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​Caso de polícia

As demonstrações de ódio não se resumem a manifestações isoladas e já atingem instituições, criando um clima de guerra

Exatamente três meses depois de declarar que “não vai ser uma gripezinha” que iria derrubá-lo, no dia 20 de março, o presidente Jair Bolsonaro viu o País alcançar, no último sábado (20), a marca de 50 mil mortes por coronavírus, confirmando o equívoco da sua fala, o que não chega a ser nenhuma novidade. Suas preocupações, agora, se voltam para livrar o filho zero um da cadeia, explicar as relações familiares com o miliciano Fabrício Queiroz, e a saída pela porta dos fundos do desastrado Abrahan Weintraub, o pior ministro da Educação de todos os tempos. 

Ergue-se no País um cenário conturbado, cuja construção contou com recursos da elite financeira, a partir de 2013, por meio de manifestações do Movimento Brasil Livre (MBL) e outros que se seguiram. Representando a força das ruas, manipuladas para garantir a primazia das corporações nos negócios do Estado, essas correntes legitimaram um governo sem projetos ou programas, mediante a demonização da política e um antipetismo exacerbado, hoje transformado em mais um caso de polícia.

Bolsonaristas de todos os matizes políticos, em especial os que ainda insistem em não emudecer depois da prisão de Fabrício Queiroz, operador da milícia de elite, vestem outra indumentária e tentam assumir um papel honroso na história, postando-se ao lado de verdadeiros democratas. Inspirados na figura do presidente, seus seguidores protagonizam manifestações de ódio e violência país afora, sem exceção.

A onda de violência assume proporções preocupantes, com explosões de ódio que poderão colocar o País em uma convulsão social, caso não sejam contidas. Nesse domingo (21), uma mulher desconhecida visivelmente transtornada arrancou faixas e as cruzes fincadas na Praia de Camburi, em Vitória, em uma manifestação pacífica para marcar as 1.300 mortes causadas pela Covid-19 no Espírito Santo. Aos gritos dizia defender a democracia e chamava os manifestantes de “petistas”.

Trouxe ao público, mais uma vez, a marca da demonização imposta a um partido político por meio de uma engenhosa arquitetura jurídico-midiática, iniciada em 2013, que encontrou campo fértil em sistemas religiosos ávidos por benesses. Termos como “comunista”, “esquerda”, entre outros, passaram a servir para apontar o “inimigo” para aqueles que, sem condições de manter um diálogo ou mergulhar em um debate, com troca de ideias com direito ao contraditório, escolhem o caminho da agressão.

As demonstrações de ódio não se resumem a manifestações isoladas. Já penetram em instituições e congregações religiosas, conduzidas por lideranças, cujos reflexos impactam a sociedade. São frutos das falas de Bolsonaro, que coloca em prática suas estratégias de comunicação, a fim de manter seu eleitorado cativo e, dessa forma, cria um clima de guerra permanente.

O País vive em um cenário de desastre, com presidente sem condições de governar por razões que vão além de sua incapacidade, já demonstrada, para gerir o Estado. O clima de guerra alcançou a sua família, transformando-se em mais um caso de polícia, com todos os ingredientes de um excelente roteiro de filmes sobre a Máfia.

Só que o caso é real e atinge a toda uma nação, com mais de 50 mil mortes por uma pandemia que avança sem ter um programa de controle centralizado, uma vez que o presidente está mais preocupado em desatar laços que o prende às milícias e que jogam por terra a bandeira de luta contra a corrupção, que ajudou a elegê-lo. Um quadro cujo final aponta que as explicações à sociedade terão que ser anunciadas a partir da porta da cadeia, onde o Queiroz se encontra.

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