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EscoLAR: 30% dos alunos sequer acessaram a plataforma na internet

Comemorado pelo secretário Vitor de Angelo, os 70% de acessos não são garantias de aprendizado

Secom

Divulgado como um resultado positivo pelo secretário de Estado da Educação (Sedu), Vitor de Angelo, “o engajamento de 70% dos alunos da Rede Estadual à plataforma Google Sala de Aula”, traz, na verdade, os primeiros números do aprofundamento das desigualdades entre os estudantes capixabas durante a pandemia da Covid-19. 

O primeiro aspecto ruim revelado é que mais de 60 mil estudantes não estão sequer conseguindo acessar a plataforma em que os professores postam as atividades a serem feitas, com base nas aulas disponibilizadas em canais de TV aberta contratados pelo governo do Estado ao preço de mais de R$ 1 milhão, por 30 dias de transmissão.

O segundo ponto é a qualidade do acesso feito pelos outros 165 mil estudantes. Acessar a plataforma significa apreender o conteúdo? O aproveitamento tende a ser maior quanto mais avançada for a série, devido à maior autonomia dos estudantes mais velhos para entenderem o conteúdo e realizarem as atividades. No ensino fundamental, no entanto, as dificuldades são de ordens diversas e põem em xeque a eficiência da estratégia adotada pelo Programa EscoLAR.

Numa escola estadual de ensino fundamental (EEEF) que atende a dois bairros da periferia da Serra, na Grande Vitória, uma professora relata que apenas 10% dos alunos do oitavo ano e 30% dos alunos do 9º ano conseguiram realizar as atividades propostas na plataforma, ao longo das últimas cinco semanas de aulas não presenciais.

Com medo de represálias, ela pediu para não ser identificada e aqui será chamada pelo nome fictício de Ângela. Achando a princípio que poderia ser um problema apenas dos seus alunos, da sua turma, ela procurou o diretor da escola e descobriu que o fenômeno acomete a toda a escola.

A principal dificuldade, pelo menos dos adolescentes, provavelmente é a falta de acesso ao conteúdo das aulas pela TV, acredita Ângela. “O diretor disse que os alunos não estão conseguindo assistir às aulas”, conta.

Assim, a orientação seguida pelos professores é de publicar na plataforma, além das atividades e exercícios, também o link no YouTube das aulas, já que pela TV os estudantes não estão conseguindo assistir. O problema, ressalta, é que muitos dos alunos não têm pacote de dados para assistir aos vídeos, cerca de quatro horas por dia, três dias na semana.

Perguntada sobre o motivo das aulas não chegarem às TVs dos estudantes da Grande Vitória, a Sedu não nos respondeu até o fechamento desta reportagem.

Exercícios sem aulas

A resposta, no entanto, pelo menos no que se refere aos estudantes do interior, veio do presidente da União dos Dirigentes Municipais de Educação do Espírito Santo (Undime/ES), Vilmar Lugão de Britto. “Apesar de estar disponibilizado aos municípios [o conteúdo via TV aberta], boa parte não consegue acessar a TV, pois o sinal não é via satélite, é por cabo. Não chega no interior”, explica.

Assim, nas redes dos municípios menores – os maiores adotam outras estratégias –, os professores criaram grupos de WhatsApp e enviam as atividades às famílias, sem a possibilidade de aulas prévias para os estudantes. 
Uma minoria recebe os exercícios por e-mail ou presencialmente, mediante agendamento para retirada do material impresso na escola.

“Um grupo grande de escola iniciou no início de abril, depois um outro grupo. Um terceiro, menor, na semana passada”, relata Vilmar.

A orientação inicial é que as famílias produzam um portfólio das atividades feitas, para apresentaram no retorno das aulas presenciais, mas a estratégia pode ser modificada à medida que se entender que a suspensão das aulas se estenderá para muito além do primeiro semestre.

“As famílias estão sendo grandes parceiras, grandes aliadas, estão operacionalizando o que foi planejado pelo professor”, enaltece o presidente da Undime/ES.

A defesa da entidade, no entanto, permanece a de que essas atividades não presenciais não sejam contadas como dias letivos, devido à disparidade de possibilidade de acesso e entendimento do conteúdo pelos estudantes. “O que estamos fazemos nesse momento não é educação à distância, pois isso exige uma independência e uma autonomia que a criança não tem, além de uma formação específica para os professores. O objetivo é manter o vínculo com a escola, pois a perda da rotina do estudante é um fato grave”, explica. 

No momento, o foco dos gestores tem sido na disponibilidade de equipamentos e acesso à TV ou internet. Nesse sentido, a Assembleia Legislativa aprovou, na sessão dessa terça-feira (19), a Indicação 806/2020 do deputado Sergio Majeski (PSB) ao governo do Estado, com objetivo de distribuição de tablets para alunos de baixa renda e para os residentes em áreas rurais que estejam matriculados na Rede Estadual de Ensino.

Mas, como têm afirmado inúmeros professores das redes estadual e municipais contrários ao modelo de atividades não presenciais adotados pelo Estado e prefeituras, um equipamento eletrônico com internet não substitui um professor. “Há muitas aulas difíceis, em que os alunos não têm a menor condição de estudar sozinhos. E os pais sabem menos que eles, não conseguem auxiliar”, lembra a professora Ângela.

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