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‘Um pacto social para restringir movimentação por 21 dias’, conclama epidemiologista

Em audiência virtual no MPES, Ethel Maciel pede por testagem, monitoramento e isolamento dos mais vulneráveis

Lissa de Paula/Ales

“Temos muito trabalho a fazer. A minha proposta é que a gente firme um grande pacto social pela restrição de movimentação das pessoas por pelo menos 21 dias. Precisamos de um pacto de restrição de movimento, como vamos chamar, não me interessa. Precisamos de um tempo pra organizar o sistema e ir de casa em casa descobrindo os casos e monitorando, [porque] não é mandar a pessoa pra casa para chegar grave no sistema de saúde”. 

O pedido foi feito pela epidemiologista Ethel Maciel ao final da audiência pública organizada na manhã desta sexta-feira (26) pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES) no âmbito do Programa Pacto pela Vida. “Sempre podemos melhorar. Que pacto é possível?”, perguntou, enfatizando o maior cuidado que deve ser tomado no interior, onde a maioria dos municípios não possui hospitais, o que pode levar a muitos óbitos no trajeto até a unidade hospitalar. 


Segundo a quarta etapa do inquérito sorológico, o Índice de Transmissão (Rt) tem se reduzido sim em todo o Espírito Santo, mas ainda está muito elevado e requer medidas mais drásticas de circulação de pessoas, para evitar que novos surtos elevem o número de mortos.

Atualmente em 1,33 no interior, o Rt indica que cada 10 pessoas infectam 13 e essas 13 infectam outras 17. “Se continuarmos do jeito que estamos, no início de julho teremos que enterrar mais 500 pessoas. É a previsão do nosso grupo de pesquisa, que envolve a Universidade Federal do Espírito Santo, o Instituto Jones e outros órgãos de governo. Serão mais de dois mil mortos até início de julho”, alertou.

“Já salvamos muitas vidas, mas podemos fazer melhor”, pediu, pontuando as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) elementares para o controle da pandemia, sendo que a primeira define como critério fundamental para a retomada de atividades que gerem aglomerações, o alcance do Rt menor que 1. “A França reabriu escolas e teve que fechar por causa de novos surtos”, disse.

As outras recomendações tratam da Vigilância epidemiológica, que é uma garantia constitucional e precisa ser fortalecida no Brasil e no Espírito Santo. “Temos que ter capacidade de testar e isolar e nós não estamos fazendo isso bem feito. Outros países estão fazendo melhor”, citando o auxílio emergencial de R$ 600,00 como muito ruim, visto que o próprio governo federal estipula que o salário mínimo é de R$ 1.009,00.

Da parte do governo do Estado, afirmou que “nossas críticas contra a decisão do governo de flexibilizar atividades comerciais e sociais não têm caráter político, tem caráter técnico”. O transporte coletivo, sublinhou, é um dos principais locais de transmissão e estão usados pelos trabalhadores.

“Não vimos mudanças nesse aspecto que dê segurança pro trabalhador que é convocado ao trabalho. Como as mulheres vão fazer pra voltar ao trabalho sem creches e escolas? Um percentual importante das famílias brasileiras têm mulheres como chefes. Como e onde ficam as crianças da classe trabalhadora convocada ao trabalho?”, indagou.

Garantir o isolamento social
“Convoco os prefeitos e o Estado numa articulação pela atenção primária”, conclamou. “Precisamos ampliar as esquipes de saúde da família, fornecer Equipamentos de Proteção Individual [EPIs] para esses agentes de saúde. Termômetros de mão, oxímetros, que é um aparelho muito barato, para monitorar a saturação de oxigênio para que as pessoas não cheguem em estado grave nos hospitais”, explicou.

“Precisamos testar e dar garantia de isolamento”, salientou, citando fala anterior do Padre Kelder, sobre a vulnerabilidade das populações das periferias, onde há tantos domicílios com poucos cômodos, muitos moradores, e até mesmo com condições sanitárias frágeis.

Padre Kelder, em nome da Arquidiocese de Vitória, pediu “que as instituições públicas tenham mais clareza em suas ações, principalmente no que diz respeito ao controle da movimentação e aglomeração de pessoas, assumindo uma responsabilidade que é só sua, sem tergiversar como está acontecendo, cedendo a pressões de determinados grupos, colocando em risco a vida da população (…) Muitas mortes serão evitadas se as restrições comerciais forem retomadas e o controle da circulação e aglomeração de pessoas forem intensificados”, explanou.

Mais do que nunca, precisamos defender a vida, rogou. “Sobretudo aquelas que, em tempos comuns, já são vítimas e alvos da desigualdade social. Seremos nós, membros do poder público, das instituições religiosas e da inciativa privada que responderemos a Deus e a História pelas vidas que nos são confiadas e que estão morrendo. É dever do poder público zelar e criar as condições mínimas necessárias para que os pobres possam sobreviver à pandemia”, asseverou.

Também participaram da audiência pública a procuradora-geral de Justiça, Luciana Andrade; o governador Renato Casagrande; o presidente da Assembleia, Erick Musso (Republicanos); o cardiologista e paliativista Henrique Bonaldi; o médico Adeniltom Rampinelli; a médica trans e ativista da causa LGBT Natalia Becker; o prefeito de Viana e presidente da Associação dos Municípios do Espírito Santo (Amunes), Gilson Daniel; o Pastor Evaldo, da 1ª Igreja Batista da Praia da Costa; a coordenadora nacional de Articulação Política do Fonsanpotma, Mãe Yara; a secretária do Conselho Estadual do Idoso, Martha Nunes; o presidente da Central das Comunidades, Marcelo Siqueira; o presidente da ES em Ação, Fábio Brasileiro; a representante do Movimento Cultural de Vitória, Stael Magesck; o tetracampeão mundial de Futebol de Areia, Bruno Malia; a coordenadora da Associação Grupo Orgulho, Liberdade e Dignidade, Déborah Sabará; e a psicóloga Gina Strozzi.

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