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Como enfrentar a ascensão conservadora no Espírito Santo?

Pergunta foi tema de debate que reuniu representantes do PT, PCdoB, Psol, Rede e movimentos sociais

Um debate realizado pela internet reuniu, nessa quinta-feira (25), representantes de diversos partidos e movimentos progressistas do Espírito Santo. Organizado pelas Brigadas Populares, o encontro teve como tema “Como enfrentar a ascensão conservadora no Espírito Santo”. A transmissão foi gravada e pode ser acompanhada no link abaixo. Em resumo, a seguir, algumas das questões levantadas.

O advogado e militante do Psol, André Moreira, considera que esses setores que se manifestam conservadores e patriotas, embora usem a bandeira do país como símbolo, nada têm de patriotas. Pelo contrário, assumem um projeto de país que submete os interesses da população brasileira a interesses internacionais, sobretudo dos Estados Unidos e Israel.

Ele avalia que o conservadorismo no Brasil sempre esteve contra os interesses nacionais e os direitos e garantias conquistados pelo povo brasileiro, incluindo os avanços da Constituição de 1988 que vão sendo aos poucos minados nos últimos anos por medidas do executivo e legislativo. O advogado aponta que as reformas Trabalhista e da Previdência são prova disso, junto a outras medidas, como mais recentemente o marco regulatório do saneamento básico, aprovado nesta semana.

Atendendo à provocação do título do evento, o vereador de Vitória Roberto Martins, do partido Rede, questionou que não considera que a extrema-direita ampliou sua influência nos últimos anos como conservadora e sim como reacionária, que busca trazer de volta do passado questões que foram superadas pelos avanços civilizatórios. Para ele, o governo de Jair Bolsonaro tem características típicas do populismo: um personalismo quase messiânico com seus seguidores, o patrimonialismo com uso das instituições para fins privados e a ausência de uma ideologia, se apropriando de outras de acordo com os contextos.

No raciocínio do vereador, o bolsonarismo tem elementos políticos próximos ao fascismo, mas este era um movimento nacionalista na economia, enquanto Bolsonaro toma emprestado a ideologia neoliberal. Roberto Martins considera que o governo muda de posição de acordo com as conveniências no Congresso Nacional, símbolo da corrupção e fisiologismo que o bolsonarismo dizia combater.

Várias crises de uma vez

Isabella Mamedi, militante das Brigadas Populares, ressaltou que as atuais dificuldades vividas no Brasil e no Espírito Santo por conta da pandemia têm origens anteriores. Em seu entendimento, a crise sanitária vai ter consequências agravadas pela ausência de políticas públicas nos últimos anos e aumento das políticas de austeridade, que têm como um dos marcos a aprovação do teto de gastos a nível nacional, mas também encontra respaldo em muitas outras medidas do executivo e legislativo federal e estadual nos últimos anos.

Amanda Verediano, integrante da Consulta Popular, aponta que a convergência de crises política, econômica e social junto à nova crise sanitária muda radicalmente o mundo da política e a vida das pessoas, trazendo impactos desastrosos. Ela considera que três fatores são fundamentais para o agravamento da crise com o início da pandemia: a crise econômica internacional, com recessão, desemprego, aumento da desigualdade; o impacto da disseminação e contágio do vírus e o número de mortes na população brasileira, com impactos indimensionáveis para gerações futuras; e o negacionismo de Bolsonaro ao subestimar por diversas vezes a doença, evidenciando sua visão de colocar o lucro acima da vida, privilegiando interesses de parte do empresariado brasileiro, enquanto ataca áreas como ciência, educação e cultura.

Para ela, diante da atual conjuntura, na qual o governo desenvolve sua estratégia de construção de caos social, a defesa da vida e da democracia no Brasil pede que a estratégia do momento deve ser de isolar ao máximo o governo e construir uma ampla coalização democrática, inclusive com os setores liberais descontentes com Bolsonaro.

