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Mantida a atual taxa de transmissão, Estado chegará a 1,3 mil mortes em duas semanas

Ações de orientação e fiscalização precisam ser aproximar da realidade dos bairros, conclama epidemiologista Ethel Maciel

Hélio Filho/Secom

O Espírito Santo pode chegar a 1.327 mil mortes pela Covid-19 até o dia 15 de junho, quase 800 a mais que as registradas até o momento, caso a taxa de transmissão (Rt) da doença se mantenha nos atuais 1,7. A previsão consta na Nota Técnica nº3 do Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NIEE), coordenado por pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), e que subsidia tecnicamente a Sala de Situação de Emergência em Saúde Pública do governo do Estado. 

A Nota foi publicada nesta sexta-feira (29) e considera cinco cenários, variáveis em função das possíveis Rt que o Estado venha a registrar nos próximos dias. Caso ela suba para 1,8, como estava há alguns dias, o número de óbitos será de 1.430. O cenário mais otimista previsto pelos especialistas é de uma Rt de 1,4, com 1.071 mortes, ou 400 a mais.

O melhor dos cenários previsto, portanto, ainda está longe de apontar um controle da pandemia, o que só acontece quando a Rt fica menor do que 1, indicando que cada pessoa contaminada transmite o vírus para menos de uma outra, fazendo a curva de transmissão entrar em movimento descendente.

“Essas mortes são evitáveis. O Estado pode tomar decisões que as evitem”, afirma a epidemiologista Ethel Maciel, professora da Ufes e integrante do Núcleo. O aumento do isolamento social, afirma, precisa ser assumido de forma mais enérgica pelo poder público, que deve apoiar a população para que ela possa fazer a sua parte. “É complexo transferir responsabilidade do isolamento, se não há medidas de proteção social”, diz, lembrando que não há qualquer ação no sentido de renda mínima por parte do Estado e que as linhas de empréstimo não chegam ao empreendedores por excesso de burocracia. 

O lockdown já bate à porta do sul do Estado, seguindo apurou o Ministério Público Federal (MPF), onde já houve casos de negação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na Santa Casa de Misericórdia de Cachoeiro de Itapemirim nesta semana. Os dados sobre ocupação de leitos na região estão subestimados. Ao invés de 50%, mais de 80% dos leitos já estão ocupados, afirma o MPF, que recomenda à Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) que corrija os números divulgados no Portal Coronavírus.
“Garantia de leito não é garantia de vida”, ressalta Ethel. Por mais que se expanda a oferta de leitos, a possibilidade de internação não é garantia de sobrevivência à doença, que tem a maior taxa de letalidade entre as epidemias conhecidas pelos capixabas e brasileiros, muito mais que a dengue, zika ou chikungunya.

O próprio secretário de Estado de Saúde, Nésio Fernandes, e o governador Renato Casagrande (PSB) admitem a agressividade do vírus e adotam o discurso de que expandir leitos não é garantia de salvar vidas. A prática, no entanto, contradiz o discurso e provas dissi têm sido dadas seguidamente, com a flexibilização contínua das atividades econômicas: comércio de rua abrindo de forma alternada, academias de ginástica autorizadas e agora, shoppings centers reabrindo também a partir da próxima segunda-feira (1) – o decreto será publicado neste sábado (30). 

“É um absurdo!”, protesta a especialista, conclamando o governo a realizar um trabalho mais próximo da realidade do Estado, conhecendo as particularidades dos bairros e dos setores da cidade, identificando os pontos principais de aglomeração – cujo retrato não pode ser feito a partir somente de denúncias – e encontrando soluções reais para cada situação.

“Os CRASs [Centros de Referência em Assistência Social] estavam fechados, estão reabrindo agora. Os profissionais de assistência social conhecem as pessoas nas comunidades, são fundamentais pra dar mais capilaridade às ações”, sugere. A comunicação de orientação e prevenção, enfatiza, precisa ser adaptada à diversidade da sociedade. E a fiscalização precisa ser mais ativa também.

“Tem que ter um plano. Não pode ser se restringir a aumentar leitos. Isso é só uma parte do trabalho”, afirma. “A gente reclama que não tem articulação federal, mas comete o mesmo erro do ponto de vista estadual”, compara.

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