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​O avanço do eucalipto

A expansão do deserto verde da Suzano (ex-Fibria e Aracruz Celulose) no norte do Estado mantém  a vida em permanente sobressalto

As investidas da poderosa empresa Suzano no norte do Espírito Santo usam mecanismos jurídicos para continuar a expansão do deserto verde, com a afirmativa ilusória e distorcida de que “o futuro sempre esteve no nosso presente. Plantamos uma semente, que cresceu e floresceu. Suzano e Fibria, duas histórias, um único objetivo: uma empresa comprometida com as pessoas, a natureza e o planeta”, como está na abertura do portal da empresa inserida em redes sociais. 

A realidade, no entanto, é completamente antagônica e lembra o livro Cem Anos de Solidão, a obra genial do colombiano Gabriel Garcia Marques, na qual o escritor relata na vila de Macondo, como ficção, mas com base em fatos ocorridos em 1928, a barbárie cometida pela norte-americana United Fruit, na Guatemala. Em nome do progresso e do desenvolvimento, a empresa destruía o meio ambiente e massacrava trabalhadores, literalmente, no episódio que ficou conhecido como o Massacre das Bananeiras.

Guardadas as devidas proporções, no norte do Estado há inúmeros registros de violações de direitos, conflitos de invasores oficiais da então Aracruz Celulose, depois Fíbria e atualmente Suzano, nas terras secularmente pertencentes a povos indígenas, quilombolas e pequenos posseiros, com o beneplácito dos governos federal, estadual e municipal.

Em troca de favores e da ilusória geração de emprego e renda, entre outros chavões ainda hoje utilizados por um modelo de desenvolvimento ultrapassado e que não leva em conta o meio ambiente e a vida animal e humana, a Suzano ergueu império econômico e plantou um deserto verde, extremamente nocivo do ponto de vista social, de valorização à vida.

Assim ocorre em Conceição da Barra, onde o plantio de eucalipto pode alcançar 48% do território do município e, não satisfeita, a empresa ainda pretende ampliar a área de monocultura, que emprega agrotóxico em larga escala, explora os recursos hídricos à exaustão, e causa impactos sociais, ambientais e econômicos há décadas.

A Prefeitura, contrária ao projeto, como demonstrou em audiência pública realizada de forma online pelo Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf) na noite dessa quinta-feira (13), e, por isso, persona non grata, sequer foi convidada oficialmente para participar do evento. Seu secretário de Desenvolvimento Econômico, Saneamento, Habitação e Meio Ambiente, André Fantin, teve apenas cinco minutos para se manifestar, assim como todos outros inscritos. É sempre assim, pano rápido nessas antessalas de um cenário cruel de destruição.

O crescimento do deserto verde prossegue em sentido oposto ao que foi deixado para trás, a aridez das perdas presente no dia a dia de famílias desamparadas e, como em Macondo, poucos são os que ainda lembram as crueldades, as benesses do governo e os mecanismos jurídicos que encobrem memórias, o que faz tudo isso parecer um sonho, cheio de progresso e bem-estar.

Para a maioria, no entanto, a realidade é pesadelo e demonstra que Macondo também é aqui, e não só pelo que ocorre no norte do Espírito Santo, mas em vários outras regiões onde o poder econômico promove destruição e, por meio de artifícios dos mais diversos, mantém a vida em permanente sobressalto, dentro da “legitimação” fria das leis.

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