Diretor da UNE, Raphael Reis considera que nova data deve estar vinculada a fim do ano letivo e critica programa EscoLAR
Lançada por entidades estudantis, a campanha #AdiaEnem conquistou mais uma importante vitória. Nesta quarta-feira (20), o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e o Ministério da Educação (MEC) anunciaram oficialmente o adiamento da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), principal forma de acesso ao ensino superior no Brasil.
Um dos articuladores da campanha a nível estadual e nacional, Raphael Reis, diretor de Acesso ao Ensino Superior da União Nacional de Estudantes (UNE), entende que é um resultado a ser comemorado, já que foi a mobilização dos estudantes o principal fator de pressão não só sobre o governo, mas também sobre o Congresso Nacional.
Apesar dos apelos iniciais, o Governo Federal, representado pela figura do ministro da Educação Abraham Weintraub, havia se mantido intransigente quanto à mudança de data da prova, embora o país enfrente uma pandemia e a suspensão das aulas presenciais em todo território nacional. Nessa terça-feira (19), o ministro anunciou em seu Twitter que uma enquete no final de junho definiria se o Enem seria ou não adiado.
Mas depois da acachapante derrota no Senado, onde o projeto pelo adiamento foi aprovado por 75 senadores, com apenas um voto contrário, do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente da República, Jair Bolsonaro, e a sinalização de uma nova na Câmara Federal, o ministério resolveu recuar e optou pelo adiamento, que será decidido em votação pelos inscritos para ocorrer em 30 ou 60 dias, o que implicaria provas em dezembro de 2020 ou janeiro de 2021.
“O foco da campanha era pela suspensão imediata da data do Enem e acho que a sinalização do governo de recuo é uma clara derrota deles. Seguiremos mobilizados pelas redes sociais, participando das consultas e pressionando os representantes políticos”, diz Raphael. Para ele, a campanha #AdiaEnem significou um desafio para o movimento estudantil, já que na impossibilidade de ações e manifestações presenciais, teve que apostar todas as fichas nas campanhas virtuais e na pressão aos parlamentares por e-mail, telefone e redes sociais.
O resultado mostrou que a pauta conseguiu mobilizar para além dos estudantes, já que envolveu outros apoiadores como artistas e movimentos sociais, e também as famílias dos alunos que almejam ingressar no Ensino Superior.
O diretor da UNE entende que também saem fortalecidas as pautas do Fora Weintraub e Fora Bolsonaro, pois fica explícito o problema de má gestão do Governo Federal na Educação, já que estudantes encontraram problemas na inscrições que estão em curso e no ano passado, no primeiro ano do governo Bolsonaro, o exame já enfrentou uma crise diante de um erro na correção que causou grandes transtornos.
O adiamento, entretanto, ainda não contempla totalmente a reivindicação estudantil. Para Raphael Reis ainda é preciso acompanhar o desdobramento da pandemia para poder pensar numa data definitiva adequada para a prova. “É preciso que todos os estudantes completem o ano letivo para fazer o exame, e isso depende das respostas que serão dadas pelos governos estaduais”, afirma, já que parte dos alunos que farão a prova ainda não receberam parte do conteúdo que faz parte do teste de seleção.
No caso do Espírito Santo, ele aponta que o programa EscoLAR, promovido pelo governo estadual para a educação à distância durante a pandemia, tem uma série de limitações e não consegue atender à demanda dos estudantes, como o fato de alguns lares possuírem várias crianças e jovens que não possuem espaço adequado para estudos e que precisariam compartilhar computadores ou televisões para acessarem os conteúdos escolares.
As inscrições para a prova do Enem vão até a próxima sexta-feira (22).
Jovens camponeses se manifestam pelo adiamento do Enem
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