A informação foi reafirmada em coletiva de imprensa na tarde desta segunda-feira (25) pelo secretário de Estado de Saúde, Nésio Fernandes, e o subsecretário de Vigilância em Saúde, Luiz Carlos Reblin.
Segundo Nésio, o Espírito Santo tinha 60 leitos para Covid no primeiro mês da pandemia e chegará, em junho, a 700 leitos. Trata-se de “uma expansão robusta e ousada”, que não prejudica a oferta da rede privada, que é até mesmo “considerada por muitos desproporcional, considerando a população de quatro milhões de habitantes”, mas que “nos garante uma atenção de qualidade à população capixaba”, comentou.
Essa expansão tem sido feita na Grande Vitória e nas demais regiões do Estado, com exceção da região noroeste, “poque no conjunto de municípios dessa região há uma fragilidade de existência de UPAs [Unidades de Pronto Atendimento e Prontos Atendimentos] que possam avaliar o paciente grave por um ou dois dias”.
Não há sequer um Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) na região, informou o secretário, fazendo com que o paciente que é atendido numa unidade básica de saúde precise “ser removido diretamente para uma unidade hospitalar, ocupando um leito de enfermaria” – situação que, nas demais regiões, é resolvida em um serviço de pronto atendimento, onde ele permanece em observação por 24 a 48 horas.
Devido a esse conjunto de fragilidades no noroeste do Estado, o governo estuda a possibilidade de construir um hospital de campanha em Colatina, decisão essa que será tomada “nas próximas horas”, declarou.
Os hospitais de campanha, explicou Nésio Fernandes, “são estruturas hospitalares temporárias muito frágeis do ponto de vista assistencial e que possuem perfil de baixa e média complexidade”. Até mesmo os leitos mais avançados dessas estruturas não são leitos de UTI, enfatizou, mas sim leitos feitos para receber pacientes que se agravam nas enfermarias comuns e são deslocados para esses de cuidados mais avançados até que se abram vagas em UTI.
Atualmente, a ocupação de leitos de enfermaria chegou a 53%, destacou, o que mostra que a demanda que os hospitais de campanha podem atender já está sendo suprida pela rede atual, que ainda tem possibilidade de expansão em hospitais já existentes, seja na rede pública, privada ou filantrópica.
Testagem massificada
Além da expansão de leitos, ao sanar o gargalo da testagem, que se estabeleceu nas últimas semanas de maio, o Estado voltará a ter resultados mais rápidos sobre os exames feitos em pacientes hospitalizados e, com isso, “poderemos ter um giro mais rápido de pacientes, exigindo menor quantidade de leitos individualizados e de isolamento”.
É o que já está acontecendo, relatou, desde que começou a funcionar o protocolo capixaba para testagem precoce de todos os pacientes com sintomas gripais que tenham mais de 45 anos e alguma comorbidade para Covid-19 – população que corresponde a mais de 80% dos pacientes graves que chegam nas UTIs – antes do agravamento do seu quadro e da internação hospitalar.
“Se ele chega sem diagnóstico de Covid, precisa de isolamento”, diz. Mas com o protocolo, muitos pacientes já chegam com diagnóstico pré-hospitalar, podendo ser enviados para leitos de enfermarias conjuntas.
Represados
A importância da quantidade e velocidade de testagem é tamanha que o Estado enviará até terça-feira (26), cerca de 2,6 mil
testes que estão represados no Laboratório Central (Lacen) para o instituto de Biologia Molecular do Paraná, com expectativa de que até sexta-feira (29) todos os resultados sejam conhecidos.
“A partir de amanhã [terça, 26] nosso Lacen passará a liberar resultados novamente em até 48 horas desde a chegada dos exames [no laboratório]. Recuperaremos o desempenho que tínhamos antes da crise dos kits de extração”, afirmou, lembrando que a média tem sido de 500 a 600 exames por dia no Lacen, que já chegou a testar mais de mil testes em 24 horas.
Consciência cidadã
Segundo o Painel Covid-19, a ocupação de leitos de UTI era de 81,46% na média estadual e de 88,58% na Grande Vitória, segundo dados de domingo (24). Nésio Fernandes acrescentou que, na rede privada, a ocupação é de 63% em leitos de UTI para adultos e essa melhor situação se deve, em muito, a melhor capacidade de compra de equipamentos por parte da rede privada, em comparação à rede pública.
Essa expansão de leitos, destacou o secretário, tem sido feita com recursos do Tesouro Estadual e é fruto de uma “decisão sólida e robusta do governador Renato Casagrande de garantir leito para todos”. Haverá um momento, no entanto, que se chegará no limite, não só em relação à ocupação de leitos, mas devido à quantidade de pessoas que morrem pela doença.
“Não nos interessa que as pessoas percam suas vidas no leito hospitalar. Nos interessa salvar vidas, isso é o mais importante. Ainda que sigamos avançando na expansão de leitos, precisamos avançar no distanciamento social”, clamou, pedindo pela
“consciência cidadã” das pessoas, para que adotem o distanciamento voluntariamente, e elogiando as medidas tomadas por diversas prefeituras em tornar ainda mais rígidas as regras sobre distanciamento social, como Cachoeiro de Itapemirim, que fechou o comércio aos fins de semana, apesar da cidade estar com risco moderado, segundo o último Mapa de Gestão de Risco.
Falta apoio econômico para o isolamento
Apesar do elogio à maior restrição adotada por algumas prefeituras e do apelo à consciência individual das pessoas, o governo ainda não adotou a
Taxa de Transmissão (Rt) como parte da Matriz de Risco, o que, segundo especialistas, subiria significativamente a classificação de risco em todo o Estado, colocando toda a Grande Vitória como risco extremo e os demais municípios como risco alto, já que a atual Rt, de 1,84, é muito elevada e indica um crescimento exponencial perigoso, enfatizou a epidemiologista e professora da Ufes Ethel Maciel, integrante do Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NEE), coordenado pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), que subsidia tecnicamente a Sala de Situação de Emergência em Saúde Pública instalada por Casagrande para administrar a crise da Covid-19.
E ao invés de prover mais meios de apoiar os setores econômicos que deveriam fechar, a tendência tem sido a flexibilização, como a estabelecida no Plano de Convivência com a Pandemia, que permitiu a reabertura do comércio de rua inclusive nos municípios oficialmente classificados como risco alto, além da
reabertura das academias de ginástica também em todos os municípios capixabas a partir desta segunda-feira (25).
O Painel registra ainda, nesta segunda-feira (25), 10.365 casos e 465 óbitos pela Covid-19, e uma taxa de letalidade média no Estado de 4,49%.