prova demonstra uma despreocupação com as pessoas que não têm condições de estudar, evidenciando a segregação.

Divulgação/ MST-ES

Na minha casa, felizmente, tenho acesso a livros, internet, um local de estudo, apoio familiar, e isso vem contribuindo para os bons resultados nos estudos. Embora considere que tenha condições básicas para seguir estudando em casa, entende que essa não é a condição de todos. “Muitos dos meus amigos não têm acesso aos mesmos recursos para estudar, não têm um quarto próprio, não têm apoio familiar, às vezes não têm o básico para sobreviver”, diz.

A escola em que estuda tem laboratórios, biblioteca, sala de informática e apoio dos professores, porém muitos estudantes que dependiam dessa estrutura deixaram de ter acesso a ela com a suspensão das aulas. “O Enem nunca foi fácil, principalmente para quem não tem condições de estudar. Muitos alunos só aprendem aquilo que é ensinado na escola. A educação é para todos. Nós precisamos de aulas, nós precisamos de professores, nós precisamos de apoio”, reivindica a jovem.

Alécia lembra também que a pandemia tem afetado muito o psicológico dos estudantes, o que também pode interferir fortemente na preparação. “Muitas pessoas me disseram que não conseguem estudar pois não têm psicológico, não conseguem sentar e estudar tranquilamente, sabendo que muitas pessoas estão morrendo”, conta.

Diante da mobilização da sociedade civil e do Congresso, o ministro da Educação Abraham Weintraub se antecipou à votação no Senado e declarou à imprensa que faria uma enquete em junho para decidir se manterá a data, adiará por 30 dias ou suspenderá o exame até o fim da pandemia. Embora a decisão não contemple a reivindicação da campanha #AdiaEnem, que reúne diversas entidades da sociedade civil, indica que a pressão popular pode provocar um recuo do governo.

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