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Pesquisa verifica ação antiviral da Vitamina D sobre o novo coronavírus

Rede de pesquisadores da Ufes, Ifes e IFSP utilizou química computacional para chegar aos resultados

Um estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo e de São Paulo (Ifes e IFSP) verificou mais uma potencial função da Vitamina D, que é atuar como antiviral contra o novo coronavírus, causador da Covid-19. 

“Nossos experimentos mostraram que a Vitamina D se ligou fortemente na MPRO, a protease principal do SARS-CoV-2, especificamente na região que corresponde ao sítio ativo, onde se ligaria um fármaco inibidor, sugerindo que a Vitamina D pode apresentar ação antiviral”, relata uma das autoras do estudo, a Dra. Simone Queiroga Brito Gonçalves, pós-doutoranda em Química na Ufes, sob orientação do professor-doutor Eloi Alves da Silva Filho, outro autor do artigo sobre o estudo


O método utilizado foi a Docagem Molecular, uma ferramenta computacional utilizada para prever a interação entre um receptor (nesse caso, a enzima MPRO do coronavírus) e um pequeno ligante (a Vitamina D). “O primeiro modelo de Docagem Molecular usado foi o chave-fechadura, onde o receptor seria comparado a uma fechadura e o ligante com melhor encaixe nessa fechadura, a chave. Entende-se por melhor encaixe aquele que tem maior afinidade e estabilidade”, explica.

A cientista ressalta que “testes laboratoriais de bancada são necessários para confirmar nossos resultados, pois a Vitamina D passa por uma série de vias até alcançar o vírus”, e que serão realizados assim que possível, mas que a qualidade dos estudos teóricos, computacionais, são inquestionáveis”.

A técnica foi criada por três químicos – Martin Karpluz, Michael Levit e Arieh Warshel – que ganharam o Prêmio Nobel de Química em 2013 pela invenção. “Não tem como negar a qualidade do trabalho”, assegura.

As pesquisas de Simone sobre a Covid-19 se iniciaram com colaboração do Prof. Dr. Arlan da Silva Gonçalves, do Ifes Vila Velha, também autor, junto com Osmair Vital de Oliveira, do IFSP, que completa o quarteto científico.

Imunomoduladora por excelência

O que se pode dizer até o momento, afirma Simone, com base em vasta literatura científica acumulada ao longo de décadas em vários países, é que níveis adequados de Vitamina D no organismo são essenciais para o bom funcionamento do sistema imunológico, permitindo que cada indivíduo consiga manter sua saúde, combatendo de forma eficiente os mais diversos microrganismos pelos quais possa entrar em contato.

“A Vitamina D já está bem elucidada na literatura como moduladora do sistema imune e é preciso que ela esteja em concentrações entre 50 e 100 nanogramas por mililitro (ng/mL) no sangue”, informa. “Praticamente todas as células do nosso corpo têm receptores da vitamina D. A presença dela altera diversas reações químicas”, salienta.

No caso da Covid-19, os estudos indicam que a imunidade elevada, com níveis adequados de Vitamina D, pode levar o paciente a sofrer apenas sintomas leves da doença, desde que não tenha comorbidades, entre as quais Simone destaca problemas cardíacos e pulmonares, hipertensão, diabetes e obesidade. “A obesidade provoca um alto grau de inflamação em todo o corpo, devido a uma resistência à insulina”, explica.

A Vitamina D, portanto, se apresenta como um potencial antiviral, só que mais eficiente e seguro que os encontrados na maioria dos medicamentos, ressalta, devido à elevada toxidez e indesejados efeitos colaterais. “A vitamina D só mostra toxidez se acima de 100 ng/mL”, diz, lembrando que, atualmente, a maioria da população está com taxas muito inferiores a essa e nem sabe que pode e deve elevá-las até o limite de 100ng/mL. “Até 100 ng/mL elas estão bem protegidas e sem toxidez”, ressalta.

O exame de sangue que mostra o nível de vitamina D é aquele que meça a 25-hidroxi Vitamina D. O ideal é um valor entre 50, máximo 100, diz, alertando para a recomendação deficiente em voga atualmente no Brasil, de 20 ng/mL como sendo suficiente.

Tomar sol

A forma mais natural e barata de regularizar o nível de vitamina D no organismo é tomar sol. Cerca de 15 minutos no horário mais quente do dia, com a maior parte possível do corpo exposta a esse “sol a pino”.

“As pessoas fazem uso do filtro solar para prevenir câncer de pele, mas o tempo de exposição para produção de vitamina D não é capaz de levar ninguém ao câncer. É um tempo que garante produção de vitamina D sem risco de câncer”, assegura.

