Professores, técnicos e estudantes que participaram do protesto cobram posicionamento da Ufes em relação ao fato
Integrantes da comunidade acadêmica protestaram na tarde desta quinta-feira (13), na Reitoria da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), contra o ensino remoto e a forma como o debate sobre sua implantação tem sido conduzido pela Administração Central da instituição de ensino. Ao tentar subir para a sala de reuniões, o diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Sintufes), Welington Pereira, que estava no protesto, foi impedido de forma agressiva por um Policial Militar (PM) que atua no campus. “Ele agiu grotescamente”, afirma o servidor.
Em vídeo que circula nas redes sociais, o PM fala aos gritos frases como “se você passar por cima de mim eu te atropelo aqui” e “você, para mim, é um merda”.
“Me mantive na minha, pois quando um PM com arma na mão diz que vai atropelar, ele está te ameaçando de morte. Ele não está com um carro, está com uma arma”, afirma Welington.
Os manifestantes cobram um posicionamento da Ufes. “Na universidade, por ser um espaço de discussões, não se pode admitir que um PM tome uma atitude descontrolada, descabida”, enfatiza o diretor do Sintufes.
A manifestação ocorreu enquanto acontecia a reunião do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) para decidir sobre a criação e regulamentação do Ensino-Aprendizagem Remoto Temporário e Emergencial (Earte). Embora seja virtual, para evitar aglomerações devido à pandemia do coronavírus, o reitor Paulo Vargas e alguns assessores comparecem à sala onde está a estrutura tecnológica para as reuniões, como explica a presidente da Associação dos Docentes da Ufes (Adufes), Ana Carolina Galvão.
A manifestação foi organizada pela Adufes, Sintufes e Diretório Central dos Estudantes (DCE). Junia aponta que o ensino remoto é excludente e que não adianta a Ufes querer garantir equipamento e sinal de internet para os estudantes.
“As questões são mais amplas. Tem alunos que não têm condições psicológicas de ter as aulas, pois são responsáveis por pessoas com cuidados especiais em casa, muitos perderam a renda durante a pandemia e estão tendo que buscar o trabalho informal, outros são pais e mães de filhos pequenos que não estão podendo ir para a creche”, enumera Junia. Quanto à condução das discussões sobre o Ensino-Aprendizagem Remoto (Earte), a diretora da Adufes afirma que foi um debate “para inglês ver”, pois as resoluções foram enviadas para os centros em período de férias, sem que houvesse um prazo adequado para análise, e as sugestões não foram acatadas, entre outras queixas.
Segundo a Ufes, “foi permitido aos representantes da Adufes, do Sintufes e do DCE o acesso ao térreo do prédio, mas não a subida até o terceiro andar, onde está localizada a Sala da Sessões, cuja estrutura tecnológica é utilizada para a realização das reuniões remotas”. Ainda segundo a universidade, “quanto ao relato de abuso de autoridade, a Superintendência de Infraestrutura afirma que está apurando os fatos para adotar as medidas que se fizerem necessárias”.
O objetivo da manifestação, segundo as mães, foi a defesa da permanência dos estudantes com deficiência na Universidade Federal do Espírito Santo. “Que nenhum dos nossos seja deixado para trás!”, conclamaram. “Muitos desses estudantes sequer têm apoio e recursos tecnológicos em casa para acessar às aulas virtuais e, mesmo com recursos tecnológicos, muitos não conseguirão acessar as aulas, devido às várias dificuldades enfrentadas neste período de pandemia, já pré-existentes, porém acirradas e potencializadas na crise imposta pela Covid-19”, argumentam.
O Earte, afirmam, tem tramitado dentro da Universidade “sem diálogo com os estudantes com deficiência e também com este coletivo”. A proposta dos manifestantes foi que o Ensino-Aprendizagem Remoto fosse cancelado e que “o semestre letivo seja retomado apenas quando a crise pandêmica passar”.