Ação nacional reforça preocupação crescente em oferecer produtos saudáveis e nutritivos no enfrentamento à pandemia
Iniciativa que já contempla 16 estados do Brasil, o Mutirão do Bem Viver é uma das iniciativas que está realizando a doação de alimentos agroecológicos para famílias e comunidades em situação de vulnerabilidade agravada pela pandemia do novo coronavírus. No Espírito Santo, contando com cerca de 30 voluntários, já deu apoio a cerca de 400 pessoas no bairros Jabaeté, em Vila Velha, e Morro do Macaco, em Vitória.
O processo é fruto de uma articulação nacional que busca construir uma rede de solidariedade entre pessoas do campo, da floresta e da cidade. Os recursos de doações são arrecadados nacionalmente e divididos entre os estados. Desde abril, já foram doadas mais de 2 mil cestas agroecológicas para 65 territórios, beneficiando moradores em situação de rua, assentamentos, favelas, ocupações urbanas e rurais, territórios tradicionais, quilombolas e indígenas. A campanha de doações arrecadou mais de R$ 360 mil dos R$ 500 mil da meta e continua aberto a doações.
No caso capixaba, os alimentos são adquiridos do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). “Com isso, buscamos fortalecer tanto as famílias agricultoras quanto aquelas que mais estão sofrendo com a fome e a falta de renda nestes tempos de pandemia”, diz Maria Novaes, uma das voluntárias do projeto no Espírito Santo.
O Mutirão do Bem Viver realiza cadastros de voluntários, de agricultores familiares e de comunidades que necessitam de doações. “Nossa ideia é justamente fortalecer famílias agricultoras nesse momento e levar esse alimento de qualidade, que preserve a biodiversidade para quem precisa. Mas nosso horizonte é a soberania alimentar, estamos distribuindo cestas nesse momento de forma emergencial pois é necessário como resposta à pandemia”, afirma Maria. Porém, o projeto pretende num segundo momento apoiar outras ações como a implantação de hortas comunitária nas comunidades para apoiar na construção da soberania alimentar nos territórios.
Além da entrega dos alimentos agroecológicos, também são levados kits de higiene e limpeza para as comunidades.
Além do Mutirão do Bem Viver, que vem atuando desde maio no Espírito Santo, outras iniciativas vêm manifestando preocupação com uma questão essencial: de que as famílias em situação de vulnerabilidade social possam ter acesso a uma alimentação de qualidade, sem agrotóxicos, nutritiva e que reforce a imunidade diante da pandemia, já que as cestas básicas doadas não possuem um valor nutricional tão elevado.
A preocupação vem também dos agricultores como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), que além das vendas regulares, têm realizado doações durante a pandemia para as famílias sem condições de adquirir os alimentos.
O MST doou até o momento cerca de 30 toneladas de alimentos de seus assentamentos e acampamentos para comunidades de diversos municípios do Espírito Santo. MPA e MST também se juntaram para reivindicar que os recursos o Plano Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) volte a comprar alimentos da agricultura familiar, como é determinado por lei, deixando de beneficiar apenas o setor atacadista e proporcionando que o alimento agroecológicos de assentamentos, pequenas propriedades, quilombos e outros territórios chegue aos alunos e suas famílias nesse momento excepcional. Depois de uma manifestação em frente à Prefeitura Municipal de São Mateus, eles conseguiram que o município se comprometesse com as compras da agricultura familiar.
Junto à Consulta Popular e Levante Popular da Juventude, o MST do Espírito Santo também está atuando por meio do projeto Periferia Viva, de alcance nacional, que foi lançado oficialmente no Estado no última dia 2 de julho, embora já venha atuando desde antes em algumas comunidades periféricas da Grande Vitória, com objetivo de alcançar também territórios urbanos nos municípios do interior.
Outra iniciativa surgiu em Cariacica por meio do Instituto Aprender Cultura e do Construir no Presente, entidades do bairro Flexal II que realizaram uma campanha de financiamento coletivo no site Benfeitoria, que está possibilitando a doação de 170 kits que incluem cesta básica, alimentos agroecológicos dos assentamentos do MST e produtos de higiene e prevenção ao coronavírus para moradores do bairro e da região do entorno.
De parte do poder público, foi lançado no dia 25 de junho o programa AlimentarES, em que o Governo do Estado vai fazer a compra de pequenos agricultores e doar “cestas verdes” centro do ES Solidário, programa que vem coordenando as doações de alimentos e materiais de higiene e limpeza no Espírito Santo.