O Governo do Estado e a Prefeitura de Vitória estabeleceram compromissos com os moradores do Morro da Piedade, no Centro, em uma visita técnica que ocorreu na quinta-feira (18). Na ocasião, foram apresentadas 15 demandas, que segundo as autoridades presentes, serão atendidas. Para garantir que isso ocorra, foi criado um Comitê Local de acompanhamento das ações apresentadas ao secretário de Estado de Segurança, coronel Alexandre Ramalho, e demais autoridades presentes, “para que não seja mais uma vez apenas promessa”, como aponta a comunidade.
O comitê será composto por lideranças locais e outros moradores que queiram participar. “Vamos pensar sobre o que é necessário fazer. É preciso que escutem a comunidade para implementação das ações, para que não sejam feitos projetos que fiquem esvaziados por não atenderem às necessidades das pessoas”, diz a integrante do Instituto Raízes da Piedade, Mariana Cristina Ramos de Araújo.
Entre as demandas apresentadas para representantes do Conselho Estadual de Direitos Humanos, Prefeitura de Vitória, Secretaria Estadual de Segurança Pública e Defesa Social (Sesp) e Secretaria de Estado de Direitos Humanos (Sedh), que estiveram na visita técnica, estão a ampliação do atendimento de saúde com mais psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, médicos, agente de saúde e outros profissionais; avaliação de todos os postes da comunidade para troca de lâmpadas queimadas; demolição de casas abandonadas; criação e fortalecimento de projetos de cultura e esporte; instalação de câmeras em pontos estratégicos da comunidade; e mutirão de limpeza fixo.
“Todas as quinze demandas são de muita importância, mas gostaria de destacar a questão da criação de projetos e programas sociais para atender crianças, jovens, adultos e idosos; e a ampliação do atendimento de saúde com mais psicólogos. Precisamos desse tipo de atendimento, pois as pessoas ficam muito abaladas com os crimes que acontecem. Não é fácil morar em um lugar onde as pessoas entram e matam qualquer um que veem pela frente”, diz Mariana.
A presidente da Associação de Moradores do Morro da Piedade, Daiana Rodrigues da Silva, relata que no mesmo dia da visita técnica, a Polícia Militar esteve na comunidade para auxiliar os moradores a verificar os locais onde devem ser instaladas câmeras de segurança e iluminação pública. “Estiveram à noite para nos acompanhar, pois deficiência em iluminação pública é algo que só pode ser visto nesse horário. Como os moradores têm medo de andar pelo bairro à noite, eles nos acompanharam”, explica Daiana.
A presidente da associação acredita que a visita técnica é resultado da mobilização feita pelos moradores durante o ato em memória dos nove jovens assassinados na Piedade nos últimos dois anos. Durante o ato, que aconteceu na quarta-feira (17), familiares e amigos das vítimas saíram da quadra de esportes da Piedade e seguiram rumo ao Terreirinho, percorrendo as ruas de modo a abarcar os locais onde os assassinatos ocorreram.
O Terreirinho tem uma simbologia, afirma o integrante do Raízes da Piedade, Jocelino Júnior. Ele relata que é onde os irmãos Rhuan e Damião foram assassinados, em março de 2018. Foi ali perto que, segundo Jocelino, Fabrício Santos de Almeida foi morto em 11 de junho. Durante o ato, bandeiras brancas foram colocadas nas janelas das casas como uma forma de se expressar contra o extermínio de jovens e em solidariedade às famílias enlutadas, já que o recomendado foi que se evitasse aglomeração, deixando a participação para os familiares e amigos.
O ato contou com a presença do secretário estadual de Segurança Pública e Defesa Social, coronel Alexandre Ramalho. Os participantes, acompanhados da Polícia Militar e do pároco da Catedral Metropolitana de Vitória, Renato Criste, fizeram algumas pausas para momentos de reflexão. No decorrer do ato, os participantes seguraram cartazes apontando para a responsabilidade do Estado diante do extermínio de jovens, pedindo paz na Piedade e destacando que “vidas negras importam”.