Como na cidade é quase impossível essa experiência cotidiana, principalmente com a condição de isolamento social, a recomendação é pela suplementação oral. O mais indicado é o medicamento em gotas, pois a Vitamina D é lipossolúvel, ou seja, ela tem o óleo como veículo.

Citando o Protocolo Coimbra, Simone diz que, em média, são necessários 15 a 20 mil unidades por dia. “O Dr. Cícero Coimbra recomenda de 10 a 15 mil unidades para pessoas com peso em torno de 50kg e 20 mil unidades pra quem tem peso entre 80 e 100 kg”, diz.

Pilares da saúde

Simone também faz questão de enfatizar a necessidade de uma alimentação saudável, preferencialmente orgânica e repleta de vegetais crus, especialmente brócolis e cúrcuma, como mais um fator protetor “capaz de elevar as funções imunológicas”, ressalta, citando conhecidos inimigos da boa imunidade: açúcar, alimentos industrializados, frituras, agrotóxicos, sedentarismo e estresse.

Os fatores genéticos também são importantes, lembra, bem como a Epigenética – a Regulação da Expressão Gênica, que está além da Genética. “A Genética determina as características físicas e fisiológicas de uma pessoa”, disse a Século Diário, por ocasião da divulgação do Workshop sobre Terapia Gerson, realizado em novembro passado, na Associação Capixaba de Combate ao Câncer Infantil (Acacci).

Há uma forte influência dos fatores ambientais e do estilo de vida sobre a expressão dos genes, explicou. “É como um livro, que contém um grande código [Código Genético]. Assim como várias páginas desse livro podem ou não ser lidas, diferentes genes, responsáveis por doenças crônicas, degenerativas e de base inflamatória (como por exemplo o câncer) podem ser silenciados”, metaforizou.

Nesse sentido, o estilo de vida é fundamental. “A má alimentação, a intoxicação, a falta de micronutrientes, o estresse e o sedentarismo inflamam o organismo. E, frequentemente, um fator emocional representa a gota d’água para que todo esse desequilíbrio se transforme em uma doença. Assim como é possível adaptar um Software a um Hardware, as doenças genéticas podem ter a sua expressão minimizada e modulada por um estilo de vida saudável”, comparou.

São os “pilares da saúde”, elenca: alimentação, atividade física, meditação e suplementação.

Suplementação em massa

O Dr. Cicero Coimbra, criador do Protocolo Coimbra, citado pela Dra. Simone em um de seus inúmeros vídeos disponíveis na internet, chegou a afirmar que a suplementação com Vitamina D deveria ser utilizada como política pública para controlar a pandemia de Covid-19.

“Se você quisesse parar agora essa pandemia, você deveria seguir o que se fazia há várias décadas atrás com as crianças na Alemanha. Daria 600 mil unidades de vitamina D numa dose única. Eles davam essa dose para a criança passar o inverno inteiro sem deficiência de vitamina D, com a pele saturada e liberando gradativamente na circulação sanguínea. A partir de 2010 vários estudos foram publicados mostrando que um adulto passaria de 17 pra 77 com essa dosagem. E ao longo de um mês inteiro, a gordura debaixo da pele iria liberando até atingir 62 no sangue, ainda entre o limite inferior e superior preconizado pela Endocrine Society dos EUA”, afirmou, em entrevista ao Repórter Saúde, do jornalista Fernando Beteti.

“Nós estamos repetindo o que aconteceu no século passado. A partir da década de 1980, começamos a repetir o que nos ocorreu no início do século [XX]”, conta, citando a menor exposição ao sol devido aos hábitos modernos: migração do campo para a cidade; substituição dos passeios nos parques pelos shoppings; vida e trabalho em ambientes confinados; e locomoção por ônibus, carro e metrô ao invés de caminhadas.

“O sistema imunológico é completamente dependente de níveis adequados de vitamina D. É o regulador por excelência do sistema imunológico. Sem ela, o sistema ataca o organismo, produzindo doenças autoimunes. Por isso estamos vendo essa sequência cada vez mais frequente de epidemias, culminando com esse terceiro coronavírus”, explana o Dr. Coimbra.

Em um estudo realizado no final de abril, cita o médico, foram analisadas 780 pessoas que contraíram a Covid-19 na Indonésia e foram separadas pessoas com 60 anos de idade e analisados os níveis de vitamina D nelas. “Quem estava com essa média atual, de 16 a 17 ng/mL, bem menor do que a Endocrin Society dos EUA recomenda, de 40 a 100, todas morreram. Entre os que tinham 21 ng/mL, 90% morreram. Com mais de 34 ng/mL, a mortalidade foi zero”, relatou.

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