Organizado pela comunidade, ato teve a presença do secretário Ramalho e do pároco da Catedral de Vitória
O Terreirinho tem uma simbologia, afirma o integrante do Raízes da Piedade, Jocelino Júnior. Ele relata que é onde os irmãos Rhuan e Damião foram assassinados, em março de 2018. Foi ali perto que, segundo Jocelino, Fabrício foi morto. Por causa do ato desta manhã, bandeiras brancas foram colocadas nas janelas das casas como uma forma de se expressar contra o extermínio de jovens e em solidariedade às famílias enlutadas, já que o recomendado foi que se evitasse aglomeração, deixando a participação para os familiares e amigos.
O ato contou com a presença do secretário estadual de Segurança Pública e Defesa Social, coronel Alexandre Ramalho. Os participantes, acompanhados da Polícia Militar e do pároco da Catedral Metropolitana de Vitória, Renato Criste, fizeram algumas pausas para momentos de reflexão. Em um deles, o sacerdote destacou a esperança que se coloca nos jovens, mas, ao mesmo tempo, essa juventude é impedida de concretizar seus sonhos por ter sua vida interrompida.
“A juventude, que é esperança do país; a juventude, que é esperança de um futuro melhor; que traz sua alegria, seus projetos, suas lutas. Mas nem todos jovens conseguem desenvolver seus sonhos, alcançar a vitória das suas lutas”, lamentou Renato Criste. O pároco destacou também que dias melhores são possíveis, mas para isso é preciso lutar por igualdade. “Trazemos conosco sonhos, projetos de dias melhores. Temos desejo de que a paz seja realidade, e ela pode ser realidade por meio da justiça, das oportunidades, da igualdade de direitos, do respeito”, destacou.
No decorrer do ato, os participantes seguraram cartazes apontando para a responsabilidade do Estado diante do extermínio de jovens, pedindo paz na Piedade e destacando que “vidas negras importam”. Os moradores também recordaram períodos de paz. “Anos atrás, a gente podia subir e entrar em qualquer lugar dessa região. Podia ficar até altas horas da noite. Infelizmente, já não é a mesma coisa. Até quando isso vai acontecer? Até quando mais vidas serão perdidas aqui?”, questiona um morador que vive no bairro há 42 anos.
O medo de perder um familiar para a violência preocupa as pessoas, segundo uma moradora que afirmou temer pela vida de seus filhos. “Será que vou perder meus filhos? Será que outras mães também irão perder seus filhos? A gente só quer justiça. A gente gosta de morar na comunidade, quer ficar nela, não quer abandoná-la. Essa foi a comunidade que cada um escolheu para ter os filhos e criar”, enfatizou.
Jocelino destaca a necessidade de políticas públicas para acabar com a guerra do tráfico, “que mata inocentes, destrói famílias”. “O tráfico tem destruído nossas periferias por falta de políticas públicas. Onde tiver educação, esporte, lazer, vai haver outra forma de participar e transformar o mundo”, defende.