Baixo Guandu, Santa Teresa, Vitória, Viana, Serra, Venda Nova do Imigrante, Pancas, Domingos Martins, Itaguaçu, Marilândia e Linhares são alguns dos municípios que tiveram melhores resultados no controle da pandemia de Covid-19 por investirem em atenção básica, como destacou o secretário de Estado de Saúde, Nésio Fernandes, em coletiva de imprensa nesta segunda-feira (20), ao lado do subsecretário de Vigilância em Saúde, Luiz Carlos Reblin.
Vitória, especialmente, informou o gestor, saltou a cobertura de Estratégia de Saúde da Família de 63% para 78% durante a pandemia e de 78% para quase 100% da atenção básica de modo geral. Viana também atingiu universalização, da saúde da família, no mesmo período.
“Nós adotamos um conjunto grande de diretrizes para reorganizar a atenção primária em saúde, que tem cumprido papel importante no diagnóstico dos casos, no monitoramento nos territórios e na avaliação e notificação”, afirmou Nésio. “A atenção básica com estrutura e organizada é capaz de evitar um pico muito alto na curva de casos. Ela não impede transmissão, mas rompe a cadeia, podendo fazer um pico menor e uma fase de recuperação com menos casos e mais rápida, como ocorre em Vitória”, explicou.
O secretário citou ainda, como fatores de proteção da população à pandemia, os investimentos feitos pelo governo do Estado em Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) e Pronto-Atendimentos (PAs), onde o tempo de espera, em geral, foi reduzido, e a criação de um sistema de vigilância em Saúde de alta tecnologia, o e-SUS VS, que permitiu “um grau de transparência nos dados sobre a Covid-19 que não seria possível no modelo tradicional”.
A Recomendação da DPES leva em consideração as notícias de aumento de contaminados pelo coronavírus nas comunidades e também o dossiê divulgado pelo Núcleo do BR Cidades no Espírito Santo, que contém relatos dos moradores sobre a ausência de médicos, aglomeração e falta de medicamentos nas Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e unidades básicas de saúde, além da falta de acesso à atendimentos de saúde por telefone ou internet.
8ª maior mortalidade
Apesar das melhoras pontuais da atenção básica e da saúde da família em alguns municípios e da reestruturação providenciada pelo governo do Estado em 2019,
o Espírito Santo é um dos estados com maior mortalidade para Covid-19, segundo o último estudo comparativo da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), com dados da Semana Epidemiológica 27 (28 de junho a 4 de julho). No período, o Estado tem a oitava maior mortalidade, com 44,3 óbitos pela doença para cada 100 mil habitantes, atrás apenas do Amazonas (70,4), Amapá (52,1), Pará (58,9), Roraima (60,1), Ceará (70,2), Pernambuco (53,5), Rio de Janeiro (61,5), e ao lado do Acre, com a mesma taxa capixaba.
“Os estados que tiveram melhor desempenho [em mortalidade pela Covid-19 até o momento] são os que possuem sistema de saúde mais organizado e a atenção primária é forte, como Mato Grosso do Sul e Santa Catarina, onde há formação de profissionais, residência médica nessa área”, explicou o médico de família Daniel Soranz, professor e pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz e diretor de pesquisa da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC).
Problema de saúde pública com volta às aulas
Durante a coletiva, Nésio Fernandes disse que o retorno às aulas presenciais pode se transformar um “verdadeiro problema de saúde pública”, especialmente nos municípios menores, onde a prevalência – percentual da população que já teve contato com o novo coronavírus – estiver inferior a 4%.
A proibição de eventos, redução do uso do transporte coletivo e suspensão das aulas presenciais, ressaltou o secretário, “tiveram papel determinante na ruptura da cadeia de transmissão e na velocidade de transmissão da Covid-19”.
“As escolas em municípios pequenos que não possuem transporte coletivo podem consistir-se num elemento, num cluster de transmissão da doença com capacidade de transmissão rápida em todo o território do seu município, mesmo em municípios pequenos (…), em especial nos municípios que possuem baixa prevalência da doença, de 2% a 4%. Esses municípios pequenos podem ter com essa atividade um verdadeiro problema de saúde pública se o retorno das aulas não for acompanhado de um momento seguro para essas atividades”, alertou. “É necessário cautela e prudência na decisão de quando e como retornar as aulas com uma doença que não tem possui vacina nem tratamento especifico”, pediu.
“Por enquanto, a recomendação é para que todos os atores do segmento de ensino reforcem as suas capacidades de estabelecer e incorporar tecnologias de ensino à distância, de aperfeiçoar seus métodos pedagógicos, porque é possível que a situação tenha que se prolongar um pouco mais de tempo”, opinou, contrariando, no entanto, o entendimento pedagógico de vários especialistas em educação básica, como o vice-coordenador do Laboratório de Gestão em Educação Básica da Universidade Federal do Espírito Santo (Laegebes/Ufes), Itamar Mendes da Silva, e diretor estadual da Associação Nacional de Política e Administração da Educação (Anpae).
A obrigatoriedade do ensino remoto, ratifica o educador, “vai ampliar a desigualdade educacional” que já existe em tempos comuns entre as populações de periferia que “têm menos acesso àquilo que tem sido prometido como mudança de vida e melhoria, que é a educação”.
“Existem comunidades em que não se manda as tarefas para casa, porque as famílias não têm condições de acompanhar”, seja pela coabitação de muitos familiares em lares de poucos cômodos, seja porque os adultos trabalham longe, “saindo de madrugada e voltando à noite pra casa”, descreve. “Qual é a condição de acompanhar os estudos das crianças ou pré-adolescentes e adolescentes?”, inquire.
Mais isolamento social
Nésio Fernandes pediu ainda que prefeitos, federações, instituições econômicas e da sociedade civil “adotem medidas complementares às estabelecidas em seus municípios, medidas protetoras da sociedade”. O isolamento social, salientou, “é um componente da matriz de risco. Se o isolamento diminuir, o risco do município pode aumentar”.
Igrejas
Sobre a abertura das igrejas, o secretário afirmou que a aprovação da lei que classifica as igrejas como serviço essencial não modifica a nota técnica da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) que não recomenda a realização de cultos presenciais em cidades com risco moderado e alto.
“Todo o sistema de saúde reconhece a espiritualidade como fator protetor da vida das pessoas e uma característica positiva das sociedades [mas] não é adequado nesse momento [permitir os cultos presenciais nessas cidades]. Nunca foi proibido, mas as autoridades sanitárias não recomendam”, explicou, lembrando que nos municípios de risco baixo é permitida a realização, desde que respeitada a distância de pelo menos dois metros entre os fiéis.
Migração de leitos hospitalares
Sobre a estratégia de expansão do número de leitos hospitalares para atendimento da pandemia, Nésio Fernandes disse que o Estado não pretende mais contratar leitos da iniciativa privada, mas manterá a expansão prevista para a rede própria. E que, consolidada a queda da ocupação hospitalar, será possível migrar parte dos leitos hoje dedicados exclusivamente à Covid para pacientes com outras condições de saúde.
“É possível que no mês de agosto tenhamos o início da migração, de acordo com o perfil de cada hospital, para atender não somente Covid, mas também outras doenças. Vamos seguir acompanhando toda a evolução da pandemia, porque caso exista uma ruptura da fase de recuperação e retorno a uma nova fase de aceleração, uma segunda onda, nós estaremos preparados pra garantir o acesso da população infectada”, disse.