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Perigo anunciado

Receitar medicamentos sem eficácia comprovada no combate à Covid-19 beira a irresponsabilidade

Na fase de risco acentuado de contaminação pelo coronavírus, quando o Painel Covid-19 confirma 34.238 casos e 1.297 óbitos no Espírito Santo em decorrência da doença, é de estranhar o registro de estímulos ao uso geral do medicamentos cloroquina e hidroxicloroquina por agentes públicos locais, sem levar em conta os devidos cuidados contidos nas recomendações das autoridades do setor. 

Cria-se, desse modo, uma atmosfera de insegurança na população, que já experimenta essa mesma sensação como consequência direta da ausência de um programa de combate à doença por parte do governo federal, que encara a situação com uma visão equivocada e prefere politizar a crise causada pelo ataque do coronavírus, ao ponto de deixa o Ministério de Saúde sem um titular efetivo.

Nesse sábado (20), o secretário de Saúde, Nésio Fernandes, anunciou uma medida que amplia os cuidados aos pacientes, ao encaminhar aos municípios informação oficial sobre o protocolo que deve ser adotado por aqueles que decidirem por fazer uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento de pacientes com Covid-19 e que fizeram o pedido formal de dispensação do medicamento, que é enviado pelo Ministério da Saúde.

No ofício, orienta que os municípios publiquem um ato normativo instituindo o protocolo municipal e que façam a previsão de consumo médio mensal do medicamento, destacando que o Estado mantém a não recomendação, respeitando, no entanto, a decisão dos municípios de adotar protocolos distintos. Isso desde que “consiga garantir que a prescrição possa ser acompanhada por uma segurança jurídica normativa desse ato médico”, alertando que o uso “não isenta o profissional médico da responsabilidade civil e criminal caso ocorra algum evento adverso”.

A recomendação do secretário, além de representar o necessário cuidado no âmbito da medicina, faz parte, também, de mecanismos de defesa aos ataques que vem sofrendo de seguidores da política adotada pelo governo federal, que insiste, desde o início, no uso da cloroquina e do hidroxicloroquina. Esse procedimento, vale lembrar, resultou na saída de dois ministros, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, substituídos pelo general Eduardo Pazuello.

O fato é que o cenário é grave e os dados revelados em levantamentos estatísticos abrem uma perspectiva nada favorável, considerando a quebra das recomendações, como o isolamento social, por exemplo, que na última sexta-feira foi de 44,63%, o segundo menor do gráfico disponível no portal Coronavirus, que teve início no dia 13 de abril e cujo menor índice foi registrado no dia 10 de junho, de 44,38%. E pior ainda no índice da empresa de tecnologia InLoco, que realiza monitoramento a partir dos dados enviados pelas operadoras de telefonia de celular: 35,3%, o menor desde 18 de março.

O quadro é sombrio e, por isso, beira a irresponsabilidade que agentes públicos se valham muitas vezes de prerrogativas profissionais para “receitar” medicamentos cuja eficácia ainda não foi comprovada.  

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