Divino de São Lourenço, um dos 37 municípios de risco alto, recebeu apenas R$ 24 mil para combate à pandemia
O novo Mapa de Risco da pandemia do novo coronavírus no Espírito Santo tem 37 municípios com risco alto, 41 com risco moderado e nenhum com risco extremo ou baixo. O anúncio foi feita pelo governador Renato Casagrande (PSB) na tarde deste sábado (13) por meio de videoconferência, onde ele também anunciou a decretação de luto oficial de três dias pelas mais de mil vítimas fatais da Covid-19 até o momento no Estado.
Com a ocupação de leitos de UTI abaixo de 90%, o governador explicou que a decisão, baseada na Matriz de Risco, foi por não decretar as medidas de restrição máxima (lockdown), que já foram apresentadas na ultima quarta-feira (10), de forma a prevenir a população para quando a situação extrema for alcançada.
Com validade entre a próxima segunda-feira (15) e o domingo (21), o Mapa tem uma nova regra de funcionamento: os municípios classificados como risco alto manterão as medidas qualificadas de restrição por no mínimo 14 dias, que é o tempo de incubação do vírus, mesmo que apresente melhora nas condições de controle da pandemia. Mas se o contrário acontecer, um moderado apresentar características de risco alto no decorrer dos dias, ele muda sim de classificação.
Por quem dobram os sinos
Comentando os resultados da terceira fase do inquérito sorológico, apresentados horas antes, Casagrande enfatizou que o a taxa de transmissão do vírus diminuiu um pouco, mas ainda está muito elevada, em 1,6. “Ainda é um crescimento da curva, uma fase crescente de contágio”, disse.
O governador também comentou a carta publicada em conjunto pela Arquidiocese de Vitória e pelas Dioceses de Colatina, Cachoeiro de Itapemirim e São Mateus, intitulada “Por quem dobram os sinos?”, em que as lideranças católicas afirmam que muitas mortes poderiam ter sido evitadas “se as restrições adotadas [pelo governo] tivesem sido ampliadas e não afrouxadas” e que “as decisões políticas devem ser tomadas, estritamente, com base no conhecimento técnico e científico, caso contrário, outras milhares de vidas serão sacrificadas e muitas famílias sofrerão a perda de seus entes queridos”.
“Concordo com 100% com a carta. Há uma responsabilidade individual. Temos que ter empatia e compaixão para preservar a vida das demais pessoas. Há uma necessidade de um compartilhamento dos líderes da administração pública dos municípios estados e da União. Concordo plenamente com a tese dos bispos, só que a carta foi injusta, porque igualou todos os níveis, o esforço que os municípios estão fazendo, que os governadores estão fazendo, com o mesmo nível da União, que hoje não tem uma centralidade. Faltou destacar nesta carta, a ausência da centralidade, da coordenação nacional por parte do governo federal, se não todos se igualam. Em termos de responsabilidade sim, mas não pode se igualar em termos de ação. As ações têm sido diferentes de um e de outro, precisava ter esse destaque”, comentou.
Voltando a criticar a condução da crise pelo presidente da República, Casagrande repudiou a fala de Jair Bolsonaro (sem partido) na sexta-feira (12), em que ele “incentivou as pessoas a invadirem os hospitais pra ver se os leitos estão ocupados ou não. Em diversos estados houve problemas com pessoas invadindo hospitais”, repudiou, citando o ocorrido no Hospital Dório Silva na sexta-feira (12), o que causou “risco aos pacientes e aos servidores, porque circulam em áreas com paciente Covid e áreas que não têm pacientes Covid”.
17 mil testes por milhão de habitantes
Casagrande anunciou também que o governo conseguiu “resolver o problema dos testes”, referindo-se a testes represados no Laboratório Central (Lacen). “Até amanhã, domingo, todos serão liberados”, garantiu, comemorando que o Laboratório voltará a entregar resultados em até 48 horas após entrada do material para análise.
“Quase 70 mil testes já foram feitos. Temos 25.502 que testaram positivos, uma parte delas curadas. Nós no Espírito Santo temos 17.276 testes por milhão de habitantes. A média brasileira é de 6.421 testes por milhão de habitantes, nossa média é de 2,5 vezes maior. É o primeiro ou segundo em número de testes por milhão de habitantes”, sublinhou.
Limite é de 800 leitos de UTI
O investimento na expansão de leitos hospitalares também foi relembrado, tendo sido abertos 1.300 leitos exclusivos para pacientes de Covid-19 desde fevereiro, 636 deles de UTI. O número é equivalente a 13 hospitais de campanha, comparou. “Um hospital de campanha custa cinco milhões, 10 milhões, e funciona por 90 dias. Nunca descartamos o hospital de campanha, mas nós decidimos deixar um legado para a população capixaba”, argumentou.
A previsão de limite de expansão, afirmou Casagrande, é de 800 leitos de UTI exclusivos para Covid-19, sendo que 700 deles devem ser alcançados até o final de junho. “Nós vamos continuar abrindo leitos, mas há a necessidade da participação individual das pessoas. Leitos de UTI salvam vidas, mas não salvam todas as vidas. O que salva todas as vidas é o distanciamento social”.
Lembrando que a pandemia de Covid-19 é a pior crise mundial desde a gripe espanhola, de 1919 e a crise econômica de 1929, Casagrande voltou a dizer que tem tido que decidir entre uma medida ruim e uma pior. “Não tenho escolhas boas e melhores aqui (…) Eu preciso muito de vocês. Ajudem a gente nesse trabalho, tendo esse comportamento de ficar em casa e quando necessário sair pra algo essencial, use a máscara!”, rogou.
Apenas R$ 24 mil
O novo município a elevar seu grau de risco, o 37º de risco alto, é Divino de São Lourenço, na região do Caparaó. Menor em população, com pouco mais de 4,5 mil habitantes, e também com um dos mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) e PIB per capita, o município recebeu, até o momento R$ 24 mil do governo federal para combate à pandemia, segundo o secretário de Saúde, Osvaldo das Neves Figueiredo.
O recurso tem sido investido principalmente na compra de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e outros insumos, principalmente testes rápidos IGm e IGg, que estão sendo aplicados prioritariamente nos profissionais de saúde, sintomáticos e assintomáticos.
O município adquiriu 200 testes e recebeu 140 do governo do Estado. A testagem maciça dos trabalhadores elevou rapidamente o número de casos confirmados, que eram três em 28 de maio e subiram pra 65 nesta sexta-feira (12). A estratégia tem gerado polêmica no município, onde alguns testados positivos alegam terem testado negativo em outros municípios.
Em nota, a Secretaria de Saúde afirmou que “desconsidera todas as testagens realizadas que contradizem o resultado positivo desta municipalidade”, enfatizando que, na metodologia utilizada, foi feita “separação do sangue e do plasma para ter maior eficácia dos resultados e evitar falsos negativos”.
A expectativa é de receber mais R$ 140 mil, do montante aprovado no Congresso Nacional e cuja primeira parcela é aguardada para a próxima segunda-feira (15). Sem hospital próprio – no prédio do antigo hospital funciona estrutura administrativa da secretaria e alguns serviços ambulatoriais – a elevação do grau de risco não representa qualquer aporte extra de recursos. “Não podemos receber verba a mais, porque não temos como investir em leitos hospitalares nem equipamentos ou equipe de UTI”, explicou.
Desde que o município foi classificado como moderado, a opção da gestão municipal foi deslocar os agentes de saúde que estavam nas barreiras sanitárias para uma fiscalização nas ruas e estabelecimentos comerciais, evitando aglomerações.