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Projeto monitora Covid-19 nos quilombos do Espírito Santo

Quatro comunidades já registraram contágios pelo vírus, sendo a mais afetada Graúna, em Itapemirim

O projeto de pesquisa Africanidades Transatlânticas realiza um acompanhamento da situação de contágio por novo coronavírus nas territórios e comunidades quilombolas do Espírito Santo. Até o último boletim, foram registradas 14 pessoas infectadas pelo vírus em territórios quilombolas, sendo que duas delas vieram a óbito.

As mortes em decorrência da Covid-19 ocorreram no sul do Estado: uma mulher em Presidente Keneddy, na comunidade Cacimbinhas e Boa Esperança, e um homem em Graúna, quilombo no município de Itapemirim, que registra seis casos confirmados pelo governo.

Chama a atenção que no norte do Estado, onde se concentra o maior número de comunidades e população quilombola, sobretudo nos municípios de São Mateus e Conceição da Barra, ainda não foi registrado oficialmente nenhum caso de contágio. Em Presidente Kennedy, quatro pessoas contraíram o vírus e no quilombo de Monte Alegre, em Cachoeiro de Itapemirim, foi registrado o contágio de uma mulher, já curada.

Outro quilombo com casos é o de Araçatiba, em Viana, município que pertence à Região Metropolitana da Grande Vitória, com três pessoas contagiadas.

O levantamento feito pelo projeto Africanidades Transatlânticas também inclui o gênero das pessoas que registraram Covid-19, faixa de idade e comorbidades. Segundo Osvaldo Martins, além de mapear, o acompanhamento que vem sendo feito das comunidades busca também compreender as consequências nos quilombos do novo coronavírus e das medidas adotadas para frear sua expansão.

Entre elas ele cita a mudança do planejamento familiar com as crianças e adolescentes deixando de ir para a escola, ficando mais tempo em casa, e também gerando necessidade de suprir a alimentação que recebiam na merenda escolar. Outra situação preocupante é de agricultores que tiveram dificuldades para vender nas feiras, já que algumas foram fechadas, e também casos em que deixaram de fazer as vendas para as prefeituras pelo sistema de compra de alimentos para merenda nas escolas.

Embora o projeto Africanidades Transatlânticas tenha como foco central o trabalho com memória e tradições culturais afrobrasileiras, também traz entre seus objetivos acompanhar questões sobre saúde e doença nas comunidades quilombolas, vertente que passou a ser um dos focos do trabalho diante da situação de pandemia, já que os pesquisadores junto à comunidade já haviam observado vários casos de doenças que implicam em comorbidades que aumentam o risco de vida em caso de contágio pelo novo coronavírus.

Existente desde 2018, o projeto de pesquisa interdisciplinar utiliza tanto arquivos e documentos históricos como a história oral e o trabalho de campo, buscando estabelecer diálogos com essas africanidades na diáspora e no próprio continente africano.

Os professores Osvaldo Martins e Sandro Silva devem publicar em breve um capítulo de livro sobre a questão do Covid-19 nos quilombos do Espírito Santo.

Recentemente, a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) lançou em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA) o Observatório da Covid-19 nos Quilombos, que realiza um levantamento nacional sobre a situação nestes territórios tradicionais. Lá estão registrados 203 casos confirmados e 51 óbitos no Brasil.

“A maioria dos territórios está distante de hospitais estruturados e próxima a municípios onde a saúde é sucateada e não chegam nem mesmo os testes rápidos. Mais uma vez, deliberadamente, a população quilombola desse país é colocada no esquecimento, na invisibilidade e é excluída do processo de distribuição das políticas públicas. Neste sentido, a plataforma tem o objetivo de concentrar as informações em um espaço com frequentes atualizações”, afirma Sandra Maria Andrade, coordenadora Executiva da Conaq.

Nesta quarta-feira (3), às 16h, acontece um seminário online com o tema “Impactos da Covid-19 na perspectiva das comunidades quilombolas”, que será transmitido por meio de uma sala virtual e também pela Rádio Universitária 104,7 FM. O debate contará com presença do professor Osvaldo Martins, da professora e doutoranda Olindina Serafim Nascimento, integrante da Comissão Quilombola de Sapê do Norte, e Arilson Ventura, coordenador da Conaq e da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas Zacimba Gaba. A mediação será de Fanny Serafim, graduada em Serviço Social e mestranda.

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