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Maria Ortiz e outros bairros periféricos têm mais de 15% de letalidade

Em toda parte, pretos morrem duas vezes mais que brancos. Dados mostram: doenças mais letais são pobreza e exclusão

Sesa

Os números confirmam, dia após dia, que as mortes na pandemia de Covid-19 têm cor e endereço e que as doenças mais letais são a pobreza e a exclusão. Na Grande Vitória, bairros como Maria Ortiz, em Vitória, e Nova Rosa da Penha e José de Anchieta, na Serra, registram mais de 15% de letalidade. Na lista dos mais letais, em pelo menos oito, mais de 10% dos casos confirmados evoluem para óbito.

Numa busca rápida pelo Painel Covid desta terça-feira (26), bairros que se destacam são: Maria Ortiz, com 18,92% de letalidade, registrando 37 casos e 7 óbitos; Nova Rosa da Penha/Cariacica, com 16,22% (37 casos e 6 óbitos); José de Anchieta I/Serra, com 15,91%, 44 e 7; Jardim América/Cariacica, com 14,29%, 35 e 5; Bairro da Penha/Vitória, com 13,95%, 43 e 6; Tabuazeiro/Vitória, com 13,3%, 30 e 4; Rosa da Penha/Cariacica, com 13,04%, 23 e 3; Nova Carapina/Serra, com 12,50%, 32 e 4; São Torquato/Vila Velha, com 12,50%, 32 e 4; Bairro das Laranjeiras/Serra, com 12,04%, 57 e 8; Jardim Tropical/Serra, com 10%, 40 e 4; e Hélio Ferraz/Serra, com 10%, 29 e 3.

A comparação com bairros de áreas mais valorizadas comercialmente mostra a discrepância: Jardim Camburi/Vitória é o bairro com o maior número de casos em todo o Estado, com 271 confirmações, mas a taxa de letalidade é de 3,69%, referente a 10 óbitos até o momento. Ainda entre os primeiros do ranking de casos confirmados, a Praia de Itapuã, em Vila Velha, tem taxa de 2,29%, com 175 casos e 4 mortes; Praia da Costa/Vila Velha, o segundo bairro com mais confirmações, com 265, tem taxa de 1,89% e 5 óbitos. Na Praia do Canto/Vitória, a taxa é de 1,46%, para 2 óbitos em 137 casos. 

A comparação por raça também é desconcertante: pretos morrem quase duas vezes mais que brancos. As taxas de letalidade por raça, segundo o Painel são as seguintes, em ordem decrescente: Indígena (7,69%), com um óbito em 13 casos confirmados; Amarela: 7,04%, com 42 óbitos em 597 casos; Pretos: 6,47%, com 45 óbitos em 696 casos; Parda: 4,57%, com 161 óbitos em 3.521 casos; e Brancos: 3,56%, com 124 óbitos em 3.485. 

Os números de indígenas e amarelos, no entanto, não são passíveis de plena comparação por serem bem menores que os das demais raças, explica a epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel.

Numa série de artigos sobre a pandemia, publicados no portal da Ufes, a pesquisadora afirma que o novo coronavírus tem traçado dois caminhos: o dos infectados e o dos óbitos. “Ainda que as curvas aumentem de forma acelerada, os infectados aumentam em uma parte das cidades e os mortos em outra. A curva epidêmica parece subir de forma semelhante, mas a realidade da desigualdade revela sua face”, compara. 

Parece incompatível com a ciência, ressalva, “mas a pobreza mata lentamente, é uma doença social terrível. A pior de todos os tempos”, afirma. “Sem alimentos com nutrientes essenciais, sem acesso à água tratada, sem acesso à moradia digna, sem acesso a serviços de saúde em qualidade e quantidade”, descreve. “A diferença agora é que, com a Covid-19, a precariedade dos mais vulneráveis foi evidenciada em seu maior nível, tornando-se letal”, denuncia.

O Painel Covid registrou, nas últimas 24 horas, 22 óbitos e 524 casos, totalizando, até o momento, 487 mortes e 10.889 confirmações da doença. A taxa de letalidade do Estado está em 4,47%. O isolamento social dessa segunda-feira (25) foi de 48%. A ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) chegou a 78,57% na média estadual e 87,53% na região metropolitana.

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