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Suspensão do transporte coletivo pode ser solução na Grande Vitória

Outra medida urgente apontada por especialistas é a testagem periódica dos profissionais “da linha de frente”

Ceturb-ES

Testagem periódica dos profissionais de saúde, mesmo os assintomáticos, e suspensão do transporte coletivo na Grande Vitória. Essas são duas medidas urgentes a serem consideradas pelo governo do Estado na condução da pandemia de Covid-19, segundo destacaram dois especialistas do Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NIEE), que assessoria tecnicamente a Sala de Situação de Emergência em Saúde Pública. 

“Há uma contradição entre o discurso e a ação”, avalia o matemático Etereldes Gonçalves Junior, professor da Universidade Federal do Espirito Santo (Ufes). A principal contradição, destaca, foi a decisão por reabrir estabelecimentos comerciais justamente quando a segunda etapa do inquérito sorológico mostra “agressividade” perigosa da velocidade de transmissão do vírus. 


Flexibilizar gradualmente o comércio e compensar essa ação com um pedido ou súplica para que as pessoas fiquem em casa é uma estratégia que não está dando certo, afirma o matemático, sugerindo uma medida adotada na cidade de Florianópolis, com grande possibilidade de também funcionar na Grande Vitória: “suspender o transporte público”, diz.

A atuação incisiva sobre o transporte coletivo está igualmente no centro de atenção da epidemiologista Ethel Maciel, também professora da Ufes e integrante do NIEE.

“O transporte público é o local de maior interação entre as pessoas hoje, muito propício pra transmissão do vírus. Estamos vendo os transportes lotados, sem melhoria, e falta transparência na divulgação dos dados sobre a lotação dos ônibus e fiscalização sobre uso de máscaras e distância entre as pessoas nas filas”, observa.

“Em todos os lugares que controlaram a pandemia houve controle do transporte público. Alguns impediram totalmente e, em outros, houve regras e fiscalização muito rígidas”, diz, destacando a capital catarinense, onde o transporte foi totalmente suspenso. A cidade, que tem população de 500 mil habitantes, ficou 34 dias sem registrar um novo óbito, ocorrendo o oitavo caso no último sábado (6). A capital capixaba, com 400 mil habitantes, confirmou 133 dos 871 óbitos registrados no Estado até esta segunda-feira (8).

A medida, explica, deve ser acompanhada de providências por parte das empresas de serviços essenciais para garantir a locomoção de seus empregados, bem como por parte do setor público para prover o transporte dos trabalhadores da chamada linha de frente, como saúde, segurança e serviço socioeducativo.

Alinhada com o fechamento dos shoppings, a suspensão do transporte coletivo não prejudicaria os pequenos comércios de bairros, onde as linhas de crédito anunciadas pelo Banco do Espírito Santo (Banestes) e Banco de Desenvolvimento do Estado (Bandes) não chegam e onde a fragilidade econômica dos empreendedores não sustenta seguidos lockdowns, como previsto de ser adotado em breve pelo governo do Estado, caso a ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) continue a subir e o isolamento social, a descer.

Na última sexta-feira (5), o isolamento foi de 44,68%, o mais baixo desde o dia 13 de abril. E a taxa de ocupação de UTI foi medida em 88,01% nesta segunda-feira (8) na Grande Vitória e 84,22% na média estadual.

Testagem periódica

Outro ponto central no controle da pandemia, desataca a epidemiologista Ethel, é a testagem periódica dos profissionais de saúde e de segurança, mesmo os assintomáticos. Desde o dia 31 de março, relata, quando presidia o Comitê Operativo Emergencial de Covid-19 (COE) da Ufes, o Ministério Público Federal (MPF) foi orientado sobre essa necessidade, quando perguntou como deveria ser a testagem no Espírito Santo. “Também orientamos pelo Inquérito Sorológico. Ele está acontecendo, mas não está servindo para guiar as ações corretamente. E a testagem dos profissionais de saúde e de segurança não está sendo feita”, lamenta, salientando que ela deveria acontecer a cada quinze ou vinte dias no máximo. 
“Nosso plano não pode ser só abrir leitos. Temos que ter um plano pros profissionais de saúde e de limpeza, nos hospitais públicos e privados. Imagina uma auxiliar de serviços gerais que limpa a enfermaria de um hospital e volta pra casa de ônibus. Que equipamentos de segurança ela tem? Pode se contaminar, estar assintomática e transmitir pra outras pessoas, em casa, no transporte público”, alerta. “Os profissionais de saúde hoje são as pessoas mais abandonadas pelo Estado. Tinham que ter um plano especial de emergência”, cobra, lembrando que o Brasil é o número um em letalidade de enfermeiros.

“O Estado está chegando nesse ponto porque medidas anteriores não conseguiram reduzir as contaminações e as mortes. É falta de planejamento. Mas nós podemos ainda fazer a correção do rumo dessa pandemia”, conclama.

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