Vinte e quatro padres e um diácono permanente do Espírito Santo assinaram um documento em apoio e adesão aos bispos signatários da Carta ao Povo de Deus, que faz críticas ao Governo Bolsonaro (sem partido), divulgada na imprensa nacional no ultimo domingo (26). O documento, assinado por 1.058 pessoas, entre padres que atuam no Brasil e no exterior, religiosos e diáconos, está aberto a mais adesões, como afirma o padre Romário Hastenreiter, da Diocese de São Mateus, norte do Espírito Santo, que integra o grupo.
Os signatários do documento, divulgado nesta quinta-feira (30), apontam identificação com a Carta ao Povo de Deus. “Afirmamos que ela representa nossos pensamentos e sentimentos. Consideramos um documento profético de uma parcela significativa dos bispos da Igreja Católica no Brasil”, diz o documento. Segundo padre Romário, a iniciativa se deu por não ser possível apoiar um governo “hipócrita, mentiroso, e de descaso com a vida”.
“Não tem como alinhar as ações desse governo com as escrituras e a Doutrina Social da Igreja”, destaca padre Romário. Ele questiona o fato de, no Espírito Santo, somente o arcebispo de Vitória, Dom Frei Dario Campos; e o arcebispo emérito de Vitória, Dom Luiz Mancilha Vilela; terem assinado a Carta ao Povo de Deus, que não contou com a adesão do bispo da Diocese de São Mateus, Dom Paulo Bosi Dal’Bó; e do bispo da Diocese de Colatina, Dom Joaquim Wladimir Lopes. A Diocese de Cachoeiro de Itapemirim está vacante, sendo administrada pelo padre Walter Luiz Barbiero Milaneze Altoé.
“Aqui no Espírito Santo, tido como avançado nas comunidades de base, chama a atenção apenas dois bispos terem assinado a carta. É medo? Mas medo de quê? De desagradar? Os conservadores não têm pudor de dizer o que querem, de falar o que querem, a gente não tem que ter medo”, enfatiza.
Segundo o documento assinado pelos padres, a Carta ao Povo de Deus “é uma leitura lúcida e corajosa da realidade atual à luz da fé”. Eles afirmam se sentir interpelados a dar a “palavra de presbíteros comprometidos no seguimento de Nosso Senhor Jesus Cristo”, com base no Evangelho.
“Cada vez mais vemos a vida do povo sendo ameaçada e seus sofrimentos, principalmente dos pobres, vulneráveis e minorias. Tal realidade faz com que nossos corações ardam, nossos braços lutem e nossa voz grite pelas mudanças necessárias. Como recordam os bispos, nós não somos motivados por ‘interesses político-partidários, econômicos, ideológicos ou de qualquer outra natureza’. Nosso único interesse é o Reino de Deus”.
Os padres destacam que “os que nos governam têm o dever de agir em favor de toda a população, de maneira especial, os mais pobres”, entretanto, ressaltam que não é isso que o atual governo tem feito” e se dizem indignados com as ações de Bolsonaro em desfavor da vida humana, da “Mãe Terra” e da soberania nacional.
“Reafirmamos nosso compromisso na defesa e no cuidado com a vida. Ao convite dos bispos queremos dar nosso sim! Queremos nos empenhar para cuidar deste país enfermo!”, dizem.
Os padres finalizam a carta conclamando “todos os cristãos e cristãs, as igrejas e comunidades, e todas as pessoas de boa vontade para que renovem, junto com os bispos, a opção pelo Evangelho e pela promoção da vida, espalhando as sementes do Reino de Deus”.
Da Arquidiocese de Vitória, os padres que assinaram o documento foram Roberson de Castro Cunha, Anderson Teixeira e Cícero Machado Ribeiro; da Diocese de São Mateus foram Romário Hastenreiter, Erasmo Marques de Brito, Gilday Soares dos Santos, Jader Jesus Silva, Jonas Nunes Coutinho e José Martins Ferreira; da Diocese de Cachoeiro foram Roberto José Gonçalves, Rogério de Almeida Cunha, Rogério Santos Bebber, Wagner Paulo Pereira Doriguetti, Fábio Eduardo de Lima Santos, Giovanni Geraldo Quites, Layfierigson da Conceição e Paulo Finkler; da Diocese de Colatina, Malvino Xavier da Silva e Paulo César da Silva. Os padres Aldomarcio Margoto Dal Bo, da congregação Jesuíta; Eraldo Furtado de Oliveira, Passionista; e Helcio Nunes, Verbo Divino; também assinaram, assim como o diácono permanente Sérgio Ricardo Secchin Ribeiro, de Cachoeiro; o padre Reuber Côgo Daltio, do instituto de vida apostólica Socivida Apostólica Milícia de Cristo; e do padre Rinaldo da Silva, que é do Espírito Santo, mas atua na Arquidiocese de Granada, na Espanha.