Ao mesmo tempo, ela também aponta a necessidade de construir uma frente popular de esquerda para apresentar uma saída para a crise brasileira. O mesmo ela considera que vale para o nível estadual, onde embora não governe, o bolsonarismo ganha força e o governo estadual encampa o projeto do grande empresariado. Ela lembrou episódios como a visita chamada de invasão no Hospital Dório Silva por um grupo de deputados e a reação de uma bolsonarista ao retirar faixas de protesto contra as mortes por Covid-19 na Praia de Camburi, em Vitória.

Já André Moreira considera equivocado que a esquerda participe da composição de uma frente junto a setores de direita, inclusive aqueles que apoiaram o impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016. Ele entende que a saída é formar uma frente anticapitalista de esquerda, baseada em um programa político para o país, atribuindo parte do descrédito da esquerda nos últimos anos aos acordos feitos pelos governos petistas com os setores de centro e direita.

A representante das Brigadas Populares, Isabella Mamedi lembra a pressão crescente por atos de rua no Brasil. Ela entende que neste momento de crise profunda não há como ficar em cima do muro e desenha um cenário com dois polos: os fascistas e os antifascistas. Nesse sentido, Isabella ressalta que num primeiro momento, Renato Casagrande (PSB), junto com outros governadores, se posicionou contra o governo federal e suas medidas ou falta de ações para combate à pandemia. Porém, com o tempo ela observa um deslocamento de posição do governo, que atribui a um pacto com as elites econômicas capixabas, iniciando uma reabertura do comércio mesmo com os contágios e mortes crescendo no Estado.

Para Isabella, a luta deve ser na defesa do isolamento social ampliado com distribuição de renda, criando condições para que as pessoas fiquem em casa. Mas, com a não realização desta, surgem indagações: como se mobilizar por direitos em um momento em que uma das bandeiras é para ficar em casa?

Roberto Martins, da Rede, acredita que diante da pandemia, o ideal é intensificar as movimentações e manifestações utilizando as redes sociais, para não ampliar o risco de contágios, e retomar a pressão nas ruas pelo impeachment quando for seguro.

Impeachment e eleições

Tanto o vereador Roberto Martins como o deputado federal Helder Salomão, do PT, avaliam que já há elementos suficientes que justifiquem o impeachment do presidente Jair Bolsonaro. Roberto aponta que o presidente acumulou uma série de crimes de responsabilidade e que nas vezes em que ocorreu impeachment no Brasil foi em períodos de crise econômica, o que se repete agora, combinado com casos de corrupção, uma combinação que costuma ser fatal para os mandatários.

Helder Salomão aponta a Lei 1.079, que trata de crimes de responsabilidade, e o artigo 85 e 37 da Constituição como pontos passíveis para o impeachment, fora a própria eleição ser considerada questionável. O deputado federal aponta a eleição de Bolsonaro como fruto de fraude, já que considera que o juiz Sergio Moro, depois ministro do novo presidente, decretou a prisão do então líder das pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva, e a campanha do presidente eleito em 2018 foi baseada na difusão massiva de notícias falsas.

Prefeito de Baixo Guandu, Neto Barros, do PCdoB, considera importante ressaltar e relembrar que o governo Bolsonaro é de direita, pois talvez quando o prestígio do bolsonarismo caia, aqueles que apoiaram sua eleição e governo tentem se desvincular e alegar que o presidente não representa a direita.

Mas analisando ao longo da história o eleitorado do Espírito Santo, Neto considera que este tende a ser mais progressista do que conservador, em seu julgamento considerando as eleições para o governo do Estado e a capital, Vitória, que tem maior peso político, onde foram eleitos na maioria das vezes partidos ou coligações de centro-esquerda, derrotando as forças mais à direita. Ele lembrou também do caso de Albuíno Azeredo, primeiro governador negro eleito no Brasil.

Para Roberto Martins, a conjuntura adversa pede estratégia do campo progressista, que no seu entendimento não deve se aventurar, evitando lançar candidaturas que não sejam razoavelmente viáveis para disputar o poder, para retomar espaço para este campo na institucionalidade.

Helder Salomão indica que o momento é de construir alternativas e que nenhum partido conseguirá fazê-lo sozinho, chamando à união de todas as forças de esquerda, não só dos partidos mas também dos movimentos sociais.

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