Especialistas reafirmam, após dados do inquérito sorológico, que governo precisa restringir mais a interação social se quiser salvar vidas
“A taxa de transmissão alta numa determinada região mostra que as medidas de enfrentamento da pandemia ainda não estão sendo suficientes para conter a contaminação, podendo levar a um aumento significativo do número de novos casos e, consequentemente, de óbitos”, avalia o matemático Fabiano Petronetto, professor da Universidade Federal do Estado (Ufes) e integrante do Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NIEE), que subsidia tecnicamente a Sala de Situação de Emergência em Saúde Pública do governo do Estado.
A análise foi feita após a divulgação, nesta segunda-feira (1), pelo secretário de Saúde, Nésio Fernandes, junto com o subsecretário de Vigilância em Saúde, Luiz Carlos Reblin, dos resultados da segunda etapa do inquérito sorológico realizado no Estado. “É possível considerar risco de sobrecarga no serviço de saúde”, reconheceu Nésio, em referência ao aumento estimado de pessoas infectadas nas duas últimas semanas, de 141%.
A partir dos testes rápidos e questionários aplicados nos dias 27, 28 e 29 de maio, foi possível observar que o total de cidadãos que já tiveram contato com o novo coronavírus saltou, no intervalo de duas semanas transcorridas desde a primeira etapa do inquérito, de 84.391 para 206.559 pessoas.
No interior do Estado, porém, o aumento foi ainda maior, de 1.300%, ou seja, fora da região metropolitana, o número de infectados tornou-se 12 vezes maior, já que a prevalência (percentual de infectados) saltou de 0,16% para 2,1%.
A taxa de transmissão (Rt) também é maior que na Grande Vitória. Enquanto o Rt médio estadual subiu para 1,85, no interior está mais próximo de 3, calculam os especialistas do Núcleo Interinstitucional.
Considerando que o interior concentra mais da metade da população (cerca de 51%) e apenas 25% dos leitos de UTI, um crescimento tão acelerado pode colapsar rapidamente todo o Estado, pois, sem conseguir leitos de internação no interior, como já acontece no sul, os pacientes são direcionados para a região metropolitana, onde a ocupação de leitos de UTI, segundo dados desta segunda-feira (1), já é de 90,45% (e de 82,44% na média estadual).
“São números muito preocupantes e todos devem entendê-los para compreender o momento grave que estamos passando na epidemia”, avalia o matemático.
Diante dos dados do inquérito, a epidemiologista e também professora da Ufes, Ethel Maciel, reafirma a necessidade de adoção de medidas extremas por parte do governo do Estado em todos os municípios, orientação que já vinha sendo dada há vários dias, somente com as previsões matemáticas feitas pelo NIEE.
O inquérito, ressalta, traz dados concretos, coletados em campo, que confirmam as previsões e, na verdade, mostram um quadro ainda mais grave. Pois antes do inquérito, o Rt calculado era de 1,7 e não de 1,85. E não se tinha dados do interior do Espírito Santo.
“Diante disso tudo, do crescimento exponencial do número de casos confirmados e de mortes, dos dados do inquérito e do represamento dos exames no Laboratório Central [2,6 mil testes que não puderam ser analisados no Lacen/ES e foram enviados para o Instituto de Biologia Molecular do Paraná, com resultados previstos para esta semana], vemos que já estamos com uma pressão muito grande no sistema de saúde. O Painel Covid não reflete a realidade dos fatos, pois tem sempre um atraso das informações. Apesar de estarmos mais ágeis que a média nacional, esse atraso dificulta a tomada de decisões, porque ele nos mostra sempre o passado. Esse atraso tem sido um dificultador”, ressalta Ethel.
Maioria dos novos infectados é preto ou pardo