A ação totalmente equivocada empreendida no Dório Silva, na última sexta-feira, se encaixa no clima do autoritarismo
Uma ação muito distante da política séria e comprometida com a sociedade e uma demonstração de despreparo e imaturidade foi o que se viu na última sexta-feira (12), protagonizada por um grupo de deputados estaduais, principalmente quando se vive a situação de uma pandemia como a atual. Comportando-se além das prerrogativas constitucionais, cinco deles invadiram o Hospital Dório Silva, sob a justificativa de inspecionar a assistência dada a vítimas da Covid-19.
Na realidade, a ação empreendida, totalmente equivocada, buscava reunir elementos para ampliar o leque de criticas às medidas adotadas pelo governo do Estado para conter o avanço do coronavírus, prosseguindo com os ataques registrados durante a semana, nas sessões virtuais da Assembleia Legislativa.
Na quarta-feira (10), os deputados Vandinho Leite (PSDB), Lorenzo Pazolini (Republicanos) e Carlos Von (Avante) acusaram o governo de conduzir erroneamente o enfrentamento à pandemia do Estado, em discursos acolhidos pelos também deputados Torino Marques (PSL) e Danilo Bahiense (PSL). São esses os integrantes do grupo que realizou a “inspeção” hospitalar.
Da tribuna da Assembleia, eles exercem o dever e o direito de fiscalizar, identificar erros e corrigir percursos, usando as prerrogativas legais e a liberdade de expressão. Isso está garantido, mesmo que seus discursos estejam mais para um embate político eleitoral do que para verdadeiros cuidados médico-sanitários, até mesmo porque nenhum deles pertence à área de saúde. Sendo assim, a invasão seria mais apropriada, caso fosse vista como normal, para Pazolini e Bahiense, que são policiais civis e, por isso, acostumados a esse tipo de diligência.
De real mesmo, o que existe são interesses eleitorais em jogo, considerando que alguns do grupo são candidatos a prefeito, e outros, seus apoiadores de campanha. Ressaltar esse contexto é necessário para identificar a gritante diferença entre o direito constante do exercício parlamentar e a motivação para a invasão ao hospital.
A ação ocorreu exatamente 24 horas depois de o presidente Jair Bolsonaro sugerir a seus seguidores que fossem a hospitais e registrassem cenas que pudessem contribuir para a sua criminosa cruzada contra as recomendações médico-sanitárias para conter o coronavírus. Fica difícil acreditar em coincidência e na justificativa de que surgiram denúncias.
A invasão ao Dório Silva se assemelha a outras registradas em cidades brasileiras logo depois da “ordem” presidencial e segue na direção contrária à crítica colaborativa, por meio do diálogo e do debate transparente, no exercício democrático do princípio do contraditório. Os parlamentares têm o dever de fiscalizar, de contrapor às ações do Executivo, é evidente.
Esse direito, porém, não significa promover constrangimento e desrespeito a quem já está hospitalizado, padecendo desse mal que ameaça a sociedade, com famílias perdendo seus entes queridos, sem liquidez e vivendo uma imensa desorganização na economia. Agindo dessa forma, assume uma atitude passível de punição.
Tanto é assim que a Procuradoria-Geral da República (PGR) determinou que os procuradores-gerais de Justiça reúnam informações nos estados para responsabilizar políticos e outras pessoas que tenham promovido desordem ao entrar em unidades de saúde, contribuindo para aumentar a contaminação e causando vexame a trabalhadores e pacientes. Que os eleitores, de igual modo, despertem na hora de fazer suas escolhas.
Na contramão da ciência, mais voltada a salvar vidas humanas do que a mostrar serviço, o chefe da Nação estimula esse tipo de invasão e coloca o País, mais uma vez, no clima de tensão permanente, a fim de manter a interlocução com o seu eleitorado. Faz aquilo em que foi treinado: estratégias de guerra, com as quais consegue ativar os que se guiam pelo mesmo ideal autoritário.