sexta-feira, novembro 22, 2024
24.9 C
Vitória
sexta-feira, novembro 22, 2024
sexta-feira, novembro 22, 2024

Leia Também:

Centro Operário: uma entidade centenária dos trabalhadores

Documentário registra história da associação fundada em 1907 em Cachoeiro, que teve sede inundada nas enchentes deste ano

Casa que atualmente sedia o Centro Operário, no Centro de Cachoeiro, e foi afetada pela enchente em 2020. Foto: Arquivo/Copm

O Centro Operário e Ajuda Mútua (Copm) em Cachoeiro de Itapemirim é uma instituição que persiste no tempo. Surgida em 1907 ainda faz parte da cena política e cultural da cidade, mas agora enfrenta um de seus maiores desafios. As chuvas no final de janeiro de 2020 inundaram sua sede, localizada no antigo trapiche próximo ao Rio Itapemirim. A água chegou a subir mais de dois metros, destruindo quase todos documentos e mobília, embora sem afetar a estrutura e parte externa. Antes que pudesse se reconstituir, veio a pandemia, paralisando de vez as atividades. Um projeto, porém, pode registrar e salvar parte dessa memória, com a produção de um documentário e uma revista sobre a história do local.

O documentário “Proteção Mútua”, de 30 minutos, foi produzido pelo Cineclube Jece Valadão, que iniciou suas atividades em 2013 dentro do Centro Operário. No sábado, o cineclube realiza um debate sobre o filme e a entidade com presença de José Paineiras, que foi presidente do Copm de 2010 a 2018. A obra foi disponibilizada previamente na internet no canal do cineclube no YouTube.

A história da organização centenária remete à luta dos operários no início do século, ainda antes da organização dos sindicatos que vão se consolidar e oficializar a partir da década de 30. As sociedades de auxílio mútuo surgiram em vários lugares do país com intuito de ajudar os trabalhadores em momentos difíceis, criando fundos a partir de contribuições dos associados.

Em Cachoeiro, o estopim para a organização do Coam foi um episódio de maus tratos de um policial contra um operário da antiga estrada de ferro, que revoltou os trabalhadores e os levou a buscar estratégias de organização. “Cachoeiro era uma cidade que crescia muito por causa do entreposto de mercadorias que vinham de navio até o porto de Barra do Itapemirim [hoje Marataízes] e eram trazidas para o interior do Espírito Santo e Minas Gerais pela navegação dos vapores”, conta Paineiras sobre a época de criação da organização para prestar apoio aos trabalhadores.

Ele explica que o Centro Operário nunca foi partidário, incluindo pessoas de diferentes tendências políticas e ideológicas, chegando a ter diretorias que incluíam desde integralistas a comunistas. O imóvel histórico no Centro da cidade, onde está localizado o Centro Operário foi comprado e doado com ajuda de Francisco Carvalho Braga, que foi o primeiro prefeito de Cachoeiro e era pai dos jornalistas e escritores Newton e Rubem Braga, que ganharam fama em todo Brasil.

O ator Jece Valadão (ao centro) recebe título de Cachoeirense Ausente, em 1971. Foto: Arquivo/Copm

Hoje o Centro Operário e de Proteção Mútua tem cerca de 200 sócios em situação regular, que fazem sua contribuição que soma R$ 110 por ano. Uma das tradições da entidade é o pagamento de pecúlio por morte, liberando imediatamente e em dinheiro R$ 1,1 mil reais para a família de associados que vêm a falecer. Outros benefícios são descontos em uma série de empresas conveniadas e de planos de saúde.

As reuniões dos associados aconteciam mensalmente mas foram paralisadas com a enchente seguida da pandemia. A sede do Centro Operário é um lugar tradicional de diversas atividades, como a reunião de vários sindicatos locais e de partidos de diversas visões ideológicas. Lá é realizada a tradicional cerimônia de entrega de título anual de Cachoeirense Ausente e também a de Cachoeirense Presente, que este ano foi entregue a José Paineiras, que por conta da enchente não pode receber a homenagem na sede a organização da qual é sócio. Também funciona desde 2013 em parte do imóvel o Centro Cultural Nelson Sylvan, onde atuam grupos culturais locais.

Outras entidades como o Alcoólicos Anônimos (AA) se reuniam semanalmente no local há mais de 40 anos. A biblioteca tinha cerca de 2 mil volumes de obras, algumas datadas do início do século, mas o acervo foi destruídos pelas chuvas.

Registro de associados do Copm feito antes da enchente de 2020. Foto: Cineclube Jece Valadão

O documentário Proteção Mútua – Uma História do Centro Operário e de Proteção Mútua foi idealizado por Beto Souza e dirigido por Lucas Schuina, com produção coletiva do Cineclube Jece Valadão e apoio da Lei Rubem Braga, que promove o fomento à arte e cultura no município. Será discutido no sábado a partir das 18h pelo Google Meet, num debate que também vai incluir reflexão sobre o filme “Eles não usam black-tie”, clássico do cinema brasileiro.

A revista sobre o Copm será lançada em breve e divulgada no site do Cineclube Jece Valadão.

Mais Lidas