Um fluxograma de vigilância territorial para tuberculose aplicado no Brasil desde 2016 pode ser adaptado para Covid-19. A sugestão é feita no artigo científico Vigilância em saúde da Covid-19 no Brasil: investigação de contatos pela atenção primária em saúde como estratégia de proteção comunitária, publicado por três pesquisadoras da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
Carolina Sales, Adriana Ilha e Ethel Maciel propõem, semelhante ao que foi elaborado para tuberculose no Brasil e o que foi feito com sucesso em países como Alemanha, Singapura e Vietnã com Covid-19, que seja feito o monitoramento de um território com dois mil metros de raio ao redor do paciente testado positivamente para Covid-19, a partir de testagem de todos os contatos daquela pessoa que apresentem sintomas gripais (SG) – quadro respiratório agudo, caracterizado por sensação febril ou febre, acompanhada de tosse, dor de garganta, coriza ou dificuldade respiratória – e do isolamento que testarem positivo.
No caso de pessoas com comorbidades, devem ser encaminhadas para unidade de referência e pronto-atendimento o quanto antes, para evitar futuras complicações. E no caso das pessoas mais vulneráveis, sem condições de isolamento, devem ser acionados os equipamentos públicos de assistência, conforme recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), enfatiza Ethel Maciel, consultora da Organização Mundial de Saúde (OMS) e coautora, junto com Carolina, do fluxograma de vigilância para controle da tuberculose.
Além da testagem dos contatos e isolamento precoce dos positivos, as autoras enfatizam a importância da educação em saúde, que deve ser realizada “com linguagem, informações e orientações acessíveis à população, se tornando altamente necessária para evitar o efeito negativo de mensagens falsas (fake news) que circulam na internet e atingir um maior número de pessoas que, uma vez orientadas, podem tornar-se multiplicadoras da informação de qualidade”.
Investimentos necessários
“Esse contexto torna fundamentais a racionalização dos recursos e a estruturação de fluxos de atenção, que direcionem o acompanhamento dos casos com responsabilidade territorial e priorização do cuidado e do acompanhamento contínuo. Nesse sentido, propõe-se um fluxograma para auxiliar de maneira estratégica a organização da rede de serviços da atenção primária em saúde (APS), de base territorial, ampliando as intervenções, ao colocar o cotidiano da população como ponto central do cuidado em relação à Covid-19”, esmiúçam as pesquisadoras no artigo.
As autoras lembram também que os atendimentos dos casos de Covid-19 estão sendo realizados por médicos e enfermeiros nesse período de pandemia, entretanto, no pós-pandemia, o agente comunitário de saúde, profissional que é o elo entre a unidade de saúde e a comunidade, pode atuar na identificação dos possíveis contatos. A cobertura por agentes comunitários de saúde no Espírito Santo é ainda menor, de apenas 62% da população.
Dessa forma, explicitam, “uma pessoa com Covid-19 põe em movimento a estratégia de controle de contatos, que se baseia na busca de SG [síndrome gripal] em diferentes ambientes sociais, por exemplo, em casa, no trabalho, em abrigos, entre outros. Caso more sozinha, não tenha trabalho fixo ou não pratique atividades de lazer com outras pessoas, não há, especificamente, quem investigar (…) [e] em locais de aglomeração nos quais uma pessoa com diagnóstico de Covid-19 tenha interagido com muitas pessoas, orienta-se que sejam realizadas ações de educação em saúde com os contatos, com o intuito de prevenir maior propagação da doença e alertar para os sintomas”.
No período pós-pandemia, destacam ainda as pesquisadoras, as redes sociais do indivíduo tendem a aumentar, com o retorno ao funcionamento de locais fechados durante a pandemia, como igrejas e escolas. Assim, propõe-se uma estratégia coletiva de educação em saúde, na qual serão informados sinais e sintomas, e orientados os cuidados em saúde, para identificação das necessidades de cada agregado familiar.