Grupos contrários ao aborto, fanáticos religiosos, como os de igrejas católicas e evangélicas, e políticos chegaram a tentar invadir o local, sendo impedidos pelos seguranças e por grupos favoráveis à interrupção da gravidez, entre eles, o Fórum de Mulheres de Pernambuco. A vítima e a avó precisaram se esconder no porta-malas de um carro para entrar no hospital.
O senador fez uma representação ao Ministério Público do Espírito Santo (MPES), solicitando investigação de Sara Giromini, quanto ao acesso ilegal e divulgação dos dados da criança. O senador pediu que “medidas legais sejam devidamente tomadas, em razão de flagrante violação de dispositivos legais. Os dados da menina violentada estavam em procedimento amparado por segredo de justiça, a fim de preservar sua intimidade, mas Sara expôs, por meio de vídeo nas redes sociais, os dados da criança e o endereço do hospital onde o procedimento de aborto legal seria realizado”.
Nesta terça-feira (18), em sessão plenária do Senado Federal, o senador apresentou um voto de solidariedade a todas as crianças vítimas de violência sexual. O documento convoca os parlamentares a aprovar soluções para esse grave problema e informa que, a cada hora, quatro meninas de até 13 anos são estupradas no Brasil, conforme o Anuário de Segurança Pública de 2019. “Nós nos solidarizamos a todas as vítimas de violência sexual, especialmente as crianças, que precisam de todo o amparo do Estado. Enquanto parlamentares, precisamos pensar juntos nas soluções para esse grave problema. É o que propomos com o presente voto de solidariedade”, frisou o senador.
Já a deputada estadual Iriny Lopes encaminhou ofícios para o Supremo Tribunal Federal (STF), Procuradoria Geral da República (PGR), Ministério Público Federal/Procuradoria da República de São Mateus e o governador Renato Casagrande (PSB). Ela requer ao governo do Estado abertura de procedimento para investigar o vazamento de dados do caso entre a equipe que estava sob a jurisdição do poder público estadual, além de requerer ao MPF que apure as responsabilidades da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, e de sua equipe no vazamento dessas informações e na pressão sobre a criança e seus familiares contra a interrupção da gravidez.
Nos documentos, a deputada destaca que, mesmo com informações sobre o procedimento estando em sigilo para cumprir decisão judicial, “nos surpreendemos com a divulgação de um vídeo, feito pela militante de extrema-direita, Sara Fernanda Giromini, mais conhecida como Sara Winter, líder do grupo ‘300 do Brasil’, expondo o nome da criança, o hospital onde estava abrigada para realização do procedimento médico e convocando sua rede de fundamentalistas religiosos a se manifestarem contra a decisão judicial”.
A deputada relata que isso fez com que fundamentalistas religiosos fossem para a porta do hospital, em Pernambuco, para tentar impedir a interrupção da gravidez. “Dentre os manifestantes incluiu-se vereadores, deputadas e deputados estaduais e federais ligados aos grupos fascistas, que pregam o retorno da ditadura militar, o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal, e apoiam um golpe, tendo Jair Bolsonaro como líder. Feministas e defensores dos direitos da infância também se deslocaram para o local para tentar proteger a vítima dos ataques”, ressalta.
Iriny aponta, ainda, que Sara Giromini e integrantes da extrema direita “são investigados pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes, por incentivarem atos inconstitucionais, e que foram soltos após prisão temporária, mediante determinação de não se aproximarem das instituições alvos de ataques e não usarem as redes sociais”
Diante disso, conclui Iriny, Sara Winter descumpriu a decisão do ministro. “Seu vídeo, postado inicialmente no YouTube, foi para o seu Instagram e outras redes, uma forma lamentável de mobilização contra uma criança. É preciso ainda lembrar que Sara Winter é pessoa muito próxima da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, tendo sido a coordenadora de políticas à maternidade no referido ministério, entre abril e novembro de 2019”.
Iriny recorda que antes da menina embarcar para Pernambuco, uma equipe da Damares esteve na cidade. “Curiosamente, a família da menina foi procurada por um grupo religioso, que tentou dissuadir os familiares de realizarem os procedimentos médicos. É preciso identificar onde essas pessoas conseguiram o endereço dos familiares e suas relações com a ministra e sua equipe”, cobrou.