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Conteúdo, remoto ou presencial, deve ser retomado após a vacina, defende pesquisador

Douglas Ferrari busca soluções criativas para manter vínculo escola-família em pesquisa sobre educação especial

As aulas letivas presenciais só devem ser retomadas com a popularização da vacina e as aulas remotas obrigatórias não devem acontecer. Essa é a síntese do pensamento do professor do Centro de Educação da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e especialista em Educação Especial, Douglas Ferrari, sobre as principais decisões a serem tomadas pelo governos estadual e municipais com relação à educação capixaba durante a pandemia de Covid-19. 

“Penso o que qualquer pessoa sensata pensa: primeiro, este ano não volta; segundo, só volta quando tiver a vacina; terceiro, ou volta todo mundo ou não volta ninguém”, diz, referindo-se, no último ponto, à educação de pessoas com deficiência. 


O parecer nº 11 do Conselho Nacional de Educação (CNE), de nove de julho, estabelece que “os estudantes de Educação Especial devem ser privados de interações presenciais”, elencando, para cada público específico, os riscos que as aulas presenciais apresentam, como a impossibilidade de leitura labial pelos surdos devido ao uso da máscara, a necessidade de contato físico com outras pessoas e objetos de apoio na locomoção pelos cegos, e assim sucessivamente, para oito categorias de deficiência, incluindo as intelectuais.

“Esse parecer não pode ser homologado. Isso é segregar as pessoas com deficiência, é joga-las no penhasco”, exorta. “A palavra de ordem é: ‘ou volta todo mundo ou não volta ninguém'”, repete, reafirmando que ninguém deve voltar antes da vacina estar disponibilizada para todos.

Pesquisa nacional
Em busca de outras soluções, Douglas representa a Ufes e o Espírito Santo numa pesquisa de âmbito nacional, realizada em parceria com a Universidade Federal do ABC (UFABC), a Fundação Carlos Chagas (FCC) e a Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE-USP).

Intitulada Inclusão Escolar em Tempos de Pandemia, a pesquisa consiste na segunda etapa de uma pesquisa maior, também nacional, cujos resultados objetivam oferecer subsídios para a implementação de políticas públicas visando ao aperfeiçoamento da educação especial.

Nessa segunda etapa, estão sendo levantadas informações sobre as estratégias adotadas nas escolas para assegurar o direito à educação para pessoas com deficiência durante a pandemia.

O questionário online pode ser preenchido até o próximo dia 20 por professores de todas as áreas do conhecimento. “Está difícil a parceria, o trabalho colaborativo entre o professor da sala comum e o da educação especial. Manter essa tríade aluno, professor comum e de educação especial”, expõe Douglas Ferrari, lembrando que, no Brasil, são mais de 1,25 milhão de estudantes público-alvo da educação especial, sendo que 87,1% estudam em salas comuns.

Um ano de planejamento

Em paralelo ao levantamento de informações nacionais e estaduais, Douglas Ferrari dedica-se a elaborar o que deve ser feito, em termos de políticas públicas, no agora. “O que precisamos é planejar o retorno”, conclama, tendo julho de 2021 como horizonte razoável de retomada das aulas letivas, data em que se estima haver a popularização da vacina. “Temos um ano para planejar a reforma das escolas, a organização dos horários, o atendimento aos grupos de risco, incluindo as pessoas com deficiência, o atendimento socioemocional, os protocolos locais de retorno, em cada escola. Isso é pra começar a fazer agora”, elenca.

Até lá, o vínculo entre a escola e a família precisa ser mantido, defende o educador, mas a partir de outras ações. “Não pode suspender o ano letivo”, afirma, sugerindo que a única solução é fazer o ano letivo de 2020 adentrar o ano cívico de 2021. “Tem todo um trabalho que poderia ser feito que não envolve a mediação pedagógica, que poderia ser oferecido às famílias. Coisa simples, como informações sobre prevenção ao coronavírus. Manter conteúdo desconsiderando a pandemia é uma violência”, pondera.

O distanciamento social, aduz, poderia ser “a grande oportunidade para a escola se reinventar e ser menos conteudista”, propõe, enfatizando a necessidade da articulação intersetorial, envolvendo as gestões de saúde, transportes, serviços urbanos, direitos humanos. “Deveria ter salas de risco ou comitês de crise dentro de cada escola, com a participação das famílias e professores, para refletirem a realidade local”, sugere. “Já temos um acúmulo [de conhecimento e práticas] nessa área de atendimento intersetorial, que poderia ser muito útil pra todos nesse momento”, oferece.

Mediação do professor

A família, reconhece, “é pouco chamada na escola”. “A família é chamada pra receber uma reclamação do seu filho ou pra ajudar em alguma atividade de brincadeira, de festa, agora para o trabalho pedagógico, a parceria, não”, descreve. O problema, enfatiza, é que “não dá fazer educação sem a participação da família. Especialmente na pandemia”.

Ao ouvir as famílias, principalmente nesse momento, afirma Douglas, os gestores poderiam entender que as aulas remotas são a pior forma de tentar manter o vínculo escola-família. “A família não foi formada para isso”, afirma.

Essa “substituição da mediação do professor”, salienta, é o problema mais grave. Os outros – falta de tecnologia para as famílias mais pobres e falta de acessibilidade para as pessoas com deficiência nos materiais didáticos disponibilizados pelas secretarias de educação – “são resolvíveis”.

“Não existe escola sem mediação do professor e não existe educação que não seja coletiva. Não dá para desconsiderar a acessibilidade e o recurso tecnológico como problemas também, mas a mediação do professor compõe o fundamento da escola, da educação”, explana.

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